CAPÍTULO 4 –
JORNALISMO INVESTIGATIVO
― Você estava errado. – ela disse
olhando para as cinzas. – Eu não estou preparada para seguir sozinha. Eu
preciso de você. – sua cabeça baixou e as lágrimas caíram.
― Sinto muito pela sua perda. – uma
voz fez a morena levantar a cabeça e olhar para o lado. – Como pode existir
alguém capaz de querer matar idosos? Seres indefesos que já passaram por tanto
na vida. – o homem disse.
Ele tinha a altura da detetive;
seus cabelos eram castanhos claros e estavam penteados para o lado; vestia uma camisa por cima de uma camiseta;
uma calça jeans e um tênis; usava uma bolsa com alça transversal.
― Existem pessoas capazes de tudo
nesse mundo. – Raquel disse.
― É verdade. – o homem disse e
estendeu a mão. – Rubens Fonseca. – se apresentou.
Raquel ignorou o gesto e passou
pelo homem.
― Tente não encarar muito as
cinzas. Elas te tiram o que você tem de melhor. – ela disse e se dirigiu ao seu
carro.
Ao sentar no banco, secou as
últimas lágrimas e olhou pelo retrovisor central.
― Filho da mãe! – ela praguejou
ao ver Rubens passar por baixo da faixa amarela.
A detetive saiu apressada e com
raiva de seu veículo. A passos largos ela alcançou e passou pela faixa.
― O que pensa que está fazendo? –
ela perguntou em voz bem alta.
― Oh! – Rubens estava agachado e
deu um pulo assim que ouviu. – Você não estava indo embora? – ele devolveu
surpreso.
― Muito bem, espertão! Agora você
vai me dizer exatamente quem é você e o que está fazendo aqui? – Raquel disse
puxando a blusa, revelando o distintivo e sacando sua arma.
― Opa, opa! Calma lá, policial!
Não é nada disso que você está pensando. – ele disse.
― Ah não? E o que é que eu estou
pensando? – ela devolveu.
― Olha, eu sou um jornalista,
está bem? Eu vim cobrir o incêndio do asilo. – Rubens disse levantando os
braços.
― Típico da mídia. – ela disse
abaixando e guardando a arma. – Essa área é uma cena de crime e ainda está
isolada. Portanto, queira sair, por favor.
Acompanhado da morena, Rubens
saiu do local onde um dia esteve o Asilo Ipiranga.
― Onde está seu carro? – Raquel
quis saber.
― Eu vim de táxi. – o jornalista
respondeu.
― Então, terei de te pedir para
ir chamar um táxi em outro lugar. – ela disse empurrando-o gentilmente para
longe da entrada.
― Eu entendo. – ele disse sem
outra opção. – Só uma coisa: você está participando da investigação do
incêndio?
― Estou. – ela respondeu. – Mas
já falei tudo para a mídia ontem. Você não estava lá? – a morena achou
estranho.
― Sou de São Paulo. – Rubens
respondeu. – Posso saber seu nome?
― Eu sou a Detetive Raquel
Marins. – ela informou. – Agora vai!
Rubens seguiu uma direção e já
estava há alguns passos quando foi chamado.
― Ei, jornalista! Não atrapalhe
minha investigação. – Raquel disse e entrou no carro.
Ao ter certeza de que não estava
mais aos olhos da detetive, Rubens pôs a mão no bolso e retirou um pedaço de
tecido meio queimado.
Carla estava acordando quando
Rubens chegou no quarto com uma bandeja de café da manhã. Suco, café, torradas,
mamão, margarina, geleia, banana e pão francês preenchiam a bandeja.
― Você é único, sabia? – ela
disse se sentando. – Que homem ainda traz café na cama depois de dois de
namoro? – ela perguntou.
― E não será apenas depois de
dois anos. Será depois de dois, de dez, de vinte e quantos mais vier. – ele
disse e sorriu.
Carla o beijou apaixonadamente.
Na sequência, eles começaram a comer. Rubens ligou a televisão para ver as
notícias. Após falarem sobre esportes e acidentes de trânsito, veio o grande
furo do programa.
― Que horrível! – Carla exclamou.
– Por que alguém iria querer queimar todos aqueles velhinhos?
― Por que não vamos descobrir? –
o jornalista disse com um sorriso.
― Eu conheço esse sorriso. –
Carla disse devolvendo o sorriso.
― Faz tempo que não fazemos uma
matéria em dupla. – ele lembrou.
