sexta-feira, 30 de março de 2012

Como lidar com a morte?

Já tive meus momentos com essa tal de morte, mas nunca havia batido de frente com ela, como recentemente. Nosso primeiro encontro, não foi bem um encontro, ela apenas me disse "Ei, eu existo!", foi quando eu tinha uns 9 ou 10 anos. Um dos meu tios, irmão mais novo do meu pai, morreu num acidente de carro. Ele morava bem longe de mim, mas eu senti a sua morte e ainda lembro dos poucos momentos que tivemos. Na minha adolescência, ela apareceu e disse "Ei, olha eu aqui de novo, to chegando perto hein!". Outro tio meu, dessa vez do lado materno, se matou no reveillon de 2005. Desse eu senti mais, mas por outro lado não chorei, o que me perturbou um pouco.

Esse ano, mais precisamente à meia noite de segunda-feira dia 26 de março, ela voltou a visitar minha família e ela foi bem ousada "Vou levar alguém muito importante dessa vez!". Ao mesmo tempo, ela até que foi "boazinha", pois meses atrás um mensageiro dela veio e disse "Ela vai levá-lo daqui tantos meses, estejam preparados". Explicando: meu avô morreu devido a um câncer que o acometeu e o enfraqueceu até o derradeiro fim. Mesmo já sabendo o inevitável, que nós tentamos evitar, foi muito duro quando aconteceu. Com os meus tios eu não tinha sentido o que senti com a morte do meu avô.

Eu senti as lágrimas cairem e o meu corpo tremer ao ver o corpo imóvel dele. Mesmo quando ele estava sem falar e sem forças para se mexer, saber que ele estava vivo nos dava esperança. Mas com o passar dos dias fomos apenas nos preparando para o desfecho. Minha mãe e minha avó foram as que mais sentiram, meus tios também, mas minha mãe era a mais ligada a ele. Dias antes da morte dele, eu comecei a lembrar dos nossos momentos juntos, desde que eu era o mais novo que eu consegui me lembrar até o mais recente. É claro que as lágrimas caíram a cada momento lembrado, mas era o que eu queria, descobrir que chorar faz bem.


Quando criança eu tinha medo e respeito por ele, conforme fui crescendo, o medo se foi e respeito só aumentou, a admiração e a amizade também surgiram, assim como nossas conversas melhoraram. Antes eu não gostava de ficar sozinho com ele, depois dos 12, eu queria ficar sozinho com ele. Os churrascos, as pedaladas, as idas à igreja, as conversas, as explicações, as piadas... Eu poderia ficar falando até cansar de tudo que eu vou sentir falta, mas não vou me estender. Não fui criado pelo meu pai, mas meu vô foi quase isso, foi meu exemplo masculino, então ajustando aquela frase, eu posso dizer que meu avô foi meu herói.

A morte dele tem sentido duplo, pois apesar de ele ter ido, ele está aqui comigo, com minha mãe, com minha avó. E agora mais perto do que nunca. A única coisa ruim é não poder abraçá-lo e saber que vai demorar (ou não) para eu fazer isso de novo. Então, Vozinho, aí onde o senhor está, saiba que eu te amo muito.

quinta-feira, 29 de março de 2012

A sede


Nas aulas vagas antes do almoço, os membros da chapa vencedora foram conhecer a sede do Grêmio Estudantil, onde iriam passar boa parte do tempo extra-aula pelo resto do ano. O local era uma sala não usada no terceiro andar do lado B, próximo às salas dos 7º, 8º e 9º anos.
O cômodo consistia de uma pequena sub-sala no fundo, destinada para o presidente; uma grande mesa redonda, para as reuniões; e um quadro negro para eventuais apresentações. Também havia armários, um frigobar, estantes. Após abrir a porta e passar algumas instruções, a professora Célia decidiu deixá-los à vontade no novo QG.
– Isso é incrível! – Hugo exclamou.
– Mano, valeu a pena tudo o que passamos. – Ciano disse.
– É, mas está precisando de uma faxina, né? – Diana criticou.
– E uma decoração, esse lugar está o ó. – Paty emendou.
– Não sei o que vão fazer, mas eu vou para minha sala. – Alex avisou.
Eles o seguiram, pois também queriam ver como era a tal sala. Nela havia uma mesa, uma cadeira mais confortável para Alex e duas menos, para os visitantes; um frigobar e um armário; mesinhas e prateleiras.
– Muito bom, hein, Alex. – Solano elogiou.
– É, mas também precisa ser limpo. – Diana criticou novamente.
– Você só pensa nisso? – Alex quis saber.
– No momento, sim. E já que essa é a sua sala, você limpa! – ela disse.
Eles deixaram Alex só na sala do presidente e foram arrumar o resto da sede. Diana e Paty achavam alguns panos e produtos de limpeza, enquanto os outros garotos brincavam nas cadeiras giratórias da mesa de reunião. Alex foi até o frigobar e pegou um refrigerante. Abriu, bebeu um gole, parou na porta e ficou olhando para a cena que se desenrolava.
As meninas varrendo e tirando o pó, conversando como se fossem amigas desde sempre. Ciano girava na cadeira, impulsionado por Solano e Hugo ria, fazendo parte totalmente daquele grupo.
Após beber outro gole e entrar novamente em sua sala, Alex sorriu.


– Não era esse o combinado. – a diretora Tulipa falou para o rapaz de jaqueta de couro sentado à sua frente.
– Eu perder a eleição também não era o combinado. – ele retrucou.
– O resultado não tinha nada a ver com o dinheiro, você e o seu pai pediram eleições para grêmio estudantil e eu fiz. – a diretora se explicou.
– Mas eu me lembro de você ter se recusado a manipular os votos e se você tivesse feito, não estaríamos tendo essa conversa agora. – ele argumentou. – Para sua sorte, meu pai e eu temos palavra e, por isso, iremos te pagar, porém você irá fazer exatamente o que eu disser a partir de agora.
– E o que é? – ela perguntou.
– Nos próximos 5 meses, o colégio receberá uma parcela de R$4 milhões por mês, fechando os 20 que faltam. – Mauricinho falou. – Nesse meio tempo, o grêmio deverá apresentar alguns projetos e propostas que precisarão do seu aval. Você irá concordar com tudo, sempre. Depois de receber tudo, você vai começar a desviar a sua parte, mas de modo que pareça que o grêmio está fazendo isso. Ficou claro? – ele finalizou.
– Sim, mas por quê? – a diretora quis saber.
– Eu quero vê-los humilhados, odiados, vaiados, jogados pelos cantos do colégio, principalmente o Lemos. – o rapaz falou com raiva.
– Pode considerar feito. – Tulipa assegurou.
– Eu espero que sim, pois se você não fizer isso, você sabe que meu pai tem poder para tirar, não só o que estamos te pagando, como também levar esse colégio inteiro à falência, não é? – ele adicionou.
– Não se preocupe, nada vai dar errado dessa vez. – ela disse, enquanto o garoto levantava.
– Ótimo! Então estamos conversados. – Mauricinho disse e saiu.
Sozinha em sua sala, a diretora Tulipa engoliu em seco.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Conflito


