terça-feira, 29 de março de 2011

A equipe

Reunidos no cômodo principal do que sobrou da oficina em que Joel e Charger trabalhavam, estavam cinco dos maiores criminosos ainda soltos de Curitiba, que esperavam Joel falar. Este observava os seus futuros parceiros de crime, pensando em como começar seu discurso.
Bomber, o especialista em bombas e armamento pesado. Tecno Léo, o craque em sistemas eletrônicos. Taís, a mecânica. Luiz Facada, um exímio atirador e manipulador de facas. Charger, também mecânico e motorista. Essa era a equipe formada por Joel para o seu grande plano.
– Boa noite, galera. To muito feliz que todos tenham vindo. Eu criei um grande plano para melhorar de vida, mas não conseguirei fazer isso sem vocês, e o melhor é que vocês também vão ganhar com isso.
– E que grande plano é esse? – perguntou Tecno Léo.
– Assaltar quatro grandes estabelecimentos da cidade e dividir o dinheiro entre nós, é claro. – explicou Joel.
– E quais serão os lugares? – perguntou Bomber.
– Calma, uma coisa de cada vez. Primeiro vamos falar da equipe, eu quero que vocês se conheçam e aprendam a trabalhar juntos, pois esses assaltos não serão fáceis e se algo der errado, vamos precisar contar uns com os outros. – disse Joel.
Ao perceber que todos assentiram com sua decisão, ele continuou.
– Como nem todos aqui se conhecem, eu vou falar o nome e função de cada um na operação. Bomber será o responsável pelas armas usadas pela equipe, assim como eventuais arrombamentos. Tecno Léo é o nosso nerd de computadores e eletrônicos em geral, ele vai desativar os alarmes e nos ajudar a usar o que quer que formos precisar de eletrônicos. Taís e Charger serão os mecânicos e motoristas. Luiz Facada tem grande habilidade com lâminas, por isso é uma importante peça do time. Eu, Joel Dasco, irei liderá-los e serei responsável pelas rotas de fuga e esconderijos pós operação. Dúvidas? – Joel finalizou.
– Você falou em armas, equipamentos eletrônicos, e motoristas, o que lembra carros, a minha pergunta é: como vamos conseguir isso? – perguntou Taís.
– Talvez, eu possa ajudar nisso. – disse um homem de terno e gravata que acabava de chegar.
– Senhores, e senhora, lhes apresento o último integrante da nossa equipe: o Sr. Olívio Barton. – disse Joel.
– O que esse cara ta fazendo aqui? – disse Charger, nervoso. – Já não basta ter tentado transformar eu e o Joel em dois bandidos quando éramos menores de idade? – ele provocou  
– E pelo visto não precisaram da minha ajuda não é? Com a diferença de que não são mais menores e agora podem ser presos e condenados.
– Não viramos bandidos porque quisemos, simplesmente aconteceu, não tivemos opção melhor. É como diz o ditado, quando a água bate na bunda, ou você aprende a nadar ou morre afogado. – filosofou Charger.
– Sábias palavras. E já que você gosta de ditados, aqui vai outro pra você: ou dança conforme a música ou sai da pista. – ele disse baixo, mas para que todos pudessem ouvir e notar a tensão entre os dois.
– Calma, vocês dois. – pediu Joel, ficando no meio deles. – Eu vou explicar tudo.
– Acho bom mesmo. – resmungou Charger.
– Eu conversei com o Sr. Barton, expliquei a situação e ele aceitou, gentilmente, nos patrocinar. Com a única condição de assaltarmos sua mais forte rival no mundo empresarial, mais 5% dos lucros obtidos. Eu achei bem razoável. – disse Joel.
Todos concordaram e mais uma pergunta surgiu.
– Então, ele vai pagar por tudo? Armas, eletrônicos, carros? – Facada perguntou.
– É, você vai pagar pelos carros, Barton? – provocou Charger.
– Sim, eu vou pagar todos os gastos até o último assalto, incluindo os carros. Que carro você gostaria, Charger? – Sr. Barton perguntou sem se abalar com a provocação.
– Ora, você ainda pergunta? – disse o rapaz com um sorriso.

Por que o Q.I. é tão importante hoje?

O Q.I, de que falo não é o famigerado e originalmente abreviado quociente de inteligência, mas sim o "quem indica" que é a maneira pela qual muitas pessoas conseguem empregos. Então, a pergunta é: e quem não tem alguém para indicar, como faz? Existem, é claro, muitas variantes, uma pessoa pode ter um currículo impecável e ser um péssimo profissional, outra pode não ter o melhor currículo do mercado, mas ter uma disposição e vontade de trabalhar incomparáveis. Mas como saber diferenciar? As entrevistas nem sempre cumprem esse objetivo, pois às vezes não tem como avaliar todos os lados de uma pessoa com algumas perguntas, saber seu ponto forte e fraco ou sua pretensão salarial não diz como ele ou ela é como profissional. A indicação, hoje, sobrepõe o currículo, pois se um funcionário ou chefe de alguma empresa indica uma pessoa, dependendo da importância do profissional indicador, o indicado será contratado na hora, não importando seu currículo. Isso pode ser bom ou ruim, uma pessoa que esteja precisando e que tenha vontade de trabalhar consiga a vaga ou alguém que não está nem aí, mas quer trabalhar ali por puro orgulho ou ego.
Não sei ao certo quando isso de indicação começou, mas sei que se algum dia acabar, ainda vai demorar muito. E por enquanto, eu fico esperando a pessoa que vai me indicar...

segunda-feira, 28 de março de 2011

Estilo mágico

Mily tentava se recompor da notícia que tinha sido publicada na capa do jornal sobre “a nova bruxa da cidade”, quando a organizadora do concurso de novos estilistas realizado pela FAAP, entrou na sala da jovem maga.
– Bom dia, turma! Todos preparados para o concurso? – ela disse toda animada, mas não recebeu resposta com a mesma empolgação. – Quero muita criatividade, hein. – vendo que ninguém sorriu para os seus comentários, ela decidiu ir direto ao assunto. – Bom, estou aqui para lhes dar uma dica muito importante. Sejam ousados, bastante ousados. A moda brasileira e mundial se inova a cada dia que passa, então é preciso ousadia para mostrar algo que os outros não tem coragem. Lembrem-se disso.
Com essas palavras, ela saiu da sala e deixou Mily com um sorriso no rosto e uma grande idéia. Ela não conseguiu mais se concentrar na aula e só sossegou quando pôde conversar com Graça novamente.
– Eu tive uma grande idéia. – ela disse à amiga.
– Antes me diz que você desenhou algum modelo. – quis saber Graça.
– Sim. Uma coleção inteira, mas vou criar outra para o concurso.
– Por quê? Se já tem uma coleção feita, vamos usá-la. – disse Graça.
– Aí é que entra a minha idéia. A coleção que eu fiz era boa, mas não era ousada. A que eu vou fazer agora vai ser muito ousada. – disse Mily.
– Ousada como? – perguntou a costureira.
– Lembra a notícia que você me mostrou da bruxa? Pois então, que tal fazermos uma coleção de roupa nesse estilo? Um estilo mágico. – sugeriu a futura estilista.
– É uma boa idéia, mas parece complicado. Você vai conseguir desenhar?
– Não se preocupe com isso, se preocupe apenas em conseguir os materiais e acessórios necessários para fazer os modelos. – disse Mily.
– Tá bom então. – aceitou Graça.
Depois da conversa, Mily saiu da faculdade e foi para o seu trabalho, toda animada e ansiosa para chegar logo em casa e começar a desenhar sua nova coleção. Absorta em seus pensamentos, a jovem maga não percebeu a presença de dois homens de terno e gravata que estavam observando todos os alunos e alunas da faculdade.
– Ainda acho que estamos perdendo tempo aqui. – disse o detetive Marcondes.
– Tem uma idéia melhor, Marcondes? – perguntou o detetive Caselato.
– Não sei, mas acho que não vamos chegar em nenhum lugar desse jeito.
– Olha, nossa única pista foi o fato de uma boate bem próxima do local ter sido reservada por alunos da FAAP, logo esse é o nosso ponto de partida.
– Eu sei disso, mas sem o mandado do juiz não podemos interrogar os alunos que estiveram lá. – disse Marcondes.
– Você tem razão. Vamos pra casa, pois quando tivermos o mandado, vamos ter muito que fazer. – disse Caselato.

domingo, 27 de março de 2011

Não consegue encontrar seu conto favorito no blog?