Nos últimos dois anos, Rubens
passou bastante tempo cobrindo as investigações policiais sobre tráfico de
drogas e assassinatos na capital paulista. Uma vez ou outra, ele viajou para
escrever sobre outro estado. Parte dele sempre quis voltar para Curitiba, mas a
maior metrópole do Brasil tinha matérias mais chamativas.
― Mas você vai ter que tomar
cuidado. Da última vez que fui para lá, tive uma aventura e tanto. – ele
alertou a namorada.
A única pessoa para quem Rubens
contou toda a verdade sobre o episódio da Conspiração Temporal foi Carla.
Tentando seguir uma linha parecida com a do namorado, a jornalista começou a
treinar seu corpo, pois sabia que problemas poderiam surgir em suas
investigações.
― Sério? Depois de dois anos
fazendo muay thai e boxe, sendo que eu te nocauteei mais
vezes, você ainda duvida de mim? – a loira disse.
― Eu não duvido de você. Só quero
que tome cuidado. Pode não parecer, mas em Curitiba o bagulho é mais doido que
aqui. – Rubens disse.
― Tudo bem. Mas promete que vai
me apresentar o Motoqueiro das Trevas e os espiões? – ela pediu empolgada e
Rubens riu.
― Se acontecer de nos
encontrarmos, apresento sim. – ele disse achando a situação engraçada. – Agora,
vamos. Precisamos convencer o Beneton ainda. – o jornalista disse e levantou.
No avião, o casal lia tudo que já
havia sido falado sobre o incêndio, mas pouco se sabia. A polícia local apenas
disse que havia sido criminoso e que iriam investigar. Rubens conhecia o
discurso, era uma manobra para o povo não se apavorar e a mídia dar um tempo.
Entretanto, o jornalista paulista não pretendia esperar pelos policiais.
― Quando chegarmos, depois de nos
instalarmos no hotel, acho melhor nos dividirmos. Assim cobriremos mais área. –
ele disse.
― Tudo bem. Como faremos? – Carla
quis saber.
― Eu vou até o local do incêndio,
ver se a polícia deixou passar algo. Sempre deixam. – ele disse. – E você vai
ao corpo de bombeiros ver o que eles sabem.
― Deixa comigo. – a jornalista
disse.
O sol já estava se pondo quando
Carla voltou ao hotel. Rubens estava ao telefone terminando uma ligação.
― Uhum, entendi. Obrigado, até. –
ele disse e desligou. – E então? – ele disse ao vê-la.
― Tenho boas notícias. – ela
disse.
― Eu também. – Rubens contou. –
Primeiro as damas. – ele disse.
― Bom, os bombeiros me
confirmaram que foi sim um incêndio criminoso. – Carla começou. – Foram
colocadas bombas em quatro pontos estruturais importantes do casarão e uma no
jardim. Eles me disseram que elas eram do tipo que precisa ser ativada para
explodir. Logo, o culpado deveria estar próximo ao local do crime para saber
quando ativar. – ela contou.
― Isso é ótimo. – o jornalista
comemorou.
― E você? – Carla quis saber.
― Bom, tive pouco tempo na cena
do crime, porque uma detetive estava por lá e me impediu de olhar melhor. Ela
disse que participa do caso do incêndio, mas já pesquisei o nome dela e
descobri que ela é apenas a líder da investigação. – ele disse normalmente. –
Entretanto consegui pegar isso no meio dos destroços. – Rubens falou e mostrou
o pedaço de tecido. – Parte do nome da pessoa e da empresa estão faltando, mas
após uma pequena pesquisa, descobri isso. – ele apontou para seu laptop.
― Instalação e manutenção de ar
condicionado? – a loira repetiu.
― Isso mesmo! Acabei de ligar lá
e me contaram que o funcionário cujo uniforme eu encontrei, disse que está
doente e ficaria uma semana sem poder ir ao trabalho. Para mim, isso é no
mínimo suspeito. – ele disse.
― No que está pensando, Rubens
Fonseca? – Carla indagou.
― Eu disse que era da polícia e
consegui o endereço do cara. Está afim de jogar ‘policial bom e policial mal’?
– o jornalista devolveu.
― Só se eu for o policial mal! –
Carla condicionou animada.
Nossa, mais uma mulher da pesada.
ResponderExcluirQuando esta mulherada toda se encontrar, me avise.
Não quero nem passar perto kkk.