– Minhas primas? O senhor nunca me disse que tinha irmãos. – Bárbara se surpreendeu quando seu pai lhe apresentou Ana e Lucy. – O rapaz é bonito. – ela pensou, enquanto olhava para Carpo, que estava boquiaberto com a beleza da moça loira, e levou um cutucão da Cesca do meio.
– Eu sei e peço desculpas. Preciso te dizer algumas coisas. – Toni falou.
Ele contou sobre seu passado na Itália, de como veio para o Brasil, e da herança que Don Cesca havia enviado. Em seguida, foi a vez de Ana contar o que sabia à prima.
– Então, vocês vieram aqui para pegar a terceira chave com meu pai?
– Também. Além disso, precisamos saber o que o nosso avô disse a ele em particular. – Ana explicou.
– E como nossa última chance está em Paranaguá, resolvemos passar para conhecê-los. – Lucy adicionou.
– Você me perdoa, filha? – Toni pediu.
– Perdoá-lo por que, meu pai? Entendo perfeitamente porque não me disse isso antes. Eu teria feito o mesmo. E agora que eu sei é meu dever e direito ir em busca do tesouro com minhas primas. – Bárbara decidiu e ficou em pé.
– Como é que é? – o caçula de Don Cesca se espantou.
– Legal! – a carateca vibrou.
– E o seu trabalho? – Toni perguntou.
– Vou tirar o resto do dia de folga. Aliás, vou ligar agora mesmo. – ela disse e já pegou o celular.
– Bom, acho que não há mais nada que eu possa dizer. Só me resta ir fazer o almoço. Alguém se habilita para me ajudar? – o anfitrião perguntou.
– Eu! – Lucy respondeu empolgada.
O velho sorriu e a guiou até a cozinha. Desde que havia encontrado com Toni, a menina ficou muito empolgada com o ex-mafioso, pois nele, ela viu a figura do avô que já não mais tinha. Bárbara não estava conseguindo completar a ligação que queria, então resolveu conversar com sua prima e Carpo.


– De onde você é, prima? – a paranaense perguntou.
– Do interior de Santa Catarina. – Ana respondeu.
– E você, moço? Desculpe, esqueci seu nome. – Bárbara disse com outro tom de voz.
– Pode me chamar de Carpo, eu sou daqui mesmo. Moro no Água Verde. – ele disse.
– Não brinca? Sério mesmo? – ela se espantou. – Essa cidade é maior do que pensamos, como nunca nos encontramos?
– Não é mesmo? – ele replicou e riu.
– Só um pouco. – ela disse e levantou novamente para atender o celular.
– Legal ela, não? – Carpo perguntou para Ana e recebeu um olhar furioso da Cesca.
– Engraçado, você não falou nada disso da Glória ou da Lucy. – Ana disse tentando recuperar a calma.
– É, bom... é que... eu preciso ir ao banheiro. – ele disse e saiu da sala.
– Homens. – Ana resmungou.
No banheiro, Carpo lavou o rosto umas duas vezes e começou pensar nas Cescas. Ele havia entrado naquela jornada pela atração que sentiu por Ana, mas então conheceu Glória, e ainda não tinha tido tempo de conversar direito com a veterinária. E então surgiu mais uma da família italiana.
– Eu tenho que parar de pensar besteira. Não tenho chance com nenhuma das três mesmo. – ele disse para o seu reflexo.
– Larga de ser fresco, só foca em uma e vai. – o reflexo respondeu.
– Tem razão, vou parar de indecisão e falar com a Ana. – o rapaz decidiu.
– Que mané, Ana! A Bárbara mora na mesma cidade que você, é mais jovem, mais bonita e tem um trabalho mais legal. – o reflexo devolveu.
– Eu nem a conheço. – Carpo disse.
– E mal conhece a Ana. – o reflexo replicou.
– Carpo, você ta bem? – Lucy bateu na porta e perguntou. – O almoço ta pronto.
– Sim, eu já vou. – ele respondeu.
Depois do almoço, Toni entregou a chave para Bárbara e ela foi trocar de roupa. Ao se despedirem, eles saíram da casa e foram para o carro e a loira mais velha jogou a chave para o economista.
– Dirige aí! – ela disse, respondendo à expressão confusa dele.
– Sério?! – ele perguntou e sorriu quando a garota assentiu.
Pela primeira vez naquele dia, Ana sentiu raiva da prima que acabara de conhecer.  

segunda-feira, 26 de março de 2012

Xeque-mate


“Um tabuleiro foi montado em uma mesa na sala de estar, por ganhar no cara e coroa, pude escolher a cor das peças. Fiquei com as brancas para poder começar. Meu primeiro movimento foi o peão à frente do rei, uma casa, liberando espaço para a rainha e para o bispo da casa branca. Ele mexeu o peão à frente do cavalo do rei, abrindo caminho para o bispo da casa preta.
“Em seguida, nós dois tiramos os cavalos dos reis de trás dos peões. Eu avancei com o bispo da casa branca e ele me repeliu com peões. Aproveitei para fazer o Roque, movimento em que Rei e Torre trocam de posição quando ainda não foram mexidos. Decidi arriscar e comi alguns peões dele com o cavalo, mas em certo momento, ele usou um cavalo para comer o meu, prevendo isso, eu usei o bispo da casa branca para comer o cavalo dele.
“Aproveitando uma distração, tirei o bispo da casa preta dele. Eu estava com a vantagem em relação ao número de peças, mas isso não quer dizer muita coisa no xadrez. Continuei pressionando com os peões e, não sei se por nervosismo ou outro motivo, ele recuou para não perder as peças grandes, mas ao fazer isso me deu mais espaço para mover as outras peças.
“Em uma jogada arriscada, tirei mais dois peões dele, o segundo cavalo e uma torre. Logo em seguida, dei xeque com o cavalo, mas o perdi quando ele ameaçou minha rainha e o cavalo ao mesmo tempo. Naquele momento, ele tinha apenas sete peças: 3 peões, a rainha, o rei, uma torre e o bispo da casa branca.”


