ESCONDERIJO
Dois homens e duas mulheres, mas
a diferença de gênero não diminuía a quantidade de lágrimas que escorria pelo
rosto de cada um. As chances de um deles ser escolhido seriam bem maiores desta
vez. Não bastava não ser sorteado uma vez, teria que passar por uma segunda
vez.
E eles sabiam o que aconteceria.
Na primeira noite, o filho tinha os obrigado a assistir o pai matar a primeira
vítima. Ele amarrou os braços do refém num galho acima da cabeça e seus pés em
uma estaca no chão, deixando-o imóvel. Em seguida, começava o espancamento.
Socos e chutes em todas as regiões.
Devido à mordaça, a vítima não
podia gritar e sua dor reprimida era ainda maior. Depois de deformar o corpo da
pessoa, o assassino fazia vários cortes superficiais para aumentar o
sofrimento. Para finalizar, ele cortava o dedo do pé, com a vítima ainda viva e
a deixava lá até morrer. O assassino ia começar o sorteio quando ouviu um
barulho que os reféns não ouviram. Ele levantou e foi para o quarto dele.
Do lado de fora da cabana, a
Detetive Marins acabava de pisar em um galho seco, enquanto espiava pela janela
da sala. Ao confirmar que os reféns e os bandidos estavam lá mesmo, ela avisou
seu parceiro para chamar a equipe tática e se levantou. Quando virou deu de
cara com o homem que vira no vídeo.
― Você! – ela disse e levou à mão
direita ao coldre para pegar a arma.
Plínio reagiu rápido e acertou a
mão da morena com o pé de cabra que carregava. Ela urrou de dor e ele emendou
outro golpe acima, no cotovelo, causando outro grito da oficial. Após a segunda
batida, ela caiu no chão.
― Que barulheira é essa, aqui? –
disse o Valdetaro pai, chegando atrás do filho.
― Ela estava nos espionando. – o
mais jovem respondeu.
― E você vai nos denunciar
fazendo-a gritar desse jeito. – o velho repreendeu.
― Pode deixar, o próximo vai ser
na cabeça. – Plínio garantiu.
Assim que o assassino levantou o
braço para atacar, Raquel atirou e acertou a região do bíceps de seu oponente.
― Droga, eu sou péssima com a mão
esquerda. – ela resmungou e levantou para ter uma mira melhor.
― Essa não vai cair tão fácil. –
o pai disse e puxou o filho para o lado. – Já que você já fez tanto barulho,
vamos terminar. – ele disse e apontou a espingarda que segurava, para a
detetive.
Nesse momento, o Detetive Pérez
surgiu da floresta e apontou a arma para o Valdetaro armado.
― Parados! – ele gritou. – Largue
a arma e você talvez tenha uma chance, Valdetaro. Esse lugar logo estará cheio
de policiais fortemente armados. – Jorge avisou.
― Até lá, posso levar pelo menos
um de vocês. – ele disse e mirou a cabeça da morena.
Ela fez o mesmo e enquanto a
tensão tomava conta do lugar, Plínio trocou o pé de cabra de mão e avançou em
Raquel. Aproveitando a distração da detetive, o velho Valdetaro decidiu atirar,
mas Jorge estava atento e atirou na mão do velho antes. A morena se jogou para
a esquerda para evitar o golpe do assassino e, enquanto caía, girou o corpo e
atirou no meio das costelas do homem, que caiu de vez.
― Você está bem? – Jorge
perguntou ao chegar nela.
― Sim, eu acho. – ela disse e viu
o assassino mais velho fugir. – Ele está fugindo. – ela avisou.
Quando seu parceiro foi levantar
para persegui-lo, a equipe tática chegou, cercando o local e impedindo a saída
do criminoso.
No dia seguinte, após ter seu
braço enfaixado e voltado para o trabalho, Raquel foi chamada na sala do Delegado
Rocha.
― Mandou me chamar, senhor? – ela
disse ao entrar.
― O que você está fazendo aqui,
garota? – ele perguntou indignado. – Você devia estar em casa descansando.
― Já estou bem, delegado.
Obrigada por se preocupar. – ela disse.
― Se é assim, permita-me lhe dar
os parabéns. Você foi muito bem em seu primeiro caso de homicídio. – Rocha
cumprimentou.
― Obrigado, senhor. Só fiz o meu
trabalho. – ela agradeceu sem jeito.
― Já que está tão disposta, – ele
disse e pegou uma pasta com papéis. – tenho aqui um novo caso para você. Mas
vou entender se preferir descansar até seu braço direito ficar bom.
― Não é necessário, senhor.
Descobri que me viro muito bem com a esquerda. – ela disse e pegou a pasta. –
Vou avisar o Jorge. – ela disse e se virou para sair.
― O Jorge já está com outro caso.
– Rocha disse e a moça parou.
― Oh! – ela disse. – Bom, mais um
motivo para eu começar logo a investigação. – finalizou e saiu.
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