Para quem está perdido e sempre que chega tem um conto novo, resolvi criar um catálogo para ninguém mais se perder. Na ordem da semana e com os capítulos já postados:
Segunda-feira: A maga estilista
1 - A magia está no ar
2 - Caça às bruxas
Terça-feira: A arte de roubar
1 - Trabalhos pequenos
2 - Realidade
Quarta-feira: Zé Mané
1 - A inteligência vence a força
2 - Jogos da madrugada
3 - Vivendo perigosamente
4 - A Agência do Trabalhador
5 - A troca
6 - Agente Z
Quinta-feira: Tudo por uma notícia
1 - Descoberta
2 - Consequências
3 - Caçada
Sexta-feira: Popularidade
1 - Isolado
2 - Recrutamento
3 - Divindade

Com isso, acho que ninguém mais vai se perder. Farei isso toda semana, logo após o post do conto de sexta.
Espero que isso ajude em uma melhor visualização do blog.

Divindade

Atravessando a multidão de meninas que cercavam Solano, Diana e Alex chegaram até o artilheiro do time oficial do colégio Isaac Newton.
– Precisamos falar com você. – disse Alex cutucando com o dedo o rapaz mais popular do time de futebol.
– Autógrafo para os homens só durante os treinos. – disse Solano sem olhar para Alex.
– Eu não quero seu autógrafo. – disse Alex com uma careta.
– Então não atrapalha quem quer. Dá licença. – disse o jogador.
– O que temos a dizer está diretamente ligado com a sua popularidade no colégio. – Diana puxou a gola da camiseta do rapaz e falou bem baixo no ouvido dele.
  Popularidade era uma palavra muito forte para algumas pessoas do colégio, principalmente para Alex e Solano, pois um não tem e o outro tem em excesso. Popularidade não é algo fácil de conseguir, por isso quem tem não quer perder de jeito nenhum.
Os três conseguiram, com muita dificuldade, ficar a sós e longe das fãs do artilheiro. Impaciente por ter sido tirado de sua rotina, o jogador falou.
– Fala aí, casal.
– Não somos um casal. – se apressou Diana.
– É, não mesmo. – concordou Alex.
– Ta bom, mas falem assim mesmo. Tenho fãs me esperando.
– Bom você ter tocado nesse assunto. Muitas meninas te adoram e muitos meninos te invejam, não é mesmo? – começou Alex.
– É, nem todos no colégio me admiram. – confessou Solano.
– E se eu disser que tem um jeito de todas as meninas do colégio querer ficar perto de você e todos os meninos quererem ser como você? E se eu disser que posso fazer de você um deus do Isaac Newton?
– Eu perguntaria: Como? – disse o artilheiro.
– Muito simples: junte-se a nós em nossa chapa para concorrer ao Grêmio Estudantil e você será o deus que eu prometi.
– Hum, não sei não. Isso parece complicado. O que terei que fazer?
– Quase nada. Só entregar alguns panfletos, acompanhar a gente em uns encontros, mas não precisará falar nada.
– Eu consigo fazer isso. – disse Solano.
– Agora imagine, – começou Alex colocando a mão direita no ombro do jogador que era bem maior que ele. – você andando pelo colégio e todas, eu disse todas, as pessoas param para te olhar e pedir um autógrafo, meninas e meninos. As meninas querendo te beijar e os meninos querendo ter sua forma física e seu charme. – enquanto falava, Alex olhava para cima e esticava o braço, fazendo o artilheiro acompanhar seu olhar.
– Uau! Eu seria um deus. – se espantou Solano.
– Seria não, será. Basta se juntar a nós. – disse o rapaz menor.
– Muito bem. Eu to dentro. Podem contar comigo. – disse o jogador estendendo a mão para Alex.
– Ótimo. Você não vai se arrepender. – disse Alex, apertando a mão do artilheiro e sorrindo.
Enquanto via toda a conversa dos dois meninos, Diana admirava a maneira de argumentar de Alex. Ele parecia sempre saber o que dizer para convencer o outro a fazer o que ele queria. E quanto mais ela pensava, menos ela se arrependia de ter mergulhado de cabeça nessa aventura. 

sexta-feira, 25 de março de 2011

Caçada

Mais uma vez, ele se encontrava no meio da densa selva, mas dessa vez, ele não estava caçando os traficantes de animais, ele estava caçando com os traficantes de animais. Sua câmera e mochila ficaram no navio, mas o que realmente importava, o cartão de memória, estava com ele. Seu plano de fuga era simples: assim que a onça aparecesse, ele correria o mais rápido possível para uma direção oposta do animal, os bandidos não poderiam se preocupar com os dois ao mesmo tempo, mas nem sempre a prática é igual à teoria.
– Ela está perto. Eu sinto. – disse Everest que liderava o grupo de caça, formado pelo Sr. Krok, Sr. Araújo (Rubens) e mais dois capangas do bando.
Um rugido confirmou o que o grande homem havia falado. E Rubens percebeu que a hora de executar seu plano estava chegando. Os traficantes não deram uma arma para ele, pois isso facilitaria qualquer tentativa de fuga.
Mesmo desarmado e em minoria, o jornalista decidiu arriscar, porque se fosse pra morrer, ele preferia morrer no Brasil do que na Venezuela. Ele diminuiu seus passos, ficando para trás discretamente. Então ela apareceu. O felino mais bonito que Rubens já tinha visto, ele desejou estar com sua câmera para poder tirar uma foto daquele animal magnífico.
Após o encanto inicial, ele começou a etapa 1 de seu plano.
– Ahh! Onçaaa!!! – ele gritou e saiu correndo pela esquerda do grupo.
Todos, inclusive o animal, ficaram de olhos arregalados para a cena que lhes era apresentada. Mas logo voltaram a si.
– Ele está fugindo chefe? – perguntou Everest.
– Se estiver, não vai muito longe. Mas eu acho que essa foi uma tentativa frustrada de distrair a onça e nos ajudar. – disse Krok.
O jornalista continuou correndo até o seu fôlego acabar. Quando parou e respirou mais devagar, ele ergueu a cabeça e tentou se lembrar de suas aulas de sobrevivência na floresta. Então, ele sente um cheiro, um perfume de mulher. “Mas ali?” Ele pensa e resolve seguir o aroma. Enquanto caminhava em direção ao perfume, ele foi surpreendido e encostado em uma árvore, tendo uma lança apontada para o seu rosto.
– Será que todo dia vão me apontar algum tipo de lâmina?
A portadora da lança era uma bela índia de longos cabelos negros e lisos, que estavam jogados para frente, cobrindo seu busto. A sua expressão era nervosa e ela falou alguma coisa em seu idioma nativo, que Rubens não entendeu, mas mesmo assim ele respondeu em português.
– Olha, dona, eu não entendo nada que você ta falando. Mas eu sei que alguns índios sabem falar português, e eu espero que você seja uma delas porque eu realmente preciso da sua ajuda. – ele disse.
– Continue. – ela disse, baixando a lança.
Ele resumiu seu encontro com os traficantes de animais e de como ele estava disfarçado e tentando fugir deles naquele exato momento. Para a sorte do jornalista, a índia à sua frente era uma rebelde de sua tribo. Ao contrário das outras índias, ela preferia caçar e fazer todas as tarefas dos homens. Em uma de suas andanças pela floresta, a índia viu os homens brancos capturarem uns animais, o que a deixou muito irritada, mas ela não podia fazer nada, eles eram muitos e tinham armas de fogo.
– Traficantes de animais? – ela perguntou interessada.
– Sim e eles querem me levar pra Venezuela junto com os animais capturados. Por isso decidi tentar fugir na primeira oportunidade que tive, mas eu não deveria ter te encontrado. Se eles descobrirem você, podem te prender também. Temos que fugir rápido. – Rubens explicou.
– Não, não podemos deixar os animais lá. – disse a índia.
– Você tem razão, mas eu também não posso... espera aí! Eu tive uma idéia. E você vai me ajudar. – disse o jornalista.
– Conta comigo. A propósito, meu nome é Kaluana. – disse a índia.
– Muito bem, Kaluana. Serei breve, pois temos pouco tempo.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Agente Z