Enquanto Rubens jogava, parte de seu plano se desenrolava do lado de fora da Mansão Vidolin. Pelo menos 4 viaturas haviam chegado nos portões da grande casa e parado na burocracia dos seguranças. Um pouco antes de tudo isso, Rubens foi à empresa de Mauro Vidolin e contou suas suspeitas a cerca do filho do empresário.
– O senhor está enganado Sr. Fonseca. – o empresário disse.
– Tenho muitos motivos para acreditar nisso, Sr. Vidolin, mas o senhor pode me ajudar a decifrar esse enigma mais rapidamente. – Rubens disse.
– Como? – Vidolin perguntou.
– Esse bilhete foi encontrado junto do meu primo. Quero que me diga com sinceridade: é a caligrafia do seu filho? – o jornalista perguntou e o empresário franziu o cenho.
“Achando que estava com o domínio do jogo, perdi as duas torres em um rápido movimento. Apesar de ainda ter o maior número de peões, eu tinha as mesmas peças grandes que ele: rainha, rei e bispo, sendo que o meu era da casa preta e o dele, da casa branca.
“Mantive a calma e consegui derrotar o bispo dele, mas perdi vários peões. Minha única vantagem era o meu bispo. Notei que ele suava. Aproveitei a tensão do momento e tentei distraí-lo.
“– Mais difícil do que imaginava? – eu perguntei.
“– Você é bom. Gosto de desafios. – ele disse tentando disfarçar.
“Para escapar de um xeque, ele deixou a rainha e o rei, em casas vizinhas. Aproveitei esse lance para forçá-lo a perder a rainha. Com a minha, eu dei um xeque bem do lado do rei, mas com um peão na retaguarda, o que o obrigou a comer minha rainha com a dele, deixando-a na mira do meu peão.
“Com o esse mesmo peão, fui até o fim do tabuleiro e o troquei pela rainha, que eu havia perdido, com ela e o bispo, impedi que ele fizesse o mesmo com seus peões. E foi apenas questão de tempo para vencê-lo.”
– Xeque-mate! – Rubens disse no mesmo momento em que a polícia entrou na sala casa.
– Todo mundo parado! – um dos oficiais gritou.
– Isso é impossível! – Edgar balbuciou, ainda sem notar a presença dos policiais.
– Você perdeu, Edgar. Agora deve cumprir com sua palavra. – o jornalista disse.
– Como você... – o rapaz começou a falar algo.
– O que está acontecendo aqui? – Mauro Vidolin gritou ao passar pelos policiais.
– Pai?! – Edgar surpreendeu-se. – Eu posso explicar.
– Eu acho bom. – o pai disse sério.
“No fim, Edgar confessou o que fez, pediu desculpas para todos e seu pai pagou todas as despesas médicas de meu primo, além de uma indenização para retirar a queixa por agressão. Existem muitas pessoas inteligentes nesse mundo, o problema é que muitas delas a utilizam para o mal. Se todas elas usassem sua inteligência para o bem, o mundo seria muito melhor.”

                                                    Rubens Fonseca.

domingo, 25 de março de 2012

Treinamento


– É isso? Esse é o treinamento? – Rob perguntou depois de terminarem o último teste.
– Sim. – o agente que comunicou disse.
– Sério mesmo? Trinta partidas de xadrez, trinta sudokus para resolver, truques de cartas para decifrar e alguns jogos de pôquer para nos entreter. Esse é o treinamento de um espião? – Joca quis confirmar.
– Para a classe de vocês, sim. Vocês treinaram para o que chamamos de espiões estratégicos. Com os testes que fizeram, pudemos verificar a velocidade do raciocínio de vocês; que sabem lidar com pressão; que têm uma visão do todo e não só de uma parte; e que sabem analisar se algo é verdadeiro ou não. – o agente explicou.
Apesar da insatisfação dos rapazes, eles fizeram algo que pouca gente conseguiria. O treinamento tinha uma sequência pronta e seguia na seguinte ordem: uma partida de xadrez e um sudoku, com 5 minutos para chegar o mais próximo do resultado; em seguida eram mostrados truques de mágica com cartas e eles deveriam tentar desvendar o segredo; e a cada dez repetições dessa sequência, eles jogavam uma partida de pôquer online.
Eles resolveram todos antes do limite de tempo e descobriram todos os truques de mágicas. O andar de treinamento era o sexto, por isso eles tiveram que subir até o décimo novamente, pois Kusdra pediu para vê-los após a sessão deles. Os três subiam de elevador, enquanto no térreo, Zé, Maurição e Érica, esperavam um dos elevadores desocupar, para poderem subir.
– Muito bem, rapazes! Vocês, agora, são espiões. – Kusdra disse aos jovens, Rob e Joca.
– Ei! Espera aí. – Joca falou. – Por que o Zé é o Agente Z e nós somos os agentes Rob e Joca e não Agentes R e J. – o rapaz quis saber.
– Porque já tem agentes com essas iniciais na agência. E Joca é quase Jota, então do que está reclamando? – Kusdra devolveu.
Nesse momento, os três espiões que haviam chegado há pouco no prédio irromperam na sala do chefe da agência.
– Não se bate mais na porta? – Kusdra vociferou.
– Desculpa, chefe, mas é caso de vida ou morte. – Érica explicou.
– Sempre é. E quem é esse? – o chefe apontou para Maurição. – Agora toda vez que vem pra agência você traz um rapaz diferente. Ta pensando o que, Érica? – Kusdra indagou.
– Eu sei, mas esse é musculoso e muito habilidoso na luta. – ela disse.
– É um grande amigo meu, senhor. Assim como Rob e Joca. – Zé disse. – Ei, rapazes, vocês estavam aqui o tempo todo? – ele perguntou ao ver os amigos.
– Poxa, Zé! Só agora, você nos viu. – Rob reclamou.
– Que amigo hein. – Joca emendou. – Dae, Maurição!
– Fala, pessoal!
– Chega de conversa! Explique-se, Érica. – Kusdra falou.
A jovem espiã contou tudo o que houve desde que foi atrás de Zé naquela manhã. Dos grupos que os seguiam e da batalha que ocorreu.
– O senhor precisa apressar o juiz, chefe. O Parvo ta pegando pesado.
– Eu sei, eu sei. Tentei falar com ele de manhã, mas ele estava em reunião. Estou esperando passar o horário de almoço para voltar a ligar. – Kusdra informou.
– Já é uma hora. – Rob disse.
– Uma hora? Acho que já dá para ligar então. – o chefe decidiu.
– Uma hora da tarde? – Zé perguntou e todos o olharam. – Eu deveria estar começando no meu primeiro emprego. – ele disse com expressão triste.

