CAPÍTULO 2 – PONTOS
DE VISTA
― Vejo que está lendo o livro que
eu te dei. – Raquel disse e sentou-se ao lado do mais velho.
― Seus presentes são sempre úteis
e prazerosos. – Copi devolveu.
― Que bom que você gosta. – a
detetive disse. – Como tem passado?
― Bem. E você? Conseguiu resolver
o último caso?
― Sim, graças a você. Sua dica
foi excelente. – a morena informou.
― Você teria conseguido sem mim.
Nesses dois anos em que tenho te aconselhado, você evoluiu muito. Nos últimos
as deduções finais foram praticamente todas suas. – o velho emendou. – Logo,
não precisará mais de mim.
― Não diga isso. – ela pediu. –
Nossa relação pode ter começado comigo precisando da sua ajuda, mas mesmo que
um dia não precise mais, não pararei de vir te ver. Já não consigo mais. –
Raquel confessou e sorriu.
― Eu fico muito feliz com isso. –
o velho disse também com um sorriso, mas então fechou sua expressão. – Alguma
notícia do Doutor Morte?
― Nada ainda. – ela respondeu desanimada.
– E já faz três meses. Eu sei que ele ainda está na cidade, porque todos os
meios de saída estão sendo vigiados, mas não sei mais onde pode estar. Já vimos
todos os lugares óbvios. – Raquel desabafou.
― Uma hora ou outra ele vai
aprontar e se você não o encontrar antes disso, tenho certeza de que estará
pronta para enfrentá-lo novamente. – Copi disse tentando animá-la. – Mas me
diga, ainda tem se encontrado com aquele motoqueiro?
Desde que se encontraram pela
primeira vez, a Detetive Raquel Marins e o Motoqueiro das Trevas se esbarraram
várias vezes durante os dois anos que se seguiram. Em algumas situações, a moça
o impediu de matar e em outras, foi o justiceiro da noite que convenceu a
policial. A aliança ainda se mantinha porque os dois compartilhavam o mesmo
objetivo, apenas possuíam diferentes pontos de vista.
― Sim, mas faz tempo que não o
vejo. – ela respondeu. – Ainda bem.
― Você sabe o que eu penso sobre
ele, não é? – o velho disse. – Eu já estive onde você está agora, mas hoje
penso que se fizéssemos como esse motoqueiro tem feito, essa cidade estaria bem
melhor.
― Mas a que custo? – a morena
devolveu.
― A um custo bem menor de vidas
inocentes. – Copi disse e teve um acesso de tosse. – Bom, acho que essa é a
minha deixa. – ele disse e acenou para a cuidadora que estava a poucos metros
de distância.
― Você sabe que eu o considero
como um pai para mim, não é? – ela perguntou enquanto a cuidadora o ajudava a
levantar.
― O sentimento é recíproco. – ele
sorriu. – Você me visitou mais em dois anos do que meus quatro filhos fizeram
em quinze. – Copi disse e seguiu com a cuidadora para o casarão do Asilo.
A Detetive Raquel Marins caminhou
para a saída do local. O bairro era tranquilo, havia pouco trânsito, ouvia-se
apenas o canto dos passarinhos e o fraco uivo do vento. A morena puxou seus
cabelos para trás da orelha e pegou a chave do carro, que estava na bolsa. Ela
precisava atravessar a rua para chegar ao veículo. Quando alcançou a metade,
ouviu uma explosão atrás de si e o impacto causou um tremor que a empurrou até
colidir com seu carro, que teve os vidros quebrados.
Raquel virou-se rapidamente e
arregalou os olhos não acreditando no que via. Ao notar que era real, ela
surtou.
― NÃÃAAAAAOOOOOOOO!!! – a
detetive gritou e correu em direção ao asilo, mas mais explosões ocorreram e a
empurraram para trás.
Após as explosões, o fogo
consumia todo o casarão do Asilo Ipiranga. Não havia gritos, nem movimentos. A
explosão matou a todos de uma vez. Um homem que se aproximava do local ligou
para os bombeiros, enquanto outra pessoa chamou a polícia. E no meio disso
tudo, Raquel chorava ajoelhada no asfalto.
Logo as viaturas chegaram e em
seguida, o corpo de bombeiros. Um policial conseguiu tirar a detetive do chão e
levá-la à ambulância que também estava ali. Os bombeiros apagaram o fogo, mas a
busca por sobreviventes foi em vão. Ninguém sobreviveu à explosão.
Então, chegaram mais viaturas. De
uma delas, um policial saiu e foi em direção à Detetive Marins.
― O que é isso? – ela perguntou
ao receber um envelope.
― Deixaram na delegacia para a
senhora. – o rapaz disse.
― Não estou com cabeça para isso
agora. – Raquel disse tentando parar de chorar e devolveu o envelope ao
policial.
― A pessoa que entregou insistiu
para que eu entregasse, disse que era do seu médico. – o oficial disse e a
detetive o encarou.
― Médico? – ela repetiu e então
entendeu. – Me dê isso. – disse e pegou o envelope.
Abriu o pacote e retirou uma
carta de dentro. Aos poucos, enquanto lia, suas lágrimas foram secando.
“Olá, Detetive Marins! Se está
lendo esta carta é porque meus planos estão dando certo. Eu notei que você não
me visitou muito nos últimos dois anos. Fiquei muito sentido. Senti sua falta.
Quando fugi, há três meses, pensei em te procurar, mas decidi esperar mais um
pouco, sabe? Para não fazer a coisa errada. Quando finalmente tive tempo,
resolvi procurar saber o porquê de você não ter me visitado. Então, descobri
que você passava muito tempo nesse asilo. Em seguida, investiguei o passado
daquele que você visita. Confesso que fiquei surpreso, mas ao mesmo tempo foi
bem explicativo. Enfim, detetive, o motivo dessa carta é que não quero que você
perda tempo tentando elucidar o caso da explosão. Eu te digo, fui eu. Por que?
Muito simples: estou com um grande plano em andamento e quanto menos gente
estiver tentando impedir, melhor. Eu sei que você vai tentar me impedir e eu
quero que isso aconteça, porque temos negócios inacabados. Entretanto, não
coloque a carroça na frente dos bois, na hora certa, você saberá de tudo. Estou
lhe pedindo isso, porque se assim fizer, só estará adiantando a sua morte. O
meu Caos Urbano logo será uma realidade e não há nada que você possa fazer.
Atenciosamente, Doutor
Morte.”
O ódio tomou conta da tristeza.
Raquel não estava mais chorando. Seu cenho estava franzido. Aquela expressão
era nova para os seus colegas. Eles ficaram assustados, mas o que os assustaria
mais seriam as palavras que se seguiriam.
― O responsável por essa explosão
foi o Doutor Morte! – ela gritou para que todos a ouvissem. – A partir de hoje,
vamos dobrar o número de policiais que o estão procurando. Prender esse
criminoso é prioridade máxima. Todos entenderam? – ela perguntou ao concluir, e
várias cabeças assentiram. Ela pegou a carta e a entregou para um policial. –
Entregue isso aos peritos, quando eles chegarem. Eu vou voltar para a
delegacia. – ela disse e foi até o seu carro, que estava cheio de cacos de
vidros.
A detetive limpou os que estavam
no banco do motorista e entrou. Seu olhar estava firme e determinado. Nem
parecia que havia perdido uma pessoa querida há tão pouco tempo, mas diante dos
fatos, Raquel não tinha tempo a perder. O luto teria de ficar depois.
A coisa tá ficando quente!
ResponderExcluirMas e o Baltar?
Dormindo com os peixes?