Acompanhado de Érica, Zé Mané entrou em um prédio na Avenida Marechal Deodoro da Fonseca, sem saber que ali era a sede da AGESP. Eles entraram no elevador e subiram até o último andar, o décimo. Sem dizer uma palavra, eles saíram e passaram pela mesa da recepção. Entraram numa sala com várias pequenas salas ligadas e no final do corredor pelo qual andavam havia um cômodo maior, para o qual se dirigiam.
A jovem espiã bateu à porta e, junto Zé Mané, entrou na grande sala após pedir licença para o robusto homem engravatado que se encontrava atrás da mesa. Ele acenou aos visitantes as duas cadeiras à sua frente.
– Trouxe os documentos, Érica? – ele perguntou.
– Estão aqui, senhor. – ela respondeu entregando o envelope.
– Muito bem, minha jovem. – ele disse depois de olhar rapidamente os papéis. – Agora, me diga, quem é esse zé mané?
Antes de entrarem no prédio, Érica instruiu Zé a não falar até que ela dissesse que podia, mas ele não estava se aguentando mais.
– De onde esse tiozinho me conhece Érica? – ele perguntou.
– Tiozinho? – disse o homem atrás da mesa.
– Ta bem, eu acho que eu devo uma explicação para os dois.
Ela contou a Zé Mané a história resumida da AGESP e de como ela se tornou uma espiã, contou que o homem que estava atrás da mesa era seu chefe e seu nome era Rodolfo Kusdra, e a este, ela relatou a troca que houve entre ela e Zé, e a aventura que os dois tiveram na parte da manhã.
– E, por isso, eu o trouxe pra cá. – ela finalizou para o chefe.
– Muito bem, eu vou mandar alguém preparar o quarto de hóspedes para o rapaz. – disse Kusdra.
– Como assim? Por que arrumar um quarto de hóspedes pra mim?
– Porque agora você é alvo de criminosos, eles acham que você é um espião. E como você não tem treinamento, é mais seguro para você ficar aqui na agência até a operação acabar. – explicou Érica.
– E quando vai acabar? – perguntou Zé.
– Com os documentos que eu conseguir, em uma semana, no máximo duas, o juiz deve expedir um mandado.
– Você ta louca? Eu não posso ficar duas semanas aqui.
– Eu acho que ele tem razão, Érica. – disse o chefe. – Ele vai nos dar muita despesa morando aqui.
– Isso aí, agora eu gostei tiozinho. – vibrou Zé.
– O que você sugere então, espertinho? – Érica provocou Zé.
– Eu tenho uma idéia. – interveio Kusdra.
– Tiozinho ta mandando vê.
– Você vai ser a guarda-costas dele, Érica. Vai ficar com ele até o fim da operação. – disse o chefe.
– Como é que é? – disse a jovem espiã indignada.
– Agora eu não curti não, tiozinho. – lamentou Zé. – Eu não ter uma guarda-costas.
– E eu não quero ser babá de marmanjo. – disse Érica.
– Mas é assim que vai ser. Agora, saiam daqui que eu tenho muito que fazer. – disse Kusdra.
Érica e Zé Mané saíram da sala grande e foram a uma das salas menores que estava vazia. Ela pegou sua mochila, abriu uma gaveta e passou algumas coisas da gaveta pra mochila.
– Tem uma foto 3x4 com você aí? – Érica perguntou com um pedaço de papel na mão.
– Tenho, por quê? – perguntou Zé.
– Me dá. – ela disse, estendendo a mão para pegar.
Zé deu uma foto 3x4 para Érica, que colocou no papel, após passar cola e entregou esse papel para o novo amigo.
– O que é isso? – ele perguntou.
– Sua carteirinha de espião. Se você saiu na chuva, agora vai se molhar. Seja bem vindo agente Z. – ela disse, enquanto Zé estava de olhos arregalados.

terça-feira, 22 de março de 2011

Realidade

A vida de Joel nunca foi fácil. Aos 12 anos perdeu sua mãe num acidente de carro e desde então seu pai se viciou na bebida. Com três irmãos mais novos e uma avó doente, o jovem Joel se obrigou a largar a escola e sair pra trabalhar. Ele tinha uma grande amiga que em seus tempos de folga ia à sua casa para lhe passar o conteúdo escolar para que ele não parasse de estudar. Isso aproximou muito os dois.
Mas essa rotina durou apenas 2 anos. Quando chegou ao primeiro ano do ensino médio, Lívia, a amiga de Joel, parou de ajudar o amigo. Ela mudou de bairro e colégio, e a distância impossibilitou o convívio dos dois. Ele seguiu sua vida e mudou de trabalho, de servente de pedreiro passou a assistente de mecânico, na oficina do bairro. Foi onde conheceu Charger, que passou a ser seu grande amigo e parceiro nas aventuras da vida.
Joel cresceu na empresa e aos 18 anos se tornou gerente, enquanto Charger continuava consertando os carros. Assim, cada um em sua área, eles evoluíram juntos. Então, Joel conheceu Mayara, uma menina linda que chamou muito sua atenção. Os dois se apaixonaram e namoraram por um tempo até que ela ficou grávida, e o rapaz se obrigou a casar.
Dois anos após o nascimento de seu filho, Joel se viu em uma difícil situação. Um incêndio ocorrido na panificadora ao lado da mecânica se espalhou, atingindo os barris de gasolina causando uma explosão imensa que assustou a cidade inteira. Como a mecânica não tinha seguro, Charger e Joel, naquela época responsáveis pelo local, pediram ajuda para a prefeitura, mas logo foi rejeitado o pedido.
Com a morte do pai e da avó, e com mulher e filho pra criar, e sem emprego, Joel sabia que não conseguiria cuidar mais de seus irmãos, Maicon, Josué e Janaína. Ele encontrou o número de uma tia e ligou pra ela, que logo em seguida foi buscar os seus sobrinhos. Sem saber o que fazer e sob a influência de Charger e outros amigos do bairro, Joel começou a roubar. Ele nunca foi preso, mas também não escondeu de sua mulher de onde vinha o dinheiro que pagava as contas no fim do mês.
Recentemente, Joel resolveu parar de roubar, mas só depois de um último assalto, o maior de todos. E ele decidiu contar para sua mulher.
– Amor, eu tenho uma coisa pra te contar. – ele começou, enquanto jantavam.
– Você vai parar de roubar e arrumar um emprego honesto? – ela perguntou esperançosa.
– Sim.
– Oh, meu amor! Você não sabe como eu to feliz...
– Mas... – ele a interrompeu.
– Ah, tinha que ter um mas, né? – ela fez uma careta.
– Eu quero fazer uma última série de roubos, em lugares estratégicos, com muito dinheiro. O suficiente pra gente se mudar e recomeçar a vida numa cidade pequena. – ele falou com um sorriso no rosto.
– Você ta louco? Você tem sorte de nunca ter sido preso. Ta querendo quebrar esse tabu é? Por favor, não faz isso Joel. – ela pediu.
– Eu vou fazer por nós três. Fique tranquila, vai dar tudo certo.
– De repente, eu perdi o apetite. – ela disse e saiu da mesa.
– Droga! – ele praguejou, depois que ela saiu.
Ele foi ao quarto e colocou uma blusa com capuz. Voltou pra sala e passou pela cozinha.
– Vou sair. – ele avisou e beijou Mayara no rosto.
– É claro que vai. – ela falou pra si mesmo após ouvir a porta bater.
Ao abrir o portão pra sair, Joel viu Charger chegando.
– Aconteceu alguma coisa? – ele perguntou.
– Eu que pergunto, mano. A galera ta toda agitada, esperando você.
– Então você conseguiu encontrar todo mundo? – perguntou Joel.
– Você tinha alguma dúvida disso? – Charger piscou pro amigo e os dois caminharam pela rua.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Caça às bruxas