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Beckert não poderia estar mais feliz, por isso não escondia o sorriso ao subir de elevador, com seus dois ajudantes e sua sequestrada, Duda, para a sala de seu chefe, Jonas Parvo.
– Isso vale uma promoção. – ele pensou.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Toni e Bárbara


Bárbara Cesca se formou em Relações Públicas e conseguiu se efetivar no estágio em que estava na época em que terminou o curso. Ela trabalhava em uma empresa de vendas no centro da cidade. Ela era uma mulher alta; com belos, longos e lisos cabelos loiros; seu corpo era atlético, um pouco devido aos intensos exercícios que fazia, um pouco pela genética da família que ela desconhecia.
Nascida e criada na capital paranaense, aos 26 anos, ela morava com seu pai, Antonio, no bairro Boa Vista. Ao chegar no Brasil, Toni, como era mais conhecido, precisava arranjar um emprego rapidamente, por causa de sua mulher, que estava grávida. Ao contrário de Carlo, ele não teve tanta sorte na grande metrópole de São Paulo, e também não queria ir para o interior, como Giovanni.
Para acomodar sua futura família, o ex-mafioso escolheu uma capital menor que São Paulo e Rio de Janeiro, mas igualmente agitada. Em Curitiba, ele começou sua nova vida e a trabalhar em redes de supermercados. Com o tempo ele cresceu profissionalmente até que atingiu o atual cargo, gerente da rede Super Muffato Hipermercado, no bairro Portão.
Sua mulher morreu, quando Bárbara ainda era pequena. Um câncer lhe acometeu e, na tentativa de retirá-lo, ela não sobreviveu à cirurgia. Toni sentiu muito a morte da esposa. Logo, a falta dela foi se acentuando mais, inclusive nos afazeres domésticos. Por ainda ser nova, Bárbara não tinha aprendido muito nessa área e seu pai, devido ao machismo passado pela família, também não ajudava em nada. Assim, ambos tiveram que aprender a viver e a se ajudar juntos.


Já era hora do seu almoço, quando Toni foi interceptado por três jovens: duas moças e um rapaz. A mais alta falou.
– O senhor é Antonio De Lucca? – Ana perguntou.
– Sim, sou eu. – o velho respondeu.
– Nós somos suas sobrinhas.
– Tio Toni. – Lucy emendou emotiva.
– Acho que vocês se enganaram. Eu não tenho irmãos. – o homem disse. – Como poderia ter sobrinhas?
– É, eu sei como é. – Ana começou. – Meu pai também não tinha irmãos. – o gerente ficou quieto e a moça continuou. – Meu nome é Ana Paula Cesca, filha de Giovanni Araú... Cesca. – ela se corrigiu. – Essa é Luciana Cesca, filha de Glória Cesca, filha de Carlo Cesca. E esse é Policarpo Quaresma Barreto, grande amigo da família. – ela finalizou apontando para cada um ao apresentá-los.
– Você não devia repetir esse nome tantas vezes assim em público. – ele disse chegando perto de Ana e fazendo-a sorrir e levantar uma sobrancelha.
– Tio Toni! – Lucy quase gritou e agarrou no pescoço do gerente, que não pôde deixar de sorrir com o gesto da menina.
– Melhor conversarmos em outro lugar. Venham, vamos para minha casa. – ele disse ao se separar de Lucy e cumprimentar os outros.
No caminho para casa do caçula de Don Cesca, Ana sentou no banco do carona ao lado do tio, Carpo e Lucy foram atrás. A bela morena aproveitou para contar tudo o que aconteceu desde que ela encontrou o economista na estrada. De como conheceu Glória, do ocorrido em Santos, até decidirem ir para ali. Ele resmungou alguma coisa, mas preferiu falar somente em casa.
Na sala de estar do sobrado de Toni, todos tomavam uma xícara de café que ele mesmo serviu. Após um generoso gole da bebida, o anfitrião decidiu falar.
– Por que estão procurando esse tesouro? Pelo que me contaram, todos são bem de vida. – ele disse.
– Primeiro porque é nosso direito. – Ana começou, notando a má vontade do tio. – E, depois, porque estou curiosa para saber o que é.
– É, tio Toni, eu também estou. Conte-nos o que sabe. – Lucy pediu.
Nesse momento, ouviu-se um barulho de carro na frente da casa e Toni foi ver quem era.
– É minha filha, Bárbara, prima de vocês. – o velho disse da janela.
– Suponho que não tenha contado nada para ela ainda, não é? – Ana indagou e Toni fez que não com a cabeça. – Então acho que chegou a hora da verdade, tio.
– Está na hora de contar a verdade, tio Toni. – Carpo provocou e recebeu um olhar furioso do velho, mas logo sua expressão mudou.
– Vocês têm razão! Estão prontos para conhecerem a Bárbara? – ele perguntou e, em seguida, abriu a porta para sua filha entrar.

terça-feira, 20 de março de 2012

Dividir e conquistar


– A primeira joalheria, nós roubaremos em conjunto, mas só para que seja feito um padrão de invasão, pois acredito que demoraremos menos se agirmos separados. Mesmo que gastarmos um pouco mais de tempo sozinhos ainda assim será mais vantajoso. Essa será a Fase 3 da Operação, Dividir e Conquistar. – Joel disse na última revisão do plano.
Assim que acabaram de saquear o primeiro alvo, cada um dos três seguiu para um lado separado. Joel e Facada fizeram o mesmo caminho que no dia do reconhecimento do local, o primeiro no corredor direito do pavilhão principal e o segundo, na bifurcação. Taís seguiu por onde Técno Léo havia ido, já que este estava cuidando do sistema eletrônico do shopping.
A mulher do grupo parou em seu próximo local e começou a sequência de ação. Usou o nitrogênio líquido para abrir as portas e logo estava dentro da loja. O passo seguinte seria cortar os vidros e pegar as jóias, mas Taís parou um pouco para admirar todo aquele brilho que emanava dos objetos.
Ela se imaginou com todos aqueles anéis e colares, como se fosse uma rainha sentada em um trono. Com um belo vestido vermelho que combinava de forma perfeita com seu tom de pele. Muitos diziam que era mulata, outros diziam que era parda, ou ainda morena de pele. Para ela não importava, gostava e tinha orgulho de sua cor. Seus belos cabelos encaracolados estavam prendidos em um belíssimo coque no alto da cabeça. E, como toda rainha, usava uma coroa.


