PEDIDO
“O Hospital Padrão nunca esteve
tão cheio. Sabendo que todos seriam atendidos e tratados de graça, a população
lotou o lugar. Os enfermeiros e os médicos mal conseguiam dar conta. A mídia, é
claro, estava toda ali.”
― O Dr. Guramo chegou. – alguém
gritou e a massa de repórter foi toda atrás dele.
― Você está pronta? – Rubens
perguntou.
― Sim e você? – Carla devolveu.
― Eu estou sempre pronto. – ele
respondeu com um sorriso.
Ele seguiu para dentro do
hospital, enquanto ela foi com os outros colegas de profissão entrevistar o
médico. Rubens descobriu onde ficava a sala que comandava o som do local e foi
direto para lá. Quando chegou, havia um funcionário.
― Quem é você? – o funcionário
perguntou assustado.
― Alguém que precisa usar as
caixas de som do hospital. – Rubens disse e entregou uma nota de 50 reais para
ele. – Toma, vai beber uma cerveja.
― Eu não bebo. – o rapaz
devolveu.
― Toma um chá então. – o
jornalista sugeriu.
― Não gosto de chá.
― Meu, só pega o dinheiro e vaza.
– Rubens se irritou e o rapaz saiu.
Ele colocou o pendrive com a gravação do telefone que
ouviu pela manhã no computador. Ajustou para todas as caixas de som do hospital
e esperou o sinal de Carla. Mas então, ele começou a ouvir vozes e foi olhar
pela janela que dava para uma área externa da instituição.
Embaixo estavam Guramo e os
repórteres. Rubens não contava com isso, se a mídia não ouvisse de nada
adiantaria. Pegou uma caixa de som, a mais potente que encontrou na sala, e
colocou na janela com o volume no máximo.
Carla notou a cara feia que o
médico fez quando a viu. Um misto de surpresa com decepção. Ela apenas sorriu.
Decidiu não fazer perguntas e nem dizer nada, os seus colegas fariam isso.
― ... e por isso hoje será um dia
que entrará para a história desse hospital e da cidade de São Paulo... – ele
discursava.
― Com certeza. – Carla disse
baixinho e enviou um sms para Rubens.
No instante seguinte, uma
gravação com sua própria voz sobrepôs o discurso do Dr. Guramo. Todos pararam
para ouvir, enquanto ele procurava a fonte do som.
― A sala de som, vão! – ele disse
para seus seguranças.
Carla mandou outra mensagem, mas
Rubens já tinha saído há muito e já se encaminhava para junto dela.
“O que se seguiu foi um tremendo
tumulto, o melhor que já presenciei, uma multidão de pacientes nada pacientes
saiu do hospital querendo linchar o médico ladrão. Claro que eles não
conseguiram, mas a gravação foi encontrada e transmitida em rede nacional, o
que já serviu para acabar com a carreira do ‘nobre’ doutor. Depois quando eu
achei que tudo havia terminado, Carla disse que precisávamos conversar.”
― Rubens, sobre o que aconteceu
ontem à noite...
― Eu sei, foi só uma vez e não
deve se repetir. – ele completou.
― Não, não quero que seja só uma
vez. É isso que você quer? – ela perguntou.
― Não, mas não podemos ficar
juntos, é perigoso, você viu. Tivemos sorte de ninguém ter nos encontrado. Eu
atraio problemas, Carla, e não sei se posso proteger você. – ele confessou.
― E não precisa. Eu faço boxe e
muay thai, e sou muito boa. – ela disse e o rapaz arregalou os olhos. – Sou
solteira, moro sozinha em São Paulo, sei que é uma cidade perigosa. Quero ficar
com você, Rubens. Com você e com os problemas que você atrai. – ela disse e
sorriu.
― Você é doida, sabia? – ele
disse e a beijou, mas logo a largou. – Espera! Se vamos fazer isso, faremos
direito. – ele disse e pegou as duas mãos dela. – Carla, você quer namorar
comigo?
― Sim, sim, mil vezes sim. – ela
respondeu e pulou sobre ele, dando-lhe um forte abraço e um longo beijo.
“O Dr. Guramo foi afastado e
perdeu sua licença médica. Agora ele vai ter que arranjar outra maneira de
roubar, mas não se preocupem, se ele tentar alguma coisa fora da lei, farei o
possível para descobrir e impedir.
“Essa é a primeira vez que
escrevo uma matéria em dupla. É meio diferente, mas não posso dizer que não
gostei. Quem sabe eu não faça outras assim no futuro?”
Rubens Fonseca e Carla Lamarca.
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