Mily morava em um modesto apartamento de dois quartos, cozinha, sala, lavanderia e um banheiro. Ela não recebia visitas, devido ao quarto de hóspedes servir como depósito para seus artefatos mágicos. Ela não via TV sempre, mas se informava através da internet. Porém naquele domingo nem isso ela fez, pois acordou muito inspirada e desenhou o dia inteiro.
O grande motivo que a inspirou foi o fato de terem um concurso para novos estilistas em sua faculdade e ela e sua amiga, Graça, combinaram de participar. Graça iria costurar e Mily iria desenhar os modelos. Os vencedores ou as vencedoras do concurso teriam seu vestido lançado e desfilado na São Paulo Fashion Week, o que era mais um motivo para a jovem maga caprichar nos modelos.
No dia seguinte, ela chegou à faculdade tranquila como sempre e logo encontrou Graça no corredor próximo à sala da primeira aula delas.
– Mily, você já viu os jornais hoje? – perguntou a amiga agitada.
– Oi pra você também. O que houve? – quis saber Mily, que somente depois de ver a expressão da amiga, notou que todos estavam lendo o jornal do dia.
– Tem uma bruxa na cidade. – Graça sussurrou e entregou o jornal para a amiga.
– Como é que é? Deixa eu ver isso? – disse Mily, pegando o jornal.
A jovem maga ficou espantada com a matéria da primeira página, que dizia: “Está aberta a caça às bruxas!”; e como subtítulo: “O detetive de polícia, Gilberto Capelário, disse que o objetivo principal agora é capturar e prender essa bruxa a qualquer custo”.
– Eu definitivamente não devia ter levado a pedra negra aquela noite. – pensou Mily após ler a manchete.

domingo, 20 de março de 2011

Qual é o sentimento de se formar?

Hoje eu posso responder isso. É uma mistura de liberdade com dever cumprido. É uma sensação maravilhosa. Sexta-feira, dia 18, foi a minha formatura. Foi feita a cerimônia da colação de grau e logo em seguida um jantar de comemoração. Tudo saiu conforme o planejado. Eu tive alguns imprevistos com convidados, mas de resto foi perfeito. Tinha até DJ e sobremesa. E se parar pra pensar, foi feito muita coisa, afinal todo planejamento da cerimônia e jantar foi feito a menos de um ano, dá pra acreditar? Durante esse tempo tivemos mais gastos do que tivemos no curso todo. Simplesmente por algumas horas que passaram tão rápido quanto uma boa noite de sono. Mas valeu a pena, valeu muito a pena. Eu aproveitei cada minuto. Mas como eu disse tive alguns imprevistos. Uma das minhas melhores amigas não pôde ir ao jantar, e talvez nem tivesse ido na colação, mas ela foi, lutou contra o imprevisto dela que a impediu de ir ao jantar. Um grande amigo meu também não pôde ir à colação, mas, assim como minha amiga, ele lutou contra o seu imprevisto e conseguiu dar uma passada no jantar.
Fora o encontro harmonioso dos meu pais, que são separados. E de todos os meu familiares e amigos mais chegados. A grande moral da história: a formatura teve vários significados, libertação, dever cumprido, mas acima de tudo confirmou as minhas amizades, e de que eu fiz certo ao me rodear dessas pessoas, pois eles sempre estão comigo, e se alguns deles não podem estar lá completamente, dão um jeito de estarem pelo menos parcialmente. Mas o meu círculo social não é tão limitado assim, foram 16 pessoas no total para o jantar e colação, mas se eu pudesse teria chamado umas 30 pessoas ou mais. Então se você está lendo esse post e não estava lá, saiba que eu gostaria que você estivesse, mas infelizmente não deu, pois o número de convites era limitado.
Enfim, querendo ou não, agora estou oficialmente formado.
Olá mercado de trabalho, eu sou um Tecnólogo em Radiologia.

