segunda-feira, 5 de março de 2012

Cinzas


“Você deve estar se perguntando agora como eu escapei daquela situação, porque já ficou óbvio que eu não morri, certo? Bom, então está na hora de explicar alguns pontos. Primeiro, quando o garoto da Rocinha me contou tudo aquilo, eu fiquei espantado sem saber o que fazer, pois não poderia contar com a polícia local, já que eu não sabia quem era confiável ou não. Foi então que eu lembrei de um grupo que ainda não havia sido corrompido.”
– E você quer que a gente acredite nisso? – perguntou o capitão do Batalhão de Operações Especiais, o BOPE, assim que Rubens terminou seu relato. – Na palavra de uma criança da favela?
– Por que não? Eu acreditei. – o jornalista disse. – Eu vi o medo nos olhos dele. Não há como ele ter mentido. O medo e a sinceridade andam juntos.
– Mesmo que ele tenha dito a verdade, pode ser uma armadilha para te atrair até lá e eles se vingarem de você. – ponderou o tenente-coronel.
– Mais um motivo para vocês me ajudarem. Olha, se for um trote, eu me comprometo a ficar a sua disposição para qualquer tipo de punição, mas se não for e vocês não agirem, terão em suas mentes que poderiam ter feito algo e não fizeram. – Rubens argumentou.
“Com isso eles se dispuseram a me ajudar. Eles me deram um localizador GPS e um comunicador. Assim que desci ao sambódromo e vi dois dos homens da Kombi, fiquei feliz pela hipótese do trote ter sido descartada. A ideia da armadilha, porém se mostrou verdadeira. Ao ver que estava sendo perseguido, eu pedi ajuda pelo comunicador.”
“– Vire a próxima direita. Nós estamos chegando. – disse o capitão.”
“Quando todos aqueles homens armados se preparavam para atirar no caminhão, eu realmente achei que era o fim. E então, da rua que os carros à minha frente vieram, surgiram dois carros do BOPE. Um deles parou de lado para trancar a originária e o outro passou direto e ficou logo atrás dos carros dos traficantes, cercando-os.“
“Olhei pelo retrovisor e vi um carro e um camburão do Batalhão cercar os carros por trás. Logo, os policiais saíram, todos fortemente armados e apontaram para os traficantes. Sem chance de combater ou de fugir sem levar um tiro ao mínimo movimento, os moradores da favela se renderam. Quando tudo estava seguro, desci do veículo em que eu estava e fui ao encontro do capitão.”


– Você estava certo. – o policial disse.
– O senhor também. – o jornalista lembrou e ambos sorriram.
– Venha, vou te levar ao seu hotel. – o oficial ofereceu.
“No hotel, dormi algumas boas horas. Ainda antes do almoço, levantei e comecei a escrever essa matéria. No momento em que eu saía, novamente vi o capitão. Ele me entregou um cartão, plastificado e oficial, de Cidadão Honorável com livre acesso ao quartel do Batalhão. Sem saber o que dizer, eu agradeci e vim para São Paulo.”
– O que é isso, Fonseca? – esbravejou Beneton. – Cadê a matéria sobre o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro? Cadê a matéria do carnaval?
– Essa é a matéria do carnaval. – Rubens respondeu calmamente.
– Ah, ótimo! Seremos o único jornal sem a cobertura do desfile do Rio. – reclamou o editor-chefe.
– Seremos o único jornal que cobriu um esquema de tráfico de drogas em pleno carnaval. – o rapaz replicou e Beneton resmungou mais e foi para sua sala.
– Você conseguiu de novo! – Carla disse se aproximando.
– Consegui o que? Irritar o Beneton? Não é tão difícil. – ele disse.
– É, isso também. – ela concordou.
– O que mais eu consegui? – Rubens quis saber.
– Conseguiu se meter em confusão, correr risco de morte e ainda fazer uma matéria para qual não tinha ido em primeiro lugar. – ela observou.
– O que eu posso dizer? Devo ser um desses repórteres que faz tudo por uma notícia. – ele disse simplesmente e notou que a moça estava bem perto.
– Então, Senhor Faço Tudo Por Uma Notícia, que tal aproveitar o resto da quarta de cinzas e me acompanhar em uma sessão de cinema? – ela ofereceu.
– Quer saber? Essa é uma ótima ideia! – ele aceitou e Carla enlaçou o braço dele enquanto saíam.
“Quanto aos bandidos? Foram presos. Por quanto tempo? Não sei. Serão soltos logo? Espero e preciso acreditar que não, caso contrário tudo pelo que eu passei foi em vão. E eu não admito pensar dessa maneira.”

                                                               Rubens Fonseca.

4 comentários :

  1. Oi Ricky,

    Bom dia! Infelizmente o dia continua cinza, pois bandido preso denota apenas a temporalidade da decisão de um juiz. Torço para que a estória traga surpresas sobre essa questão. Muito boa!

    Beijos.

    Lu

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  2. Oi queridooooo... Rubão todo cheio de entrar em confusão, claro! Ahhh, dessa vez ele se envolveu com o Bope? Eita, heim??

    Infelizmente essa cor cinzenta permeia a justiça brasileira, querido!!

    Ei! Vc tbem quer ir ao AF, em Sampa?? Que legallll... eu pretendo. Falei pra Tsu que farei de tudo... Mas, tudo dependerá de conseguirmos passagens mais baratas, pois quero ir com marido e filho! ahhahaah... a familia toda!

    Tomara que dê certo, né?

    bjks JoicySorciere => Blog Umas e outras...

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  3. Rubens parar de se meter em enrascada? NUNCA SERÃO!!
    E o homem consegue se salvar, prender os bandidos e no final ainda vai pra o escurinho do cinema com a muié? É gostoso mesmo! kkkkkkkkkk

    Como já foi dito, infelizmente, "justiça" é uma palavra que ainda está sendo descoberta, aqui no Brasil.
    Ele que tome cuidado pra os bandidos não terem colocado um GPS na mochila dele e ele levar o mesmo fim de Tim Lopes. hehehe

    Beijos.

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  4. É muita sorte prum homem só, não é possível! UHAUAUAHU ainda se deu bem com a moça, curtindo um cineminha... Enfim. Infelizmente, o Rubens nem passa perto de resolver o problema do tráfico de drogas. Mas pelo menos ele é homem que faz de tudo não só por uma notícia, mas também pela justiça! Pena que ele é fictício. :/

    Bjs

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