– O que foi Taís? Por que ta parada? – Bomber perguntou tirando a moça de seu sonho.
– Nada não. Eu só me distraí. – ela explicou com um sussurro.
– Percebemos. – Léo emendou. – Agora acorda e faça sua parte, não temos a madrugada inteira.
A moça começou a cortar os vidros e a pegar as jóias. Enquanto isso, no corredor da bifurcação, Facada usava o nitrogênio para congelar as fechaduras e abrir as portas. Antes, ele procurou pelo guarda para derrubá-lo com o tranquilizante, mas não o viu em lugar algum. Apesar de achar estranho, resolveu não perder tempo e seguir com o plano.
O segurança, porém, havia descido, pois pensou ter ouvido algum barulho no andar inferior. Ao perceber que não era nada e passando despercebido pelo olhar de Bomber, que apenas cuidava dos seus amigos, ele voltou para o andar de cima. Percorrendo o trajeto de sua ronda tradicional, ele viu um vulto escuro onde não deveria haver nada. Chegando mais perto para distinguir melhor, o guarda viu que eram dois de seus colegas, inconscientes.
Sem pensar duas vezes, ele pegou o seu rádio comunicador e avisou a central de monitoramento.
– Central, tem dois guardas inconscientes no setor D. Peço reforço imediato no perímetro. – o segurança falou, mas Bomber não lhe respondeu.
– Galera, temos um problema! – Bomber disse para os companheiros de roubo, logo após ouvir a mensagem do segurança do shopping.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Acordo de cavalheiros


Apesar dos inúmeros avisos e pedidos que recebeu de seu primo e de sua tia, Rubens decidiu ir investigar a casa dos Vidolin. O jornalista começou a considerar prováveis motivos para o feito do jovem Edgar. Ele descartou logo a hipótese de dinheiro, pois além da diferença entre os prêmios do primeiro e segundo lugar ser de apenas 200 reais, os Vidolin eram ricos.
Em um dos bairros mais nobres da capital gaúcha, Rubens encontrou a mansão Vidolin, uma bela construção que cobria um grande terreno. Assim que ele chegou ali, viu dois homens com trajes bem diferentes dos usuais de moradores daquela região. O jornalista imaginou que eram os agressores e que, muito provavelmente estavam indo buscar o resto do pagamento.
Rubens aproveitou uma árvore que havia em frente ao grande muro e, utilizando as habilidades adquiridas no seu treinamento de sobrevivência na Amazônia, pulou de um para o outro até chegar no topo do vegetal. Dali, ele calculou bem o seu próximo passo, pois havia cerca elétrica no muro. No mais alto que conseguiu chegar, o jornalista se impulsionou e passou para o lado de dentro da propriedade.
Ele rolou ao pousar, protegendo a mala com seu material de trabalho. Em silêncio e tentando escapar do campo de visão das câmeras, seguiu em direção a casa grande. Após procurar um pouco, Rubens achou a janela que dava para um pequeno escritório. Nele se encontravam Edgar Vidolin e os prováveis agressores de Gabriel. O jornalista pegou sua câmera e começou a tirar fotos, quando um segurança o surpreendeu por trás.
– Imagino que não adianta pedir para você deixar eu continuar tirando fotos, não é? – Rubens falou.


O jovem paulista foi levado do lado de dentro do cômodo que espionava.
– Ele estava tirando fotos do senhor. – o segurança informou colocando a câmera em cima da mesa de onde Edgar estava próximo.
– Quem é você? Um investigador? – o jovem rapaz perguntou a Rubens.
– Não. Eu sou um jornalista, meu nome é Rubens Fonseca e eu sou primo do rapaz que o venceu no torneio de xadrez. – o paulista informou.
– E o que você quer aqui? O que pretendia com essas fotos?
– Provar sua ligação com esses dois. – Rubens apontou para os dois indivíduos que destoavam no local.
– E o que essa ligação provaria? – o rapaz entrou no jogo.
– Tenho motivos para acreditar que você é o mandante da surra que ele levou. – o jornalista afirmou.
– Que motivos?
– Pra começar, meu primo ganhou de você no torneio.
– Aquilo foi pura sorte. – Edgar se defendeu.
– Ele foi o único a vencê-lo e há várias ocorrências de brigas entre vocês durante o colégio. – Rubens rebateu.
– Coisas de adolescentes.
– Esses dois homens que se encaixam certinho na descrição dada por meu primo estão no escritório da sua casa.
– São meus amigos. – Edgar disse tentando disfarçar.
– É claro que são. – Rubens fingiu acreditar. – E por último, você mesmo acabou de me dar outro motivo. Foi encontrado junto ao corpo de meu primo esse bilhete escrito: “Sorte não é vitória”. Soa familiar? – Rubens concluiu.
– Isso não prova nada. – o rapaz rico disse.
– Teste de caligrafia. – o jornalista rebateu.
– E quem disse que você irá sair daqui com esse bilhete e as fotos? – Edgar ameaçou, desistindo de fingir.
– Imaginei que chegaria nesse ponto, por isso vim com uma proposta.
– Estou ouvindo. – o rapaz disse com interesse.
– Uma partida de xadrez. – Rubens falou.
– E quais seriam os termos de tal partida? – Edgar quis saber.
– Se você ganhar, eu te dou o bilhete, apago as fotos da minha câmera e você nunca mais ouvirá de mim. Mas se eu ganhar... – o jornalista começou.
– Se você ganhar... ? – Edgar repetiu para Rubens continuar.
– Você irá confessar que mandou esses dois homens baterem no meu primo e, claro, pagar por isso. – Rubens definiu.
– Como você não tem chance alguma de ganhar de mim, eu aceito. – o jovem enxadrista decidiu.
– Vamos selar isso com um aperto de mão, como em um acordo de cavalheiros, o que vale é a palavra dada. – Rubens acrescentou.
– Eu sempre cumpro minha palavra. – Edgar garantiu. – Você cumpre a sua, jornalista?
– Pode ter certeza de que sim. – Rubens sorriu animado.

domingo, 18 de março de 2012

Combate

Eles passaram pela praça em frente ao shopping e alcançaram a esquina da quadra, mas foram obrigados a parar, pois o sinal para os pedestres havia fechado e os inúmeros carros avançaram pela avenida. Ao olharem para trás, viram o grupo de 5 manos que os seguia e se aproximava cada vez mais e com sorrisos malvados nos rostos.
– Maurição, você disse que queria saber o que está acontecendo? – a espiã perguntou, sabendo que precisaria da ajuda do rapaz e para isso teria de lhe dizer a verdade.
– Sim. – ele confirmou.
– Eis o resumo: existe uma agência de espiões aqui em Curitiba, da qual eu faço parte. Em minha última missão, estive investigando o envolvimento de um grande empresário com tráfico de armas. Através do email dele, consegui dados que provam que ele é culpado. Quando estava levando isso ao meu chefe ontem, esbarrei com Zé, que também carregava um envelope. Foi assim que nos conhecemos. – Érica fez uma pausa para Maurição assimilar as informações. – O homem que estava me seguindo viu Zé e, de alguma maneira, eles sabem tudo sobre ele e o estão caçando desde então, enquanto eu tenho tentado mantê-lo vivo. – ela concluiu.
– E conseguido. – Zé emendou.
– Até agora, por isso eu te pergunto, você sabe usar esses músculos ou eles estão aí de enfeite? – ela perguntou a Maurição.
– Musculação todo dia e muay thay três vezes por semana. – ele disse.
– Vai servir. – ela disse e se virou para o grupo perseguidor que já estava bem perto deles.
– Entregue-nos o Zé Mané. – o líder do grupo disse.
– É... eu acho que não. – Érica respondeu.
– Terei que pegar à força então. – o rapaz disse avançando.
– Tenta a sorte, garotão. – a espiã disse e também avançou.
– Ora, sua... – ele começou a falar e investiu contra a menina.
Com o braço esquerdo, Érica bloqueou o soco de direita que receberia e, com o braço livre acertou o rosto do adversário. Em seguida, ela o golpeou no queixo, fazendo-o cambalear para trás e o finalizou com um chute, com a sola do pé, no meio do peito, empurrando-o na direção dos outros do grupo.
– Dois pra cada? – Maurição sugeriu ficando ao lado da garota.
– É justo. – ela concordou.



