NOVO RUMO
Carol subiu até o último andar do estacionamento do Shopping Estação. O
local era a céu aberto e poucos carros paravam ali. Ela saiu de seu veículo e
procurou pela pessoa que deveria estar esperando-a, mas só viu uma moto vazia e
parada.
— De camisa para um encontro casual, você é mesmo muito caxias. – disse uma
voz vinda das sombras.
— Isso é jeito de falar comigo depois de todo esse tempo e de tudo o que
aconteceu? – ela devolveu, segurando-se para não ocorrer e abraçá-lo. – Por que
não me contou?
— Seria perigoso. – ele disse adotando o tom sério. – Se você soubesse e,
de algum modo, a polícia descobrisse, quando me prendeu, você seria dada como cúmplice.
E já basta um de nós perder a carreira. – ele explicou. – E só para constar,
eles me prenderam num golpe de sorte.
— Nós nunca tivemos segredo. Mesmo depois que terminamos. Não sei por que
não contou logo isso. – Carol disse.
— Você não ouviu nada do que eu disse, não?
— Você não teria sido pego se eu soubesse e estivesse te ajudando. – ela disse
erguendo uma sobrancelha.
— Ah, é mesmo? Pois saiba que estou muito bem sozinho. – ele disse e ela
riu. Depois de um breve silêncio, continuou. – Mas não podia deixar de me
despedir.
— Despedir? – Carol se espantou.
— Sim. Cumpri meu principal objetivo aqui. – Ian respondeu.
— O mandante do assassinato do seu irmão. – ela emendou. – Assim que vi a
notícia, fui descobrir por que matou um deputado.
— Eu estava pronto para me entregar, quando percebi que existem muitos
irmãos, filhos e pais de outras pessoas sendo mortos por esses bandidos. – ele revelou.
– E se tenho como fazer justiça, assim o farei.
— Para onde vai? – a morena quis saber.
— Para São Paulo. Parece que o bicho está pegando por lá. Depois, penso
em ir para Brasília. Ouvi dizer que tem muito bandido por lá. – Ian disse e os
dois riram.
— Vamos nos ver de novo? – ela perguntou.
— Isso. – ele tirou os óculos e se aproximou dela. – É certeza! – ele disse,
puxou-a para si e a beijou.
Um beijo lento, apaixonado, como há muito eles não se davam. Ambos
estavam completos e realizados, mas Ian parou. Ficaram juntos, sentindo a
respiração um do outro. Então, ele se afastou.
— Preciso ir. – ele disse.
— Está bem. Como vou saber quando estiver de volta?
— Eu te aviso. – ele disse e sumiu rampa abaixo.
Enquanto via Ian indo embora, Carol chegou à melhor e à pior conclusão.
— Eu estou apaixonada pelo Motoqueiro das Trevas!
Após três horas de viagem, Ian percebeu que o combustível estava acabando
e parou no primeiro posto depois disso. Uma semana havia se passado desde o
incidente na BR-277. Ele esperava que ninguém o reconhecesse. Para sua sorte,
assim aconteceu.
O frentista não reparou e nem deu a mínima para roupa toda preta e os óculos
escuros que o Motoqueiro usava, afinal todos os motoqueiros se vestiam assim, não
havia nada especial naquele. Ian decidiu ir à loja de conveniência.
Enquanto ele pegava alguns salgadinhos e refrigerantes, dois rapazes
entraram, sacaram suas armas e abordaram o único funcionário da loja, que se
encontrava no caixa.
— Passa a grana! – um deles falou.
Ian resolveu agir e foi para o corredor que levava ao caixa.
— Vocês nunca ouviram que o crime não compensa? – ele disse e os dois
assaltantes viraram rapidamente.
— Quem é você? – um deles perguntou.
— Você não sabe? – o ex-advogado devolveu.
— Se eu soubesse, não estari... Hã? Ele o que? – o outro rapaz cochichou
para o primeiro. – Tem certeza? Humm... então você é o Motoqueiro das Trevas? Não
parece grande coisa.
— Adoro quando me subestimam. – Ian falou.
O que o funcionário do posto viu em seguida foi uma rápida sequência de
movimentos. Um dos ladrões atirou no Motoqueiro, que levou o impacto em seu
colete à prova de balas, e revidou com um tiro no joelho do rapaz. O outro
garoto se atrapalhou na hora de mirar e também levou um tiro no joelho. Com
ambos caídos no chão, Ian pegou suas armas e levou sua cesta de compras até o
caixa.
— Quanto dá tudo?
— Ah, o senhor não precisa pagar não. – o funcionário disse.
— Eu insisto. – Ian disse firme, mas com educação.
— Hã, está bem. São R$17,65.
— Aqui está. Fique com o troco. – Ian entregou uma nota de vinte. – E
quanto a vocês. – ele disse aos dois rapazes. – Vou considerar isso como um
erro de adolescente. Se encontrá-los novamente fazendo algo semelhante, vocês estão
mortos. Entenderam? – os dois assentiram com as lágrimas rolando.
O Motoqueiro colocou os novos suprimentos na moto, montou-a e disparou. O
vento batia no vidro de seu capacete, enquanto o ex-advogado sorria.
— Terra da garoa, aí vou eu! – ele pensou e acelerou.
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