Recrutamento

O colégio Isaac Newton era um dos mais novos e renomados no ramo de colégios integrais já com o novo sistema de ensino de 9 anos. Sua estrutura principal era em forma de U e a frente da instituição era a base da letra. Três andares preenchiam essa primeira construção e uma ponte transparente ligava os terceiros andares das pontas sem ligação. No “interior” do U havia um pátio com alguns bancos para os estudantes sentarem e conversarem durante os intervalos. Atrás dessa estrutura, um corredor coberto ligava a cantina à quadra de esportes, situada na parte direita e ao fundo do terreno.
Próximo à quadra havia um banheiro, e à este um pinheiro. Na frente da quadra e do lado direito do U havia um sobrado onde ficavam os laboratórios e salões de artes e música, e também tinha uma ligação com o prédio principal. Na parte mais esquerda do terreno havia um grande gramado com algumas árvores plantadas, caminhos de pedra e mais bancos. Os três andares do prédio principal suportavam cada um três salas de três anos diferentes. Era assim dividido: no primeiro andar se encontravam os anos 1, 2 e 3; no segundo andar, os anos 4, 5 e 6; e no terceiro ficavam os anos 7, 8 e 9. Havia duas turmas de cada ano. Do lado esquerdo ficavam as turmas A e do lado direito, as turmas B.
Alex era da sala 8A e, enquanto a professora de história falava sobre a Guerra do Paraguai, ele pensava quem iria chamar primeiro para se juntar a ele em sua chapa para concorrer ao Grêmio Estudantil do colégio. Foi quando ele olhou para a primeira carteira da fila ao seu lado e viu Diana Meinhart, a garota mais inteligente do colégio. Ela tirava no máximo 10 e mínimo de 9 em suas provas, na verdade esse 9 foi tirado na prova de uma professora novata que corrigiu errado e foi demitida por isso.
Olhando ela, Alex se lembrou deles nos primeiros anos do colégio. Ele tentou ser amigo dela uma vez, mas não deu certo. Eles foram estudar juntos e, enquanto Diana entendia uma página, Alex entendia um parágrafo. Depois disso, eles se falaram muito pouco, o garoto nem lembrava a última vez em que tinham se falado. Ele pensou que seria ótimo ter alguém com a inteligência dela em sua chapa.
Quando a menina olhou para falar com a colega de trás, Alex viu algo que fez ele se decidir mais ainda. Ele não se lembrava de quão bonita ela tinha ficado. Ela era morena, com cabelos negros e lisos até os ombros, com franjas sobre a testa, usava óculos, e era magra, mas, como ele pôde notar melhor, uma magra atlética. E naquele dia, ela tinha puxado o cabelo de um lado para trás e prendido com uma presilha, mostrando sua orelha que combinava muito bem com seu rosto liso sem nenhuma espinha.
Alex ficou fascinado com a idéia de ter uma garota super inteligente e bonita em sua chapa, e decidiu falar com ela assim que possível. E foi o que ele fez no próximo intervalo entre aulas que teve.
– Oi, Di. – ele disse, puxando uma cadeira e ficando do lado dela.
– Oi, Alex. – ela cumprimentou com um olhar interrogativo.
– Então, como você ta? Há quanto tempo não nos falamos, não é?
– Mais de um ano, pra dizer o mínimo. O que você quer, Alex?
– Olha, eu sei que não tenho sido o melhor amigo nesses últimos anos, mas... – ele se interrompeu ao ver a cara de reprovação de Diana. – Ta, eu não tenho sido amigo de espécie nenhuma durante os últimos anos. Mas eu gostaria muito que você me desse uma segunda chance, que você desse uma segunda chance para nossa amizade. Lembra como éramos no primeiro ano?
– Eu lembro, mas desde então muita coisa mudou e não tem como voltar atrás. Como sugere que nossa amizade comece novamente? – Diana perguntou.
– Vamos criar uma chapa e concorrer ao Grêmio Estudantil.
– E como vamos fazer isso?
Nesse momento, a professora chegou e Alex teve que voltar a sentar em seu lugar. Enquanto voltava, ele fez um gesto de depois para Diana.
O sinal para o recreio tocou e os alunos saíram rapidamente, indo em direção às escadas, já que tinham um longo caminho até a cantina. Alex pegou a mão de Diana e ela, com uma maçã na outra mão, o acompanhou. Eles foram para a ponte de ligação entre os dois lados do U e ficaram vendo o povo em baixo deles.
O rapaz contou para a amiga o seu plano de chamar um de cada tribo social diferente e diversificar sua chapa para, assim, ter mais votos. Ele omitiu, é claro, que seu principal objetivo era a popularidade.
– Quem você pretende chamar agora? – ela perguntou.
– Eu não sei. Precisamos de alguém que cause um efeito positivo nas pessoas, que, quando passe pelos corredores e pátios, seja aclamado pelos outros alunos. E ao fazer isso, essa pessoa vai passar um pouco desse carisma pra gente e pra chapa inteira.
– Que tal o Ramon Solano, o artilheiro do time de futebol? Ele é bonito, alto, forte e popular. – ela sugeriu apontando para o rapaz abaixo deles.
– Ótima idéia, Di! Ele é perfeito, é adorado pelas mulheres e invejado e admirado pelos homens. É tudo que precisamos agora. Ele vai fazer com que todos os que eu penso em chamar, aceitem o convite sem pensar duas vezes. – ele disse, animado.
Ao ver a animação do amigo, Diana se empolgou também, e decidiu entrar de cabeça naquela aventura, pois isso era tudo que ela precisava.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Blog ou canal de TV a cabo?

Bom, acredito que quem segue esse blog desde o começo já está notando as diferenças em seu formato. Antes era postado uma indagação um dia e conto no outro. Agora temos um novo padrão, os contos serão postados durante a semana de forma seriada, ou seja, em dias fixos com continuação na próxima semana. Vocês devem ter notado que vários capítulos 1 foram postados desde a última quinta feira. Isso porque o Zé Mané estava se sentindo muito sozinho, sendo o único personagem do blog. Então criei mais personagens com histórias próprias para fazer companhia a ele. Os contos serão necessariamente postados durante a semana. Nos finais de semana vão haver indagações, mas isso não significa que não possa ter indagações durante a semana também. Seguindo como base os seriados norte americanos, as histórias atualmente postadas serão divididas em média de 20 a 24 capítulos, sendo substituídas logo em seguida por novas "séries". Espero que curtam o novo formato e se alguém tiver alguma sugestão, é só falar.

Consequências

Mesmo não estando mais na mira das suspeitas dos bandidos e nem do filho do prefeito de Manaus, Rubens teve sua câmera confiscada, afinal eles não podiam arriscar, não é mesmo? Apesar disso, o jornalista infiltrado tinha total acesso ao navio e o seu interior, menos, é claro, aos aposentos pessoais do chefe e do filho do prefeito. Sem ter o que fazer, ele decidiu explorar o navio, e encontrou uma sala bem abaixo, com as jaulas que foram trazidas com os animais dentro. A maioria estava dormindo, ou tentando, mas um macaco estava muito nervoso e ficou mais ainda quando Rubens foi tentar acalmá-lo.
– Eles ficam bem nervosos no começo, mas logo passa. – disse o chefe ao ver o macaco quase morder seu convidado. – Primeiro há uma agressividade compulsiva e depois vem a resignação do fato. Acho que é uma reação normal de quem é preso. Agora venha, vamos jantar. – o anfitrião convidou.
Enquanto o chefe voltava pelo caminho que veio, Rubens pensava em como gostaria de ver a reação “normal” daquele homem ao ser preso. Os pratos servidos no jantar estavam apetitosos e o jornalista não ia fazer cerimônia. Um peixe assado, como prato principal, acompanhado de bolinho de bacalhau e peixe grelhado, uma salada com os mais diversos legumes e verduras, e todo o vinho que quisesse beber. Rubens sabia que no jantar ele seria interrogado, mas também seria uma ótima oportunidade para ele obter mais informações, por isso assim que sentou, ligou o seu gravador.
– Conte-nos um pouco mais sobre o senhor, Sr. Araújo. – começou o chefe. – Tem família? É casado? Trabalha em que exatamente?
Rubens respondeu no tom mais normal que conseguiu.
– Sou fotógrafo e não sou casado. Estou apenas curtindo a vida.
– Você está mentindo! – esbravejou Bruno Pavão, o filho do prefeito.
Todos olharam para o jornalista, que ficou pálido na hora. Em seguida o acusador voltou a falar.
– Você tem cara de casado. – ele disse e todos riram.
Rubens respirou aliviado.
– Todo mundo me diz isso. – ele disse entrando na brincadeira.
Após alguns minutos de silêncio, o jornalista começou outro assunto e decidiu que era sua vez de fazer as perguntas.
– Eu posso fazer uma pergunta, senhor...
– Krok, pode me chamar de Krok, e o senhor pode fazer quantas perguntas quiser Sr. Araújo.
– Muito bem, Sr. Krok, o que vocês vão fazer com os animais que estão lá embaixo?
– Ora, Sr. Araújo, essa é muito fácil, nós vamos vendê-los, é claro.
– Aonde?
– Na Venezuela, que é para onde estamos indo.
– Para quem? – continuou o jornalista, notando que as respostas estavam vindo fáceis.
– Para compradores do mercado negro.
O mercado negro. Rubens sempre achou que era um mito, algo criado pelos próprios traficantes para proteger suas fontes, mas agora ele estava começando a acreditar que existia.
– Hã... eu gostaria de ficar aqui no Brasil mesmo, se não se importa. – pediu o jornalista.
– Isso não será possível, Sr. Araújo. O senhor tem que entender o meu lado, o senhor sabe demais. Vai até o fim com a gente. – o chefe finalizou.
Rubens não conseguiu comer mais.
Depois que todos estavam dormindo, o jornalista ainda ficou acordado por um tempo, foi para a área externa do navio e refletiu as últimas notícias. O que parecia ter sido uma grande vantagem antes, naquele momento parecia uma morte iminente. De que adiantava ele poder ter todas as informações que quisesse, se não pudesse sair dali e publicá-las em forma de matéria? Krok apareceu, enquanto Rubens pensava num jeito de fugir dali.
– Sem sono, Sr. Araújo? – perguntou o anfitrião.
– É. – concordou desanimado.
– Se eu fosse o senhor, descansaria, porque amanhã será um dia bem puxado e talvez precisemos da sua ajuda.
– O que vamos fazer amanhã? – perguntou o jornalista.
– Capturar o último animal que nos falta.
– Que animal?
– A onça pintada.

