JUSTIÇA
O Honda Civic em que o Deputado Castor estava fugindo mantinha uma distância
segura da Harley Davidson do Motoqueiro das Trevas, devido a alta velocidade. O
trânsito da cidade começava a ficar caótico. Ambos os veículos ultrapassaram o
sinal vermelho e provocaram buzinas.
— Segue para a BR. – Castor disse ao seu motorista.
— Mas, senhor, o Motoqueiro não terá mais vantagem lá?
— Recentemente, tem tido muita movimentação de caminhão por lá. Só
precisamos entrar no meio deles e logo, o Motoqueiro nos perderá de vista.
— Grande ideia, deputado. – elogiou o motorista.
Quando viu o caminho que estava sendo tomado, Ian sorriu sob o capacete,
pois pensou na vantagem de espaço que teria na BR. Depois de passar por vários quilômetros
da rodovia, Castor viu seu plano ir por água abaixo, devido a ausência de caminhões.
Cansado de ser perseguido por Ian, ele pegou sua arma, abriu a janela e tentou
acertá-lo. Depois de seis tiros sem êxito, ele começou a se desesperar.
— Acelera o máximo possível! – o político mandou.
Ian notou o desespero de seu alvo e decidiu agir. Acelerou até ficar a certa
distância do carro e atingiu o pneu traseiro esquerdo. O veículo, patinou,
rodou e capotou duas vezes, parando com as rodas para baixo. O motorista bateu
a cabeça e desmaiou. Castor também teve a cabeça atingida, mas logo acordou e
viu quando o Motoqueiro parou e desceu da moto.
Com a arma em punho, o político saiu do carro e, com sangue escorrendo da
cabeça, cambaleou alguns passos.
— Parado aí mesmo, senão eu atiro. – ele disse e apontou a arma para seu
algoz.
— Você já estaria morto se assim eu quisesse. – Ian devolveu.
— Devo me sentir honrado por sua misericórdia? – Castor ironizou.
— Sim, deve. – o Motoqueiro disse e deu um passo.
— Eu avisei! – o deputado disse e atirou três vezes no peito de Ian. –
Morra! – ele gritou.
O ex-advogado recuou devido ao impacto dos projéteis, mas logo voltou a
avançar.
— Segundo minhas contas, você só tem mais seis tiros. É uma .45 com um
pente de 15, não é? – ele disse enquanto dava mais dois passos.
— Pare de se aproximar! – Castor gritou e acertou dois tiros no visor do
capacete de Ian, mas sem obter resultado. Atirou, então, em seus braços e
pernas até sua munição acabar.
— Pelo visto, eu estava certo. Acabou, não é? – Ian disse erguendo o
visor atingido. – Como pode ver, eu vim preparado. Vidro à prova de bala no
capacete, proteção nos membros e, como sua munição acabou você não pôde testar,
proteção gonadal. – o Motoqueiro explicou.
— O que você quer? – o político gritou desesperado largando a arma no chão.
— Justiça. – Ian respondeu sério.
— E o que eu tenho a ver com isso?
— Você mandou matar meu irmão que tinha acabado de começar no novo
emprego dele, na prefeitura. Tudo porque ele ouviu sobre suas sujeiras. – Ian começou.
– Meu irmão, coitado, não diria nada a ninguém. Mas você não podia correr o
risco, não é? Teve de mandar matá-lo. – o Motoqueiro falava com raiva.
— Espera, tenho certeza de que podemos chegar a um acordo. Como posso
recompensá-lo? Dinheiro? Você deve estar precisando, agora que não trabalha
mais como advogado. – Ian fechou a cara. – Já sei, que tal trabalhar para mim? Será
meu guarda-costas... Não, não, melhor ainda, eu te patrocino! Posso conseguir todo
tipo de arma e acessório que precisar, e não se preocupe mais com a polícia. É
claro que eu te indicarei alguns alvos, mas de resto, você poderá agir
livremente, o que acha? – Castor sugeriu cinicamente com um sorriso.
Não conseguindo aguentar mais, o ex-advogado avançou e acertou o deputado
com um soco de direita que o fez cambalear para trás. Antes que o golpeado caísse,
Ian o segurou e o puxou pela gravata e lhe deu um forte soco na barriga. O político
arqueou e teve sua cabeça segurada pelas duas mãos de Ian que a levaram direto
para uma forte joelhada, e teve seu nariz quebrado.
— A minha morte não vai resolver nada, sabia? – Castor disse assim que
parou de apanhar e foi deixado no chão. – Eu sou apenas uma das milhares cobras
peçonhentas que existem na política desse país. O que eu faço não é nada perto
do que os outros fazem.
— Pelo menos você não irá fazer mais. – Ian disse e atirou na cabeça do político,
que caiu de vez no chão. – A justiça foi feita, meu irmão. – ele disse para si
mesmo. – Agora, podemos ficar em paz.
As sirenes se fizeram ouvir e o Motoqueiro estava pronto para se entregar
quando se lembrou das últimas palavras de Castor.
— Não, não é hoje que o Motoqueiro das Trevas vai ser preso. – ele disse.
– Ainda há muito trabalho a ser feito.
Dito isso, baixou seu visor trincado, subiu em sua moto e, em poucos
segundo, sumiu do campo de visão da polícia que chegava ao local do crime.
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