Do lado de Érica, um rapaz veio atacá-la, mas ela se defendeu de novo. Desta vez, ela abaixou-se ao receber o golpe e acertou-lhe a barriga com extrema força, afastou-se um pouco e lhe deu um chute no queixo e em seguida outro com a sola do pé, acertando-o no rosto, fazendo-o cair.
Maurição também enfrentou um por vez. O primeiro tentou lhe dar um soco, mas o rapaz musculoso desviou para o lado, segurou o braço do oponente e o golpeou, com força, no rosto. Ainda, deu-lhe um chute na parte de trás do joelho, fazendo-o gemer e cair. Ao ver o amigo perder, o outro atingiu Maurição, quando este ia torcer o braço de seu primeiro adversário para imobilizá-lo totalmente.
Após se recuperar do primeiro impacto, o amigo de Zé desviou o segundo soco e deu uma sequência de joelhadas no abdome do adversário, até este cair. Foi quando ouviu-se um revólver sendo destravado. Quando ia enfrentar seu próximo adversário, ela foi surpreendida pela arma de fogo em sua direção.
Zé, parado até então, viu o controle da situação sair das mãos de seus amigos. Ele notou que Maurição estava muito longe para ajudar Érica, e a garota não poderia se mexer sem levar um tiro. Lembrando algo que havia feito no dia anterior, o espião decidiu agir.
– Ei! – Zé gritou e todos o olharam.
Aproveitando a distração do inimigo, Érica desarmou-o com um golpe no braço que segurava a arma. Deu-lhe um soco direto no nariz, seguido de um soco no estômago. Para nocauteá-lo, ela pegou sua cabeça e deu uma grande joelhada nela, fazendo o sangue do mano jorrar pelo nariz.
– Nossa! Que agressiva! – Zé espantou-se.
– Não gosto que usem armas quando estou desarmada. – ela explicou. – E mais uma vez, você me salvou só no grito, hein, Zé. – ela emendou.
– É, isso é para poucos. – o rapaz disse.
– Ih, agora ele vai falar disso o dia inteiro. – Maurição emendou.
Olhando para trás, eles viram outro grupo vindo em sua direção, então, percebendo que o semáforo havia aberto, correram. 

sábado, 17 de março de 2012

Por que tanto por que?

Toda criança tem aquela fase do "por que", que normalmente vai dos 6 aos 11 anos. Afinal, a partir dos 12, não importa a resposta dos pais, nunca vai agradar ao adolescente. Algo assim: "Mamãe, por que eu tenho que arrumar a cama quando eu levanto se vou desarrumar quando for dormir?" "Pelo mesmo motivo que você dorme todo dia sendo que vai ter que acordar no outro dia." "Isso não faz sentido. Fala a verdade!" "Você quer a verdade? Muito bem, você tem e vai arrumar porque eu to mandando!"


Com o passar do tempo, aprendi que pra nem tudo existe um por que. Até mesmo porque eu não tenho por que pra tudo. Então, eu fico com muita raiva quando converso com pessoas que conheço ou que tenho intimidade, e ao fazer uma pergunta simples, logo depois da resposta vem o "Por quê?". NÃO IMPORTA!
Quem usa msn ou o chat do face sabe que chega uma hora em que o assunto "morre", aí usa-se o artifício "O que você está fazendo?". Odeio quando respondem e perguntam "Por quê?". Poxa, você me conhece, eu te conheço, se to perguntando é PORQUE QUERO SABER!!!!!

E às vezes é uma pergunta tão banal, como o gosto musical, de filme ou como ta o trabalho. E aí surge o bendito "por que". Eu nem tenho resposta pra isso no momento da conversa. Então respondo: "curiosidade" "pra saber" "nada" "só perguntando" "to puxando assunto". É tenso! Eu realmente não entendo o uso exagerado da expressão e gostaria muito de saber, por quê?

sexta-feira, 16 de março de 2012

Você tem inimigos?

Em algum ponto de nossas vidas encontramos alguém de quem não gostamos ou com quem temos uma discussão ou opinião diferente. É normal, ninguém se dá bem com todo mundo, salvos raras exceções. Chamar de inimigo talvez seja muito forte, mas como chamar as pessoas de quem você não gosta?

Comecei a pensar em meus "inimigos" e descobri que não tenho nenhum. É claro que tive meus desafetos no ensino fundamental e médio. Na faculdade já não tive. Entretanto, não considero qualquer dessas pessoas minhas inimigas. São apenas pessoas com quem não tenho afinidade e com as quais não há o que conversar, ou simplesmente não há vontade.


Não gostar não é o mesmo que odiar. Se você não gosta de alguém, tente não falar com ela, ignore-a. É o que pessoas sensatas e civilizadas fazem. Se uma pessoa lhe fez mal, deixe que o tempo e a vida se encarreguem de fazê-la pagar pelo que fez. Como dizia Seu Madruga: "A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena".

Você não precisa ser legal com seus desafetos. Siga seu caminho e, talvez, um dia seu ressentimento suma e até uma conversa seja possível. Apesar desse meu discurso de "bonzinho", eu não sou bobo e fico feliz por não ter inimigos, pois eu sei ser mal quando eu quero.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Garoto mau ou rapaz legal?

Desde sempre ouço essa teoria de que as mulheres gostam de homens que as tratam mal. Eu não acredito nisso, pelo menos não totalmente. Pelas observações que fiz e experiências que tive, posso dizer que os malvados estão dando um coro nos legais. Talvez eu tenha encontrado as garotas erradas ou visto apenas situações isoladas, mas apesar de meus esforços em não acreditar nisso, sem querer eu acabei comprovando.