quarta-feira, 16 de março de 2011

A troca

Érica saiu da papelaria e caminhou em direção à AGESP, a Agência de Espionagem. Qualquer pessoa que a visse entrando na sede da agência, não poderia imaginar que lugar era aquele. Somente alguém que já soubesse que ela era uma espiã e quisesse saber onde ficava o local da agência, teria essa informação, como o homem de terno que a estava seguindo desde que ela saiu de casa. Ela ainda não sabia que estava sendo seguida, quando decidiu traçar a sua trajetória pela Travessa da Lapa, mas o seu treinamento de espiã lhe dizia que algo estava errado. Uma simples olhadela para o lado resolveria isso.
Ao virar o rosto e olhar com o canto do olho ela comprovou o que suspeitava e agradeceu seus instintos, vendo o homem de terno. Mas não foi só um homem de terno que ela viu. Ela viu um homem de terno, usando óculos escuros, com um penteado impecável, sapatos engraxados, uma saliência no bolso direito da calça, talvez um celular, se tivesse uma arma, estaria por baixo do paletó. Ela não esperava menos de seus inimigos. Érica voltou a olhar pra frente, mas com o pensamento em seu perseguidor, por isso ela não notou um rapaz de camisa xadrez e cabelo arrepiado que vinha em sua direção.
Zé Mané andava calma e distraidamente pela galeria, já pensando em seu primeiro salário, fazendo com que ele também não visse a bela mulher que caminhava em seus futuros passos. A jovem espiã olhou para trás mais uma vez ao ouvir um barulho diferente, apesar de todo o barulho do ambiente ela pode notar a diferença, afinal isso também fazia parte de seu treinamento. Ela tinha planejado correr assim que chegasse à esquina, para não ser acertada pelo homem de terno, mas seu plano teve de se adiantar. Ao olhar pra trás pela segunda vez, ela viu o homem com arma na mão e se preparando para atirar.
Érica voltou o olhar e se impulsionou pra correr, quando trombou com Zé Mané. Seus envelopes brancos caíram, se misturando, no chão.
– Me desculpe moça. Eu estava distraído. – falou Zé.
– Tudo bem. Não foi nada. – disse Érica educadamente, enquanto pegava um dos envelopes e olhava rapidamente pra trás.
Zé Mané a ajudou a se levantar e após agradecê-lo, ela começou a andar mais rápido. O rapaz voltou a seguir seu caminho, quando um homem de terno o empurrou.
– Sai da frente, ô zé mané. – ele disse bruscamente.
– Ei, Qual é? – disse Zé nervoso pela falta de educação do outro. – E de onde você me conhece? – ele disse depois de pensar um pouco.
Érica se misturou à multidão, mas de vez em quando olhava para trás para saber a que distância se encontrava de seu perseguidor. Com sua agilidade, ela podia passar pelas pessoas sem encostar muito nelas, já o homem de terno usava de empurrões para abrir caminho. A sorte da moça acabou logo, quando ela teve que parar em um sinal fechado. Os poucos segundo que ela ficou parada pra pensar aonde ir, foram suficientes para ela ser alcançada por seu perseguidor.
Ele encostou a arma em suas costas, segurou seu braço esquerdo, chegou seu rosto do lado do dela e disse:
– Me da o envelope.
Zé Mané havia chegado à Avenida Visconde de Guarapuava, mas não sabia para onde ir agora, direita ou esquerda. Ele resolveu abrir o envelope para saber o número, mas para sua surpresa nem seu currículo, nem a ficha que havia recebido na agência do trabalhador, estavam ali.
– Mas o que...? – ele falou e logo se lembrou de seu trombo alguns minutos antes. – É claro, aquela garota, ela ta com o meu envelope.
Ele começou a correr pelo caminho de volta.
O homem de terno pegou o envelope e empurrou Érica para o meio da rua no momento exato em que o sinal ficou verde para os pedestres e uma massa de gente passou a atravessar dos dois lados. A jovem espiã tentava nadar contra a “correnteza” de pessoas para revidar o golpe de seu inimigo, que abria, com dificuldade, o envelope em meio à multidão. Ela já estava perto, quando ele ergueu a cabeça e a viu, e apontou a arma pra ela.
– Isso é algum tipo de brincadeira? – ele disse, largando o envelope, puxando o cabelo dela pelo rabo de cavalo e colocando a arma bem em baixo do seu queixo, fazendo seu pescoço inclinar bem para trás.
Ela teve que pensar rápido, pela reação dele, ela entendeu que tinha pegado o envelope errado quando trombou com o rapaz da galeria. Então, ela precisava decidir como agir naquela situação. Ela resolveu desviar o assunto.
– Não sei do que você está falando. – ela disse sob a mira da arma.
– Olha aqui, garota, você já me irritou bastante hoje, então é melhor você me dizer onde estão... Ah! – ele se interrompeu e Érica sabia que ele também tinha ligado os pontos. – Aquele zé mané da galeria. Ele também é espião, não é? Vocês acharam mesmo que iam conseguir me enganar? Foi um bom plano. Pena que isso vai fazer com que você perca sua vida.
– Ei moça! – gritou Zé Mané a alguns metros de distância dos dois.
O homem de terno soltou o cabelo de Érica e virou o corpo para ver Zé Mané. A jovem espiã aproveitou a distração e deu um soco no rosto de seu inimigo. Não querendo um confronto direto naquele momento, ela pegou o envelope de Zé e correu na direção dele.
– Corre! – ela gritou pra ele.
Ele começou a correr, mas olhando e esperando por ela.
– Vamos trocar os envelopes. – ele disse quando estavam lado a lado.
Eles trocaram os envelopes, e ao chegarem à esquina, ela virou pra direita e ele virou para esquerda.
– Até mais. Eu vou pra esquerda. – ele avisou.
Ela voltou de seu caminho e puxou ele pelo braço.
– Ah, não vai não. – ela disse.
– Por que não?
– Porque agora você ta correndo um grande perigo. Quando aquele cara levantar ele vai vir atrás de nós. Eu, sozinha, sei me cuidar e você?
– Mas é que eu tenho uma entrevista de emprego agora.
– O que é mais importante: sua vida ou a probabilidade de um emprego?
– Bom... agora você me deixou em dúvida.
– Escuta aqui, seu zé mané, você vai vir comigo, quer queira, quer não, porque eu não vou levar a sua morte na minha consciência, você entendeu? – ela disse segurando forte a gola da camisa dele.
– Sim. – ele respondeu baixo.
– Vamos. – ela disse, puxando ele para o caminho da direita.

