CAPÍTULO 7 – TORTURA
Tudo o que ele queria era morrer. Havia cometido o maior de todos os erros: fora capturado. Ele sabia que sua namorada iria atrás dele, mas não queria que ela perdesse tempo. Entretanto, ela era a única coisa que mantinha sua vontade de viver. Baltar havia perdido a noção do tempo. Todo o tratamento que recebeu desde que mudaram de local tinha desnorteado o espião número um. Dois homens amarraram seus braços para cima, retiraram sua camisa e começaram o processo. Seguindo as instruções do doutor, os capangas fizeram cortes, furos e ferimentos em todas as partes não vitais do corpo.
― Diga-me, Sr. Baltar, usa
muito o seu dedo mindinho? – Morte perguntou após duas horas de tortura.
O espião não teve forças para
responder, mas soube o que viria a seguir. Sem soltar seus braços, os dois
bandidos que auxiliavam o ex-médico usaram um instrumento hospitalar para
cortar um dedo de cada mão de Baltar. Não fosse a proteção sonora feita pelos
criminosos no interior da casa, o grito que o espião deu depois de perder os
dedos teria sido ouvido por todo o quarteirão. O refém sentiu o sangue escorrer
pelos dois braços e o tronco.
― Já está bom por hoje. – o doutor disse e os homens soltaram o espião que ficou caído no chão. – Daqui a pouco você irá desmaiar, mas não se preocupe, não deixarei você morrer ainda.
Sem Baltar se dar conta,
passou-se uma semana desde sua captura e nesse tempo, ele levou surras diárias.
A cada dia, Doutor Morte o perfurava em um lugar diferente, cada um lhe causava
uma dor excruciante que o fazia urrar. No sétimo dia, a conversa que ouviu foi
reveladora.
― Já estamos prontos para a
próxima fase, doutor. – Benck disse.
― É verdade? Achei que
demoraria mais. – Morte admitiu.
― Com o novo aumento dos
serviços do hospital, conseguimos rapidamente. – o pirata contou. – Foi uma boa
o senhor ter colocado alguém no poder assim que fomos presos. Ninguém nunca
suspeitou de nada.
― Essa era a ideia, meu caro
Benck. Peça para Dorigan avisar os cabeças das principais gangues conforme
planejamos. Diga que já temos o dinheiro em mãos, que já podem seguir em
frente. – o ex-médico disse.
Passaram-se mais algumas horas até Baltar ouvir vozes novamente, mas então o assunto se voltou para ele. Seu olho esquerdo já estava melhor e ele conseguiu abrir quando o espião foi puxado pelos dois homens de sempre e levado a uma cadeira em frente ao doutor.
― Acho que vai gostar de saber
que nosso joguinho de gato e rato acaba hoje. – Morte disse enquanto seu refém
era amarrado ao móvel. – Meu grande amigo Benck conseguiu finalmente descobrir
seu segredo. – Baltar manteve sua expressão inalterada. – Espião. – o refém
arregalou os olhos.
― Como? – ele conseguiu falar.
― Não foi fácil. – o pirata de
computador começou a falar. – Havia muita segurança no seu celular e em todas
as suas contas. Tive que cavar bem fundo para encontrar uma brecha. Quando
achei, tive trabalho duplo para chegar até a... Como é mesmo? – ele parou e
olhou na tela do PC. – AgEsp.
― Veja, eu não te mantive vivo
porque sou bonzinho ou piedoso. – o ex-médico disse. – Eu sabia que você era
mais do que aparentava. O que farei agora é uma oferta única para que não
desperdice sua vida. Junte-se a mim em meu caos urbano. – Morte ofereceu e
recebeu um olhar frio como resposta. – Foi o que pensei. Então, agora você vai
morrer. – os homens ao seu lado sacaram suas armas. – Pensando melhor... – o
doutor disse e levantou a mão. – Benck, passe o endereço da tal agência para a equipe
explosiva e mande-os para lá. Veja em quanto tempo, eles conseguem.
Pela primeira vez em sete dias,
Baltar sentiu medo, não por si, mas por seus amigos e colegas da AgEsp.
― Ouviu isso, espião? – Morte
tirou seu refém do transe. – Você e seus amiguinhos terão quatro horas de vida.
Benck vai fazer com que todos os que não estão lá agora, se dirijam
urgentemente para lá. Enquanto isso, meus outros associados irão implantar
bombas muito poderosas por todo o prédio e você vai ter uma aqui também. As
duas vão detonar no mesmo segundo. Não se preocupe. – o ex-médico disse e pegou
sua maleta. – Adeus, espião. – disse e saiu com seus capangas.
Uma raiva e determinação tomou
conta do corpo de Baltar, mas ele ainda estava muito fraco. Decidiu não gritar
para não gastar energia. Tentou todas as técnicas que conhecia para se livrar
dos nós que o prendiam. Em uma tentativa frustrada, acabou caindo de lado com a
cadeira e ainda estava preso. Ao perceber que mais nada poderia fazer por seus
amigos, as lágrimas começaram a cair pelos seus olhos e a dor que sentia por
todo o seu corpo não se comparava à que sentia no momento.
