Mesmo não estando mais na mira das suspeitas dos bandidos e nem do filho do prefeito de Manaus, Rubens teve sua câmera confiscada, afinal eles não podiam arriscar, não é mesmo? Apesar disso, o jornalista infiltrado tinha total acesso ao navio e o seu interior, menos, é claro, aos aposentos pessoais do chefe e do filho do prefeito. Sem ter o que fazer, ele decidiu explorar o navio, e encontrou uma sala bem abaixo, com as jaulas que foram trazidas com os animais dentro. A maioria estava dormindo, ou tentando, mas um macaco estava muito nervoso e ficou mais ainda quando Rubens foi tentar acalmá-lo.
– Eles ficam bem nervosos no começo, mas logo passa. – disse o chefe ao ver o macaco quase morder seu convidado. – Primeiro há uma agressividade compulsiva e depois vem a resignação do fato. Acho que é uma reação normal de quem é preso. Agora venha, vamos jantar. – o anfitrião convidou.
Enquanto o chefe voltava pelo caminho que veio, Rubens pensava em como gostaria de ver a reação “normal” daquele homem ao ser preso. Os pratos servidos no jantar estavam apetitosos e o jornalista não ia fazer cerimônia. Um peixe assado, como prato principal, acompanhado de bolinho de bacalhau e peixe grelhado, uma salada com os mais diversos legumes e verduras, e todo o vinho que quisesse beber. Rubens sabia que no jantar ele seria interrogado, mas também seria uma ótima oportunidade para ele obter mais informações, por isso assim que sentou, ligou o seu gravador.
– Conte-nos um pouco mais sobre o senhor, Sr. Araújo. – começou o chefe. – Tem família? É casado? Trabalha em que exatamente?
Rubens respondeu no tom mais normal que conseguiu.
– Sou fotógrafo e não sou casado. Estou apenas curtindo a vida.
– Você está mentindo! – esbravejou Bruno Pavão, o filho do prefeito.
Todos olharam para o jornalista, que ficou pálido na hora. Em seguida o acusador voltou a falar.
– Você tem cara de casado. – ele disse e todos riram.
Rubens respirou aliviado.
– Todo mundo me diz isso. – ele disse entrando na brincadeira.
Após alguns minutos de silêncio, o jornalista começou outro assunto e decidiu que era sua vez de fazer as perguntas.
– Eu posso fazer uma pergunta, senhor...
– Krok, pode me chamar de Krok, e o senhor pode fazer quantas perguntas quiser Sr. Araújo.
– Muito bem, Sr. Krok, o que vocês vão fazer com os animais que estão lá embaixo?
– Ora, Sr. Araújo, essa é muito fácil, nós vamos vendê-los, é claro.
– Aonde?
– Na Venezuela, que é para onde estamos indo.
– Para quem? – continuou o jornalista, notando que as respostas estavam vindo fáceis.
– Para compradores do mercado negro.
O mercado negro. Rubens sempre achou que era um mito, algo criado pelos próprios traficantes para proteger suas fontes, mas agora ele estava começando a acreditar que existia.
– Hã... eu gostaria de ficar aqui no Brasil mesmo, se não se importa. – pediu o jornalista.
– Isso não será possível, Sr. Araújo. O senhor tem que entender o meu lado, o senhor sabe demais. Vai até o fim com a gente. – o chefe finalizou.
Rubens não conseguiu comer mais.
Depois que todos estavam dormindo, o jornalista ainda ficou acordado por um tempo, foi para a área externa do navio e refletiu as últimas notícias. O que parecia ter sido uma grande vantagem antes, naquele momento parecia uma morte iminente. De que adiantava ele poder ter todas as informações que quisesse, se não pudesse sair dali e publicá-las em forma de matéria? Krok apareceu, enquanto Rubens pensava num jeito de fugir dali.
– Sem sono, Sr. Araújo? – perguntou o anfitrião.
– É. – concordou desanimado.
– Se eu fosse o senhor, descansaria, porque amanhã será um dia bem puxado e talvez precisemos da sua ajuda.
– O que vamos fazer amanhã? – perguntou o jornalista.
– Capturar o último animal que nos falta.
– Que animal?
– A onça pintada.
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