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– Alô, chefe... Não eu não consegui recuperar os documentos... Ela não estava sozinha... É, ela tem um cúmplice... Ah é só um zé mané aí... Pode deixar, eu já estou indo. – disse o homem de terno no telefone após se levantar.

terça-feira, 15 de março de 2011

Trabalhos pequenos

Era pra ser mais uma noite de ronda normal, quando os dois policiais mais próximos receberam o informe de um assalto a caixas eletrônicos. Ao chegarem lá, eles ainda viram os dois assaltantes entrarem no carro, e logo teve início uma perseguição de carro. Os policiais chamaram reforços, é claro, mas até que eles os alcançassem iria demorar, ainda mais que eles estavam em movimento.
Os dois carros estavam em alta velocidade, afinal um não queria ser alcançado e o outro queria alcançar. Os bandidos viraram em uma via rápida da cidade de Curitiba, com quatro faixas eles poderiam se mover melhor. A rua estava praticamente vazia, devido ao horário. Num trecho de descida havia um semáforo, e quando o carro perseguido se aproximou dele, ele passou para o amarelo. A rua que cruzava tinha alguns carros esperando sua vez.
– Eles não vão passar. – disse um policial.
Enquanto os policiais torciam para os ladrões pararem o carro e se entregarem, os fora da lei viam naquele furo de sinal sua única chance de fugir.
– Acelera! – disse Joel Dasco, que estava no banco carona do carro dos bandidos, e pisava por cima do pé do amigo no acelerador.
– Não vamos conseguir! – disse Márcio Oliveira, o parceiro de Joel e motorista do carro fugitivo aquela noite. Ele era mais conhecido por seu apelido Charger, por ser seu carro preferido.
Eles passaram quando o semáforo já tinha ficado vermelho. A primeira e a segunda faixa foram fáceis, pois os dois primeiros carros os viram, mas na terceira faixa, um carro que vinha de trás acelerou com tudo, pois tinha sinal verde para ele.
– Carro! Ai, meu Deus! Nós vamos morrer! – disse Charger vendo o carro se aproximar deles rapidamente.
– Rápido, vira pra esquerda. – disse Joel.
– O que? – perguntou Charger.
– Faz o que eu disse.
Ele virou pra esquerda e Joel puxou o freio de mão, isso fez com que, na velocidade em que estavam, a parte traseira do carro girasse pra direita.
– Agora pra direita! – gritou Joel.
Charger virou rapidamente pra direita e deslizou pela pista, vendo o carro que quase acertou eles, passar direto.
– Agora, endireita a direção, acelera de novo e tira a gente daqui. – disse Joel, soltando o freio de mão.
– Por que você não disse pra eu fazer um drift pra direita? –
– Eu não podia arriscar, vai que você não entendia.
No carro de trás, os policiais assistiram a cena de queixo caído, e ficaram parados no sinal vermelho vendo os bandidos virarem uma rua à direita e sumirem na noite.
Joel e Charger deixaram o carro na garagem de uma casa “sem dono”, tiraram a placa e a capa de pintura falsa, e pela primeira vez naquela noite, relaxaram. Tiraram as mochilas cheias de dinheiro e foram pra rua, tomar o rumo de suas casas.
– Ainda não acredito que conseguimos, nós quase morremos hoje. – Charger quebrou o silêncio.
– É, e o pior é que foi por uma mixaria. Sabe, eu to cansado desses trabalhos pequenos, eu to cansado de arriscar minha vida toda noite. – se queixou Joel.
– Mas o que podemos fazer? Roubar é o que fazemos de melhor. E esse país de merda em que vivemos não da oportunidade pra pobre subir na vida. – se explicou Charger.
– Eu concordo com você. Por isso, eu estive pensando, o que você acha de fazermos uma última leva de assaltos, mas assaltos grandes. Depois deles, sumimos com a grana e recomeçamos em alguma cidade pequena. – ofereceu Joel.
– É uma boa idéia, mas como faremos isso? Vamos precisar de mais gente.
– Sim, vamos. Mas deixa que eu cuido disso, apenas se prepare porque nós vamos agitar essa cidade nos próximos meses.

segunda-feira, 14 de março de 2011

A magia está no ar

A turma do 3º ano de Moda da FAAP, de São Paulo, começou com 40 alunos, mas após algumas saídas, chegou à um número de 20. Com a maioria de mulheres, 15 mulheres e 5 homens, pode-se imaginar como é a rotina deles né? Duas delas, Milena e Graça, são grandes amigas desde o início do curso, e elas já tem planos conjuntos para o futuro. Graça sempre foi uma costureira talentosa e desde cedo já fazia ela mesma os vestidos de suas bonecas, enquanto Mily, como era mais conhecida, tinha uma criatividade incrível para roupas, e seus desenhos desbancariam muito estilista famoso.
Apesar de toda essa amizade e confiança, havia algo que Mily não compartilhava com sua melhor amiga, algo que ia ser muito útil, na volta de uma balada no sábado à noite. Graça não quis sair naquela noite, mas Mily foi mesmo assim, pois segundo ela, precisava mexer o esqueleto e esquecer o estresse da semana.
Sem a sua amiga para dançar e lhe fazer companhia, Mily, que tinha os cabelos ruivos e ondulados, resolveu ir embora mais cedo. Havia um ponto de táxi a algumas quadras da boate, mas numa cidade como São Paulo, andar algumas quadras às 2h da madrugada, podia ser bem perigoso.
 Um pouco antes de chegar à uma esquina, três homens, de média estatura e mal encarados, interceptaram Mily. Um deles abriu o canivete e apontou pra ela.
– Calma aí, gatinha. – disse o cara com o canivete. – Antes de seguir seu caminho, passa sua bolsa pra gente.
– E por que eu faria isso? – disse Mily, ao mesmo tempo em que o poste próximo a eles começou a piscar.
Os três olharam meio assustados para o poste, mas logo voltaram sua atenção para sua vítima. Um deles avançou nela.
– Não complica garota. – disse enquanto avançava o braço direito dele para a bolsa dela que estava em seu braço esquerdo.
Ela deu um salto para o seu lado esquerdo, em direção a rua, ao mesmo tempo em que o vidro do poste explodiu. Na fração de segundos em que os cacos de vidros iam cair no chão, os três bandidos se impulsionaram na direção de Mily, e ela usou sua magia para jogar os pedaços de vidro nos assaltantes, que foram jogados com toda a força contra a parede.
A garota ruiva abriu sua bolsa e tirou uma pedra preta de dentro. A pedra era tão escura que luz alguma refletia nela. Enquanto os três homens tentavam se levantar para revidar o golpe, Mily se aproximou deles com a pedra na mão direita.
– Sabem, essa pedra amplia os meus poderes sobre as trevas. Digam-me rapazes, vocês tem medo do escuro? – ela disse com uma expressão sombria no rosto.
Uma aura negra envolveu os assaltantes que ficaram no chão, enquanto Mily seguia seu caminho.
– Eu devia ter trazido outra pedra. Senão alguém pode pensar que eu sou uma maga do mal. – ela falou pra si mesma.

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Pela manhã, os moradores da região encontraram três rapazes caídos, babando e com olhar fixo, no chão. Logo, eles chamaram a polícia, que os identificou como procurados, e enquanto eles colocavam os prisioneiros para o camburão, esses falavam palavras soltas, que poderiam muito bem ser úteis numa futura investigação.
               – Bruxa... magia... trevas... – eles repetiam.

domingo, 13 de março de 2011

Por que temos que errar antes de acertar?