Explico: em meu trabalho, tem uma guria, que não faz o meu tipo, não gosto dela e não tenho o mínimo de interesse nela. Eu e meu colega trabalhamos quase diretamente com ela. Ele é um senhor casado e como brincadeira, sempre a elogiava quando ela aparecia. Eu sempre a ignorava ou tratava mal, dizendo pra ir logo e trabalhar, coisas assim. Essa rotina tem se mantido há mais de um mês.


Há dois dias, do nada, ela perguntou se tinha alguma chance comigo. Eu fiquei mudo e sem ação. Como disse eu nunca quis nada com ela, me comportei daquela maneira apenas como uma brincadeira. Foi então que comecei a pensar: "eu a tratei mal e nem sequer cogitava essa possibilidade. Será que se eu quisesse teria dado certo?" Eu não sei, só sei que eu achei engraçado.

Eu espero que esse tenha sido apenas mais um caso e que ele não valha para dizer que as mulheres escolhem aqueles que as maltratam. Quero acreditar que existem mulheres que gostam de ser bem tratadas, do antigo cavalheirismo e de um pouco de romance brega, por que não? Talvez eu esteja pedindo muito aqui, mas, talvez, a expressão uma em um milhão caia bem.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Resultado


Era hora do recreio e todos os alunos foram chamados para se reunir no pátio principal do colégio, foi avisado que não haveria as duas últimas aulas da manhã, o que empolgou ainda mais os estudantes. Próximo à parede que ficava na base do U do prédio principal foi colocada uma plataforma, na qual ficaria a Diretora Tulipa, a Professora Célia, que organizou e coordenou a eleição, e os presidentes de cada uma das chapas concorrentes. Na extremidade direita da plataforma havia um microfone, que seria usado para que todos os alunos no pátio ouvissem bem.
Aquele seria um dia histórico no Colégio Isaac Newton. O primeiro Grêmio Estudantil seria escolhido e formado naquela bela manhã de sol. Os três alunos representantes das chapas e a Diretora Tulipa também já se encontravam sentados. Os outros membros dos grupos estavam logo na frente do pequeno palco, unidos e torcendo.
Mauricinho sorria, confiante na vitória já certa. Quando o jovem notou que Manu o olhava, abaixou os óculos escuros, sorriu e piscou. A garota devolveu o sorriso e corou. Alex notou a troca de olhares e fez uma cara feia, mas mudou sua expressão ao ouvir gritos e frases de apoio de seus colegas e amigos de chapa. Yago olhava de modo incisivo e ameaçador para Caramello, lembrando-a do que iria acontecer se ele não ganhasse. A garota abaixou a cabeça e torceu do fundo do seu coração para que Alex obtivesse a vitória e cumprisse sua promessa.
– Atenção, alunos. Silêncio, por favor! – a professora pediu, falando ao microfone. – Agradeço a presença de todos, principalmente, de nossa querida diretora. – Célia disse e olhou para a superior que acenou de volta. – Sem mais delongas, vamos ao resultado da eleição do primeiro Grêmio Estudantil do Isaac Newton. – ela disse e abriu um envelope.
O suspense tomou conta do grande pátio, quando ela finalmente falou.
– Em terceiro lugar, com 103 votos, ficou a chapa Renovação. – Alex não reagiu, afinal ele já esperava que Yago não fosse longe, este, por sua vez, socou o ar e fez cara feia. – Em segundo lugar, com 162 votos, ficou a chapa Abalo Sísmico.
– O quê? – Alex gritou, seguido por muitos protestos da platéia.
– E em primeiro lugar, com 350 votos, a chapa Ação foi eleita para formar o Grêmio Estudantil. – a professora conseguiu falar em meio à discussão que se formava.
– Só 162? Tem alguma coisa errada aí! – Alex levantou e protestou.
– Não seja mau perdedor, Alex. – Manu também levantou e o encarou.
– Manu tem razão, Alex. Todos tiveram iguais condições de campanha, se você não ganhou dessa vez, tente da próxima vez. Você ainda tem mais um ano. – a professora tentou consolar.
– Acho que elas têm razão, Alex. Nós tentamos. – Diana se rendeu.
– É, maninho, não foi dessa vez. – Ciano emendou.
– Não! Vocês não vêem? Só a Paty e o Solano conseguiriam 100 votos, ainda tem os manos e os nerds. É impossível que esses dois grupos dêem só 62. – o garoto argumentou.
– Ele está certo. – Solano concluiu e logo todos estavam brigando por causa do resultado, enquanto Mauricinho assistia a tudo sorridente.
– Você! – Alex vociferou mirando o rapaz de óculos escuros. – Você está envolvido nisso de alguma maneira. Eu sei disso!
– É claro que eu estou envolvido. Eu faço parte da chapa vencedora, sou o Diretor de Marketing do Grêmio Estudantil. – ele respondeu cinicamente.
– Por que não fazemos uma recontagem? – a diretora sugeriu e muitos alunos concordaram, incluindo Alex.
– Muito bem! Faremos uma recontagem. – Célia anunciou.