O furgão parou a uma quadra de
seu destino. Um silêncio de expectativa encheu o veículo. Em seguida, a porta
traseira foi aberta e todos olharam para ver o motivo. Pouco tempo depois, Rob
entrou com duas pizzas gigantes na mão.
― Hum, o cheiro está ótimo!
Alguém quer? – ele perguntou e recebeu vários olhares reprovadores. – Está bem,
vamos resgatar o Baltar primeiro.
― Duda, você e Maurição chequem
o perímetro. – Zé disse e os dois saíram do veículo.
Eles deram uma volta na quadra olhando cada detalhe e cada pessoa, parada ou em movimento. Procuraram pelos possíveis caminhos que alguém poderia fugir ou se esconder e enfim, concluíram que estava tudo limpo. Assim que confirmaram pelo comunicador, seguiram para o local. Eram quase 18h da tarde. A rua estava vazia. Ninguém iria perceber a entrada do grupo. Nikki liderou os espiões. Duda e Maurição foram para os fundos e Érica ficou com a ruiva e os rapazes. Pelo comunicador, eles sincronizaram a entrada, assim as duas portas caíram ao mesmo tempo.
Após verificar os cômodos das
extremidades, eles encontraram o espião perdido caído no centro da casa.
― Levi! – Nikki gritou e se
ajoelhou perto do namorado. – O que fizeram com você, meu amor? – ela disse
deixando as lágrimas caírem.
― Nikki?! – ele chamou sem
acreditar.
Duda e Érica ajudavam a
desamarrá-lo, enquanto os rapazes olhavam os equipamentos ao redor.
― Olha que relógio que
engraçado. – Zé disse. – Além de dizer que é meia noite e meia, está voltando o
tempo. – ele riu sozinho.
― Isso é uma bomba, Zé. –
Baltar disse após ser solto e ser abraçado fortemente pela espiã ruiva.
― Uma bomba?! – Rob se espantou.
― UMA BOMBA?! – Joca emendou
mais alto.
― Parem de gritar. – a Agente E
mandou.
― Tudo bem, aqui tem isolamento
acústico. – Baltar informou. – Mas esse não é o pior... – ele tentou começar.
― Como não? – Rob interveio. –
O que pode ser pior que isso?
― Nós vamos morrer. Não temos
treinamento nesse setor. O que faremos? – Joca teve um ataque e agarrou a gola
da camisa de Nikki que o olhou furiosa. – Foi mal, Agente N. – ele disse
soltando-a e baixando a cabeça.
― A AgEsp será explodida com
todos os outros espiões e funcionários nesse mesmo tempo. – o espião espancado
contou.
― Certo. Isso é pior. – Rob
concordou.
― Meninos, acalmem-se e pensem
em uma maneira de desarmar essa bomba. – Duda disse.
― Não será preciso. – Zé disse
e todos o olharam. – Essa bomba não parece ter um alcance muito grande. Você
disse que essa casa tem isolamento acústico. – ele disse olhando para Baltar,
que assentiu. – O material usado para esse tipo de isolamento é capaz de
suportar tal impacto. Nenhuma casa vizinha sentirá algo.
― Então, o que estamos esperando? Vamos salvar a agência. – Érica chamou.
Duda assumiu o volante e
acelerou o máximo que pôde, mas sofreu com o trânsito. Joca e Rob tentaram
comunicação de todas as maneiras com a central, mas não tiveram êxito. Há duas
quadras do prédio, um tremor fez todos os veículos pararem. Com a vibração,
veio o som e então o fogo e a fumaça. Os espiões saíram do furgão e olharam
para o local da explosão.
― Não conseguimos. – Baltar
lamentou.
― Tenho certeza que foi aquele
Benck que cortou o sistema eletrônico e impediu nossa comunicação. – Joca disse
com raiva.
― Joca, promete que vamos
derrotar esse cara? – Rob pediu.
― Prometo. – Joca disse com
lágrimas e raiva no olhar. – Então, já sabem. – os dois olharam para os outros.
– Quando formos atrás desses caras, o pirata de computador é nosso.
― Entendido. – Zé concordou
sério.
Érica estava paralisada, não
conseguia falar e nem controlar as lágrimas. Maurição também estava sem ação.
― Precisamos sair daqui.
Arranjar um lugar para passar a noite e descansar. – Nikki disse tentando se
manter forte.
― Sei de um lugar perfeito. –
Baltar disse e olhou para Duda. – Ainda lembra como chegar?
― Como poderia esquecer? – ela
disse com um sorriso e foi para o lado do motorista.
Com o furgão cheio de espiões,
a loira seguiu para a direção contrária da explosão.
Bem impactante o conto, Ricky!! Gostei!
ResponderExcluirUm abraço,
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