A mensagem

– Já saíram de Santos? Que rápido! – espantou-se Glória, quando Lucy lhe falou ao telefone. – Ótimo! Até o jantar vocês já estarão aqui. – ela disse, saindo do elevador. – Conversamos depois, amor. Beijos. – despediu-se, desligou o celular e entrou em seu apartamento.

– Olá, querida! Há quanto tempo! Sentiu minha falta? – Barbatto disse assim que sua ex-mulher o viu, surpreendendo-a.

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Não demorou muito para Carpo despistar os perseguidores de terno que apareceram no restaurante. Ele fez várias curvas adentrando cada vez mais nos bairros da cidade e, ao ver que não estavam mais sendo seguidos, pegou o caminho mais rápido para a estrada em direção à capital paulista.

– Agora, vocês duas, querem me explicar como sabem manejar tão bem uma arma de fogo? – ele disse logo após Lucy falar com sua mãe.

– Bom, eu aprendi quando meu pai me levava para caçar com ele. – Ana disse e os outros dois acharam estranho. – Ele sempre quis um homem. – ela se justificou. – E você, Lucy?

– Começou há um ano. – a menina começou a contar. – Pela primeira vez meu sensei faltou ao treino e eu não tive aula. Liguei para minha mãe e insisti para que ela mandasse o motorista me buscar. Em vez de ir para casa, eu pedi para ele me levar onde minha mãe estava. Apesar da surpresa, ela até gostou de eu ter feito isso. Desde que eu comecei a fazer caratê, minha mãe tem tido aulas de tiro durante meus treinos. Nesse dia, ela me ensinou a usar uma arma de fogo e até ajustou os horários para que eu pudesse praticar um pouco toda semana. – ela finalizou.

Após esse relato, um silêncio seguiu-se. Carpo ficou agradecido por ser amigo das Cesca, e quase teve pena dos Martiniani que as consideravam suas inimigas.

– O que você está fazendo aqui? – quis saber Glória.

– Ora, vim só bater um papo, conversar um pouco, relembrar os velhos tempos. – ele disse levantando-se da poltrona em que estava. – E Lucy? Onde está minha filha?

– Ela não está aqui e nós não temos nada para conversar. Agora saia daqui. – ela disse abrindo a porta e fazendo sinal para ele ir.

– Que pena! Achei que poderíamos conversar um pouco antes.

– Antes? – ela perguntou confusa.

– Rapazes! – Barbatto chamou e dois homens altos e fortes saíram da cozinha. – Há alguém muito interessado em você e na Lucy. Eu não sei por que, mas pelo que me foi oferecido, também não me interessa. – ele disse.

– Diogo, calma! Vamos conversar. – Glória pediu.

– Agora você quer conversar? É um pouco tarde para isso. – ele disse de modo sério. – Vamos! Não quero deixar o italiano esperando. – Barbatto fez sinal e seus seguranças seguraram a Cesca pelos braços e a levaram ao elevador por onde os quatro desceram. – Vai dizer que não está com saudade do Rio? – ele a provocou.

Enquanto desciam, Glória, da maneira mais rápida e discreta possível, começou a escrever uma mensagem de texto no celular, para Lucy. Antes de ser jogada dentro da limusine do ex-marido, ela conseguiu enviar, mas ao bater contra a porta do outro lado do carro, seu celular caiu de sua mão.

– Ora, mas o que temos aqui? – ele pegou o aparelho e o olhou. – Que merda é essa? – ele perguntou e mostrou a mensagem escrita para a ex-mulher, que sorriu.

“1221324, 519201521 914415 115 18915 3151420914215 31513 1141 5 31181615 141 2211931 165121 851811431 41 611391291. 2215122015 513 2185225. 21019, 205 11315.”

– Bom, não importa. A Lucy nunca vai entender isso, vai achar que você está louca. Será ainda mais fácil quando eu vier buscar aquela filha desnaturada, que de mim nem o sobrenome tem. – ele disse e Glória riu mais alto ainda.

Em reação à gargalhada da ex-mulher, Barbatto deu-lhe um tapa forte no rosto, fazendo-a sangrar.

– Vamos ver se assim você para de rir, sua cretina! – ele disse com raiva.

– Você vai se arrepender de ter feito isso. – Glória ameaçou, sorrindo novamente.