terça-feira, 6 de maio de 2014

Caos Urbano T02C01

CAPÍTULO 1 – O ESPIÃO

O apartamento estava cheirando a homem solteiro. Caixa de pizza aberta sobre a mesa, com pedaços inteiros ainda não comidos. Latas de cerveja jogadas pelo chão, juntamente com farelos de pão e salgadinhos. Já fazia dois meses que Baltar estava naquela vida.
Ele começou a pesquisar os preços e gastos dos hospitais particulares da cidade para comparar com os hospitais públicos. Foi então que, ao olhar os números do Hospital Amadeu Polvilho, ele percebeu que estava muito acima dos demais. Assim, Baltar decidiu investigar mais a fundo.
O espião descobriu que o dono e fundador se tornou um assassino em série e foi preso três anos antes. Em uma recente fuga em massa do presídio em que estava, o ex-médico virou um fugitivo. Com essas informações, a mente de Baltar criou uma teoria e com base nela, ele alugou um apartamento em que a janela da sala dava direto para a frente do hospital. Nos dois meses em que já estava lá, o espião não notou nada de anormal na rotina do local. Entretanto, naquela noite, isso iria mudar.
Com um potente telescópio, Baltar conseguiu ver dentro de um carro quando o motorista abriu a janela para entrar no hospital. Lá estava ele, no banco do carona, com óculos escuros e chapéu, tentando esconder sua identidade.
― Não devia ter abaixado o vidro antes. – o espião disse a si mesmo.
Baltar já estava preparado para quando isso acontecesse. Pegou sua maleta e um jaleco e entrou pela porta da frente do hospital. Ninguém prestou atenção nele, pois era comum os médicos entrarem de jaleco por ali. Ao entrar no elevador, precisou pensar um pouco para decidir onde ir.
― Se eu fosse um assassino em série foragido da cadeia e resolvesse me esconder no hospital que eu fundei e dirigi por anos, onde me esconderia? – perguntou a si mesmo, quando viu o botão de sub-solo. – Te achei! – disse e apertou.
Quando a porta se abriu, Baltar se viu em um local com iluminação baixa. Ele seguiu o corredor e silenciosamente abriu as portas que apareciam, até que virou a esquerda e viu uma luz emanando de uma sala com a porta aberta. O espião ficou de costas para a parede bem perto da entrada, ajustou a câmera frontal de seu celular e avançou sua mão com o aparelho para a área iluminada, tirando inúmeras fotos, enquanto ouvia a conversa.


― E então, Benck, já temos o suficiente para começar? – o médico fugitivo perguntou.
― Ainda não, doutor. Acredito que mais algumas semanas devam suprir o que falta, mas precisaremos aumentar os preços dos serviços em 80%. – disse Benck, um homem com voz fina e estridente que estava sentado em frente a um computador.
― Por que não começamos com isso? Já dá para fazer um bom estrago. – disse um rapaz que aparentava ter menos de vinte anos.
― Ora, jovem Timeti, é porque quero que seja perfeito e que todas as gangues da cidade participem. – o doutor respondeu. – Não quero ninguém de fora, todos os bandidos e malfeitores da cidade participarão do Caos Urbano que eu, Doutor Morte, irei provocar. – o médico disse com um sorriso no fim.
Baltar não estava gostando nada do rumo daquela conversa, mas já tinha provas suficientes para Krusma liberar uma equipe tática. Ele guardou seu celular e foi voltar pelo caminho que veio, quando esbarrou em um vaso. Praguejou em voz baixa e ouviu seus alvos pararem de falar. O espião correu como nunca para chegar ao elevador, mas antes de alcançá-lo sua porta se abriu revelando um homem com quatro pacotes do Burger King.
Ao ver o invasor, ele soltou o que segurava e pegou sua arma de imediato, mas Baltar já havia avançado e estava perto suficiente para rendê-lo, quando os outros três chegaram. Timeti e Benck apontaram suas armas para o espião.
― Ora, ora, eu não esperava por visitas hoje. – o médico disse olhando para Baltar, enquanto este era seguro com as mãos para trás pelo homem do elevador.
― Se eu não chego agora hein, doutor? – ele disse.
― Agradeço a sincronia de tempo, Dorigan. – Morte disse e encarou o espião. – Agora, quem seria você?
― Levi Baltar, 28 anos. – Benck leu ao pegar a identidade do espião. – Nenhum crachá de trabalho, 50 reais em cédulas de menor valor. Cartões de crédito e débito. Posso descobrir bem mais pelo computador. – comentou.
― Assim espero. – o médico disse.
― Ei, olha, parece que ele gosta de tirar fotos. – Timeti disse e mostrou o celular de Baltar para o doutor.
― Dorigan, amarre-o no meu consultório. Eu preciso examinar o Sr. Baltar. – Morte disse.
― Desculpe, mas eu já tenho médico e estou bem saudável. – o espião argumentou.
             ― Acredite quando eu digo, Sr. Baltar, eu não sou como os outros médicos. – Doutor Morte disse e sorriu.

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