Por que na maior parte de nossa vida cometemos erros antes de acertarmos? Por que não acertamos logo de uma vez? Não é sempre assim, claro, só nas questões mais difíceis, como faculdade, relacionamentos, trabalhos, e por aí vai. É como num jogo de videogame, as fases mais fáceis, passamos de primeira, mas conforme a dificuldade aumenta, a gente morre e precisamos refazer a fase, e já sabemos o que não fazer, o que não é necessariamente uma garantia de que não vamos fazer de novo. Na vida real é bem parecido, mas nós não "morremos", obviamente, cada vez que cometemos um erro, apenas devemos arcar com as consequências que ele nos traz. Há alguns erros, dos quais nos arrependemos completamente, que se pudéssemos voltar atrás faríamos diferente. Já outros, nos levam ao acerto, ou seja, precisamos passar por esse erro para aprender algumas coisas antes de chegar no certo. Às vezes não sabemos diferenciar o tipo de erro quando realizamos, nem mesmo sabemos que é um erro. E só no futuro é que vamos descobrir se foi um erro bom ou ruim.
Mas independente disso, os erros fazem parte da vida, assim como nos jogos virtuais não é possível passar por todas as fases sem levar dano, não é possível viver sem cometer erros. Só é preciso saber identificá-los.

sábado, 12 de março de 2011

Seleção natural ou aviso divino?

Desde o século passado, a natureza tem se rebelado agressivamente contra o homem. Furacões na América do Norte, enchentes no Brasil, frio intenso na Rússia, terremotos em várias partes do globo, entre outros. Sempre que algo assim acontece, os governantes que deveriam ser responsáveis pela segurança pública dão alguma desculpa e dizem que da próxima vez estarão preparados. Reuniões entre todos os países são realizadas, mas de nada adiantam, pois nada é feito ou mudado para evitar outro desastre natural.
Darwin diria que isso nada mais é do que a seleção natural, que segundo ele é a sobrevivência do mais forte e esses eventos ocorrem para "selecionar" os mais fortes, no caso, os sobreviventes, assim como é na natureza. De um ponto de vista mais prático e menos emocional, se todas as pessoas que morreram em desastres naturais estivessem vivas, estaríamos caminhando para a concretização da teoria de Malthus, na qual ele diz que no futuro ficaríamos sem ter o que comer, pois a população cresce em progressão geométrica e os alimentos que ela consome em progressão aritmética. Por outro lado, não seria isso um aviso divino? E se a cada catástrofe desse tipo que acontece, Deus estivesse nos dizendo para cuidarmos mais do planeta, nos preocuparmos em ajudar mais uns aos outros e não só a nós mesmos?
Nos EUA periodicamente tem furacões, e nunca muda nada, é como se fosse o primeiro furacão sempre, e olha que estamos falando dos EUA hein! Agora descendo um pouco, chegamos no Brasil, e temos a oportunidade de um déjàvu, em Santa Catarina, no vale do Itajaí, tivemos aquela tempestade devastadora há uns dois anos atrás, só que isso já havia acontecido nos anos 60 ou 70, quer dizer, não fizeram nada porque não quiseram né, porque tempo tiveram. No final de 2004, teve aquele grande tsunami (onda gigante em japonês), que atingiu o Sri Lanka e o sul da Índia. O mundo inteiro se dispos a ajudar, mais uma vez, foram realizadas reuniões na ONU, para evitar futuros tsunamis ou pelo menos estar preparados para eles. Hum... será que funcionou? Quem viu, leu ou acessou os jornais ontem, sabe que não. Mais um tsunami, mas agora, olha que ironia, no Japão, vindo logo após uma série de tremores, ele pegou os japoneses de surpresa, peraí, surpresa? Mas como? Pois é, parece que nunca teve um tsunami antes no mundo, e que eles não são tão inteligentes e espertos como aparentam.
O pior nesses desastres não é o que eles destroem, mas as vidas que são perdidas. E ninguém faz nada, é sempre a mesma coisa. E o mais incrível é que são pessoas inocentes que morrem, você não ouve notícias de que um tsunami acertou e destruiu um presídio, não deixando nenhum sobrevivente, nem que um avião transportando os políticos mais corruptos do país sofreu um acidente e explodiu no ar, sem chance de sobrevivência, menos ainda que ocorreu um surto de dengue numa favela do Rio, e só os traficantes e bandidos morreram. Não, o que se tem notícia é de mulheres grávidas morrendo afogadas em enchentes, crianças de 5 ou 6 anos presas em árvores durante um alagamento, idosos morrendo dormindo durante uma tempestade ou um furacão. Até quando vamos esperar para fazer alguma coisa? Até que todas as pessoas boas morram e só sobrem as pessoas de má índole e mau caráter? É o que parece...

sexta-feira, 11 de março de 2011

Isolado

Alexandre Lemos sempre foi um garoto feliz, sua infância foi alegre e repleta de amizades, com muitas brincadeiras e aventuras. Desde cedo estudou no mesmo colégio, o Isaac Newton. Um colégio integral já com a nova metodologia de ensino com nove anos, sendo suas aulas de manhã e à tarde, atividades extracurriculares como esportes e música.
Durante seu ensino fundamental, do 1º ao 5º ano, Alex, como era mais chamado, tinha muitos amigos, e era bem conhecido, era um garoto popular. O tempo passou e ao chegar na pré adolescência, ele notou algumas diferenças, alguns amigos ficaram mais amigos de outras pessoas, outros saíram, outros reprovaram, mas isso ainda não o afetava, afinal ele tinha que estudar, ele era estudioso e nunca ficou em recuperação.
Após a primeira semana de aula do 8º ano, ele viu que estava numa situação insuportável, ele não tinha mais amigos e não se encaixava em nenhum dos grupos que haviam se formado em sua sala e mais ainda em seu colégio. Ele não era muito alto e nem muito forte, era atlético, mas não o suficiente para fazer parte dos musculosos do time de futebol. Ele era inteligente, mas só tirava o suficiente para passar de ano, por isso não poderia fazer parte do grupo dos nerds. Ele não era gótico, emo, mano, colorido, metaleiro, rico, pobre, ele não se encaixava em nenhum grupo.
– AAAHHHHHHH!!!!!!! – ele gritou involuntariamente durante a aula.
– O que foi, Alex? – perguntou a bela professora Viridiana, virando-se do quadro, para saber o motivo do grito.
– Nada não, professora. – disse ele sem jeito.
Sem amigos significava sem diversão e sem diversão significava só ficar estudando o ano inteiro. Desse jeito, ele acabaria virando um nerd de tanto estudar, mas era isso que ele queria? Ele não sabia. Ele só sabia que do jeito que estava não podia continuar. Com tantos grupos formados e ele não fazendo parte de nenhum, ele se sentia isolado no colégio inteiro. Enquanto ele pensava nisso e ignorava as equações passadas pela professora, alguém bateu à porta.
– Com licença, professora. Bom dia turma! – disse a diretora Tulipa ao entrar na sala.
Não era comum a diretora ir às salas de aulas, quando ela ia era um assunto muito importante.
– Bom, turma, como vocês sabem, o nosso colégio, apesar de ser privado, ele é mantido com doações de instituições filantrópicas. Após vários meses sem recebermos uma doação sequer, um grande empresário veio nos procurar e nos doou 25 milhões de reais. – seguiram-se vários suspiros e assobios na sala. – Mas ao ver a estrutura do colégio e a ementa do sistema de ensino, ele viu algo que não temos e nos exigiu isso até o fim do ano. Para tanto recebemos 5 milhões e o restante só depois que fizermos o combinado.
Todos ficaram em silêncio por um tempo, e após o momento de suspense ter surtido efeito, a diretora finalizou.
– É aí que vocês entram. Nós vamos criar um Grêmio Estudantil. – mais uma série de sussurros ocorreu. – Poderão ser feitas chapas entre alunos de anos diferentes. Vocês tem duas semanas para formar as chapas e se inscreverem. O formulário de inscrição está na secretaria. Boa sorte. Obrigada professora. – ela disse e se retirou.
Enquanto todos comentavam sobre a notícia, os olhos de Alex brilhavam, pois ele viu nesse acontecimento a sua chance de se enturmar e ser popular novamente. E ele não perderia isso por nada.