CAPÍTULO 1 – O
ESPIÃO
O apartamento estava cheirando a
homem solteiro. Caixa de pizza aberta sobre a mesa, com pedaços inteiros ainda
não comidos. Latas de cerveja jogadas pelo chão, juntamente com farelos de pão
e salgadinhos. Já fazia dois meses que Baltar estava naquela vida.
Ele começou a pesquisar os preços
e gastos dos hospitais particulares da cidade para comparar com os hospitais
públicos. Foi então que, ao olhar os números do Hospital Amadeu Polvilho, ele
percebeu que estava muito acima dos demais. Assim, Baltar decidiu investigar
mais a fundo.
O espião descobriu que o dono e
fundador se tornou um assassino em série e foi preso três anos antes. Em uma
recente fuga em massa do presídio em que estava, o ex-médico virou um fugitivo.
Com essas informações, a mente de Baltar criou uma teoria e com base nela, ele
alugou um apartamento em que a janela da sala dava direto para a frente do
hospital. Nos dois meses em que já estava lá, o espião não notou nada de
anormal na rotina do local. Entretanto, naquela noite, isso iria mudar.
Com um potente telescópio, Baltar
conseguiu ver dentro de um carro quando o motorista abriu a janela para entrar
no hospital. Lá estava ele, no banco do carona, com óculos escuros e chapéu,
tentando esconder sua identidade.
― Não devia ter abaixado o vidro
antes. – o espião disse a si mesmo.
Baltar já estava preparado para
quando isso acontecesse. Pegou sua maleta e um jaleco e entrou pela porta da
frente do hospital. Ninguém prestou atenção nele, pois era comum os médicos
entrarem de jaleco por ali. Ao entrar no elevador, precisou pensar um pouco
para decidir onde ir.
― Se eu fosse um assassino em
série foragido da cadeia e resolvesse me esconder no hospital que eu fundei e
dirigi por anos, onde me esconderia? – perguntou a si mesmo, quando viu o botão
de sub-solo. – Te achei! – disse e apertou.
Quando a porta se abriu, Baltar
se viu em um local com iluminação baixa. Ele seguiu o corredor e
silenciosamente abriu as portas que apareciam, até que virou a esquerda e viu
uma luz emanando de uma sala com a porta aberta. O espião ficou de costas para
a parede bem perto da entrada, ajustou a câmera frontal de seu celular e
avançou sua mão com o aparelho para a área iluminada, tirando inúmeras fotos,
enquanto ouvia a conversa.
― E então, Benck, já temos o
suficiente para começar? – o médico fugitivo perguntou.
― Ainda não, doutor. Acredito que
mais algumas semanas devam suprir o que falta, mas precisaremos aumentar os
preços dos serviços em 80%. – disse Benck, um homem com voz fina e estridente
que estava sentado em frente a um computador.
― Por que não começamos com isso?
Já dá para fazer um bom estrago. – disse um rapaz que aparentava ter menos de
vinte anos.
― Ora, jovem Timeti, é porque
quero que seja perfeito e que todas as gangues da cidade participem. – o doutor
respondeu. – Não quero ninguém de fora, todos os bandidos e malfeitores da
cidade participarão do Caos Urbano que eu, Doutor Morte, irei provocar. – o
médico disse com um sorriso no fim.
Baltar não estava gostando nada
do rumo daquela conversa, mas já tinha provas suficientes para Krusma liberar
uma equipe tática. Ele guardou seu celular e foi voltar pelo caminho que veio,
quando esbarrou em um vaso. Praguejou em voz baixa e ouviu seus alvos pararem
de falar. O espião correu como nunca para chegar ao elevador, mas antes de
alcançá-lo sua porta se abriu revelando um homem com quatro pacotes do Burger
King.
Ao ver o invasor, ele soltou o
que segurava e pegou sua arma de imediato, mas Baltar já havia avançado e
estava perto suficiente para rendê-lo, quando os outros três chegaram. Timeti e
Benck apontaram suas armas para o espião.
― Ora, ora, eu não esperava por
visitas hoje. – o médico disse olhando para Baltar, enquanto este era seguro
com as mãos para trás pelo homem do elevador.
― Se eu não chego agora hein,
doutor? – ele disse.
― Agradeço a sincronia de tempo,
Dorigan. – Morte disse e encarou o espião. – Agora, quem seria você?
― Levi Baltar, 28 anos. – Benck
leu ao pegar a identidade do espião. – Nenhum crachá de trabalho, 50 reais em
cédulas de menor valor. Cartões de crédito e débito. Posso descobrir bem mais
pelo computador. – comentou.
― Assim espero. – o médico disse.
― Ei, olha, parece que ele gosta
de tirar fotos. – Timeti disse e mostrou o celular de Baltar para o doutor.
― Dorigan, amarre-o no meu
consultório. Eu preciso examinar o Sr. Baltar. – Morte disse.
― Desculpe, mas eu já tenho
médico e estou bem saudável. – o espião argumentou.
― Acredite quando eu digo, Sr. Baltar, eu não sou como os outros
médicos. – Doutor Morte disse e sorriu.
Já começou assim?
ResponderExcluirVai ser de arrepiar, esta série.