– Não será necessário, professora. – Madu interveio e avançou alguns passos ficando bem perto do tablado.
– O Alex está certo sobre tudo. Há algo errado nessa eleição e o Mauricinho está completamente envolvido nisso. – a garota emo revelou causando mais alvoroço e deixando o rapaz de jaqueta de couro pálido e sem ação. – E eu posso provar o que estou dizendo. – ela emendou antes que perguntas fossem feitas. – Ontem, ele e seu grupo playboy invadiram a sala dos professores e trocaram os votos. Eu vi o que faziam e após ameaçar a mim e aos meus amigos, e me bater, ele foi embora. – ela falou essa parte quase chorando. – Mas os segui sem que me notassem e vi quando jogaram os papéis originais no lixo. Eu os catei e os trouxe aqui. – Ela disse e tirou do bolso um saquinho com vários papeis.
– Essa é uma história e tanto, mocinha. – a professora disse abrindo o saquinho.
– Mas é a verdade, professora. – ela disse. – Desculpe-me, Manu, sei o quanto você queria ganhar, mas tenho certeza de que não iria querer que fosse trapaceando.
– Tudo bem, Madu. Isso é verdade, Maumau? – ela perguntou ao rapaz.
– Ora, é claro que não. Essa guria é louca. Está se voltando contra a própria chapa. Onde já se viu isso? – ele tentou se defender.
– Pois eu acredito na Madu. E é muito fácil provar. É só fazer uma comparação dos papéis que ela trouxe e os que foram contados e verificar a grafia. Nenhuma pessoa escreve igual a outra. – Alex disse.
– É claro que você acredita, Lemos. Você só não quer reconhecer a derrota. Para de ser um mau perdedor. – Mauricinho devolveu.
– Então, você não se importa de fazermos o teste? – Alex falou.
– Bom, eu... – o rapaz rico decidiu que não havia mais motivo para disfarçar, ele fora descoberto. – Era um plano perfeito e se a chorona aí não tivesse entrado para estragar tudo, teria dado certo. Mas você tinha que aparecer lá, não é mesmo? – ele se dirigiu a Madu e a empurrou contra a plataforma, no mesmo momento, Alex pulou e ficou de frente para o rival. A garota voltou para a multidão.
– Você é muito covarde mesmo, né? – Alex falou.
– Falou o defensor dos frascos e comprimidos. – o playboy zombou. – Você precisava ver sua cara quando o resultado foi divulgado. Foi hilário. – o rapaz continuou e Alex foi ficando nervoso. – Sabe, você me surpreendeu, a minha intenção era apenas humilhá-lo, mas quando contei os votos, percebi que sua chapa havia ganhado. Devo-lhe os parabéns. – ele bateu as palmas.
Alex estava começando a sentir algo que achou que nunca teria por ninguém, mas Mauricinho estava fazendo nascer o ódio no garoto. Seu corpo todo clamava por alguma atitude. Ele tentava se controlar e tentar não fazer besteira, quando a voz do rival continuou.
– E a única culpada por tudo ter dado errado é essa emo maldita. – ele gritou e levantou o braço direito para acertar a garota.
Tão rápido quanto o rapaz de jaqueta de couro, Alex segurou o golpe, com o braço esquerdo, antes de chegar em Madu e na mesma velocidade, com o outro braço, socou Mauricinho no rosto. O rapaz cambaleou e caiu. Durante o impacto, seus óculos escuros saíram de seu rosto e pararam na plataforma. Alex foi em direção ao objeto. Pegou-o e colocou-o.
– Isso é pra você aprender a nunca mais tentar bater em uma dama. – ele disse e em seguida um segurança chegou e levantou o garoto caído.
– Leve-o a minha sala. – a diretora gritou.
– Admitam, esses óculos ficaram bem melhor em mim. – Alex disse voltando-se para a grande multidão que assistia.
Após confirmar a quantidade de papéis recolhidos por Madu, a professora Célia anunciou a vitória da Abalo Sísmico com 284 a 228 votos da Ação. Solano e Hugo levantaram Alex e o jogaram para o alto várias vezes. Enquanto ouvia seu nome e o de sua chapa, o presidente do Grêmio Estudantil pensou que havia atingido o seu objetivo inicial. Alex havia atingido a popularidade.

terça-feira, 13 de março de 2012

As cartas


Carpo e Ana tiveram que segurar sua curiosidade, pois Lucy não lhes disse mais nada sobre a tal prima Bárbara até a hora do jantar. Quando eles se sentaram, não esperaram mais e, quase ao mesmo tempo, indagaram a garota.
– Nossa, gente! Como vocês são curiosos. – ela comentou, enquanto Maria lhe servia. – Obrigada, Maria. Eu vou lhes contar. O que querem saber? – ela provocou e encheu a boca com um pedaço de carne.
– Como você é enrolada, prima. Diz quem é Bárbara e como você sabe da existência dela. – Ana pediu.
– Foi logo que o nono morreu. Ele contou para mamãe que sempre manteve contato com o irmão caçula, Antonio, o qual eu passei a chamar de tio Toni. – ela disse abocanhando um pouco de arroz. – Enfim, desde que eles foram morar em estados diferentes, passaram a se comunicar por cartas.
– Tinha cartas entre ele e o meu pai também? – Ana quis saber.
– Não nas que o nono nos mostrou. Sinto muito, prima. Pelo que parece o seu pai se isolou dos outros. – Lucy falou fazendo uma cara triste. – Bom, em várias eles mencionaram suas filhas, e neta, no caso eu. – ela apontou para si mesma ao dizer isso. – Em uma dessas, tio Toni se referia a Bárbara, sua filha. E o endereço é de Curitiba, Paraná. Além de que eles sempre perguntavam e falavam sobre suas cidades. “Ei, Toni, como está Curitiba? Soube que está muito frio.” “É, Carlo, fratelo mio, o inverno sabe ser rigoroso aqui, mas e São Paulo? Ouvi dizer que aí não para de chover.” – a menina disse com uma voz grave tentando imitar os dois irmãos.


– Então, quando disse para passarmos em Curitiba e encontrarmos com a Bárbara, estava considerando o endereço utilizado para o envio das cartas? – Carpo quis confirmar.
– Exatamente. – a carateca respondeu.
– De quando é a última carta? – o rapaz perguntou.
– Uma semana antes de o nono morrer. Há uns dois anos, eu acho.
– Dois anos, hum... – o economista pensou. – Acho que dá para arriscar.
– Eu também, ainda mais que iremos encontrar a última Cesca e, com ela, a última chave. – Ana comentou.
– Sim, e vamos precisar de alguém que nos guie pela cidade e nos leve à Paranaguá. – Lucy emendou.
– Ei, ei, ei! – Carpo disse, chamando a atenção das Cesca para si. – Eu sou de Curitiba. Moro lá há anos. Será, sim, importante encontrarmos a prima de vocês, mas não por precisarmos de um guia. – o rapaz falou.
– Você é de Curitiba? Por que não falou antes? – Ana quis saber.
– Não surgiu oportunidade. – ele respondeu.
– Certo. Bom, podemos partir amanhã bem cedo, assim não pegamos o trânsito do pessoal que vai trabalhar. De carro, leva o que? Cinco horas? – Ana perguntou a Carpo, mas foi Lucy quem falou antes.
– Do que você está falando, prima? – ela perguntou. – Por que quer saber o tempo que um carro leva daqui até lá?
– Porque achei que fôssemos de carro. Não acho que vamos conseguir lugar em algum vôo amanhã. – a veterinária afirmou.
– Isso não será necessário. Iremos usar o jatinho da empresa. Mamãe disse que eu poderia usar em uma situação de emergência. Eu considero esse o caso. – Lucy explicou.
– Tem certeza, prima? Sua mãe pode achar ruim. – Ana disse relutante.
– Não tem problema, não. Ela disse que um dia eu terei que aprender a lidar com essas coisas, por isso depois que tomei banho, fiz umas ligações e já acertei tudo para amanhã. Antes do almoço, estaremos em Curitiba.
Lucy informou e um silêncio tomou controle do cômodo. Eles terminaram de comer e foram dormir. Enquanto processava as informações, Carpo lembrava como a menina tinha dominado a situação em tão pouco tempo. Ele achou muito legal o comportamento dela e ao mesmo tempo se sentiu bem por saber que ela não iria conseguir ficar no comando em um local desconhecido. Dessa vez aquela aventura doida os havia direcionado para o seu terreno. Pela primeira vez desde que se formou, Carpo estaria em casa.