quarta-feira, 16 de março de 2011

A troca

Érica saiu da papelaria e caminhou em direção à AGESP, a Agência de Espionagem. Qualquer pessoa que a visse entrando na sede da agência, não poderia imaginar que lugar era aquele. Somente alguém que já soubesse que ela era uma espiã e quisesse saber onde ficava o local da agência, teria essa informação, como o homem de terno que a estava seguindo desde que ela saiu de casa. Ela ainda não sabia que estava sendo seguida, quando decidiu traçar a sua trajetória pela Travessa da Lapa, mas o seu treinamento de espiã lhe dizia que algo estava errado. Uma simples olhadela para o lado resolveria isso.
Ao virar o rosto e olhar com o canto do olho ela comprovou o que suspeitava e agradeceu seus instintos, vendo o homem de terno. Mas não foi só um homem de terno que ela viu. Ela viu um homem de terno, usando óculos escuros, com um penteado impecável, sapatos engraxados, uma saliência no bolso direito da calça, talvez um celular, se tivesse uma arma, estaria por baixo do paletó. Ela não esperava menos de seus inimigos. Érica voltou a olhar pra frente, mas com o pensamento em seu perseguidor, por isso ela não notou um rapaz de camisa xadrez e cabelo arrepiado que vinha em sua direção.
Zé Mané andava calma e distraidamente pela galeria, já pensando em seu primeiro salário, fazendo com que ele também não visse a bela mulher que caminhava em seus futuros passos. A jovem espiã olhou para trás mais uma vez ao ouvir um barulho diferente, apesar de todo o barulho do ambiente ela pode notar a diferença, afinal isso também fazia parte de seu treinamento. Ela tinha planejado correr assim que chegasse à esquina, para não ser acertada pelo homem de terno, mas seu plano teve de se adiantar. Ao olhar pra trás pela segunda vez, ela viu o homem com arma na mão e se preparando para atirar.
Érica voltou o olhar e se impulsionou pra correr, quando trombou com Zé Mané. Seus envelopes brancos caíram, se misturando, no chão.
– Me desculpe moça. Eu estava distraído. – falou Zé.
– Tudo bem. Não foi nada. – disse Érica educadamente, enquanto pegava um dos envelopes e olhava rapidamente pra trás.
Zé Mané a ajudou a se levantar e após agradecê-lo, ela começou a andar mais rápido. O rapaz voltou a seguir seu caminho, quando um homem de terno o empurrou.
– Sai da frente, ô zé mané. – ele disse bruscamente.
– Ei, Qual é? – disse Zé nervoso pela falta de educação do outro. – E de onde você me conhece? – ele disse depois de pensar um pouco.
Érica se misturou à multidão, mas de vez em quando olhava para trás para saber a que distância se encontrava de seu perseguidor. Com sua agilidade, ela podia passar pelas pessoas sem encostar muito nelas, já o homem de terno usava de empurrões para abrir caminho. A sorte da moça acabou logo, quando ela teve que parar em um sinal fechado. Os poucos segundo que ela ficou parada pra pensar aonde ir, foram suficientes para ela ser alcançada por seu perseguidor.
Ele encostou a arma em suas costas, segurou seu braço esquerdo, chegou seu rosto do lado do dela e disse:
– Me da o envelope.
Zé Mané havia chegado à Avenida Visconde de Guarapuava, mas não sabia para onde ir agora, direita ou esquerda. Ele resolveu abrir o envelope para saber o número, mas para sua surpresa nem seu currículo, nem a ficha que havia recebido na agência do trabalhador, estavam ali.
– Mas o que...? – ele falou e logo se lembrou de seu trombo alguns minutos antes. – É claro, aquela garota, ela ta com o meu envelope.
Ele começou a correr pelo caminho de volta.
O homem de terno pegou o envelope e empurrou Érica para o meio da rua no momento exato em que o sinal ficou verde para os pedestres e uma massa de gente passou a atravessar dos dois lados. A jovem espiã tentava nadar contra a “correnteza” de pessoas para revidar o golpe de seu inimigo, que abria, com dificuldade, o envelope em meio à multidão. Ela já estava perto, quando ele ergueu a cabeça e a viu, e apontou a arma pra ela.
– Isso é algum tipo de brincadeira? – ele disse, largando o envelope, puxando o cabelo dela pelo rabo de cavalo e colocando a arma bem em baixo do seu queixo, fazendo seu pescoço inclinar bem para trás.
Ela teve que pensar rápido, pela reação dele, ela entendeu que tinha pegado o envelope errado quando trombou com o rapaz da galeria. Então, ela precisava decidir como agir naquela situação. Ela resolveu desviar o assunto.
– Não sei do que você está falando. – ela disse sob a mira da arma.
– Olha aqui, garota, você já me irritou bastante hoje, então é melhor você me dizer onde estão... Ah! – ele se interrompeu e Érica sabia que ele também tinha ligado os pontos. – Aquele zé mané da galeria. Ele também é espião, não é? Vocês acharam mesmo que iam conseguir me enganar? Foi um bom plano. Pena que isso vai fazer com que você perca sua vida.
– Ei moça! – gritou Zé Mané a alguns metros de distância dos dois.
O homem de terno soltou o cabelo de Érica e virou o corpo para ver Zé Mané. A jovem espiã aproveitou a distração e deu um soco no rosto de seu inimigo. Não querendo um confronto direto naquele momento, ela pegou o envelope de Zé e correu na direção dele.
– Corre! – ela gritou pra ele.
Ele começou a correr, mas olhando e esperando por ela.
– Vamos trocar os envelopes. – ele disse quando estavam lado a lado.
Eles trocaram os envelopes, e ao chegarem à esquina, ela virou pra direita e ele virou para esquerda.
– Até mais. Eu vou pra esquerda. – ele avisou.
Ela voltou de seu caminho e puxou ele pelo braço.
– Ah, não vai não. – ela disse.
– Por que não?
– Porque agora você ta correndo um grande perigo. Quando aquele cara levantar ele vai vir atrás de nós. Eu, sozinha, sei me cuidar e você?
– Mas é que eu tenho uma entrevista de emprego agora.
– O que é mais importante: sua vida ou a probabilidade de um emprego?
– Bom... agora você me deixou em dúvida.
– Escuta aqui, seu zé mané, você vai vir comigo, quer queira, quer não, porque eu não vou levar a sua morte na minha consciência, você entendeu? – ela disse segurando forte a gola da camisa dele.
– Sim. – ele respondeu baixo.
– Vamos. – ela disse, puxando ele para o caminho da direita.

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– Alô, chefe... Não eu não consegui recuperar os documentos... Ela não estava sozinha... É, ela tem um cúmplice... Ah é só um zé mané aí... Pode deixar, eu já estou indo. – disse o homem de terno no telefone após se levantar.

5 comentários :

  1. tem dia que a gente dá um azar né?
    rs




    http://just-dreamygirl.blogspot.com/

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  2. Gostei do blog
    Estoou seguindo tbm
    Beijoos

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  3. há sempre um ze mané no meio do caminho!!!

    http://filosofossuicidas.blogspot.com/
    http://morethanrose.blogspot.com/

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  4. Show Paulo!
    Agora as histórias começam a se entrosar e vai ficar um blog tipo Metal Gear hahaha
    Tomara que eu não me perca nas histórias! Nossa, muito sacado isso, criatividade genial!

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