CAPÍTULO 1 – FUTURO
MORTO-VIVO
Nanda recolocou a data, da qual
haviam chegado, na máquina do tempo. Jess fez o mesmo, mas quando o ativaram,
ambos os dispositivos falharam.
― O que aconteceu? Por que não
funciona? – Jess perguntou ao mesmo tempo em que apertava repetidamente o botão
de ativação.
― Deve ter tido algum defeito na
nossa viagem de volta. – Nanda supôs. – Precisamos descobrir o que houve com
essa época. Mais do que isso, precisamos sobreviver. – a loira disse.
O vento soprava forte e uivante,
criando pequenas nuvens de areia que flutuavam por alguns instantes. No
entanto, o vento era o único barulho que as duas amigas ouviam. Nem carro, nem
passos de pessoas, pássaros ou ruídos de qualquer espécie. Elas estavam no
centro de uma das capitais com mais barulho que já haviam conhecido.
Começaram a andar para explorar o
novo futuro. A cada passo que davam suas botas afundavam alguns milímetros na
areia e deixavam uma nítida pegada para trás. Passaram duas quadras, alcançando
uma das maiores avenidas da cidade. A Avenida Marechal Floriano Peixoto passava
ao lado da Praça Carlos Gomes, que ficava a duas quadras da Praça Rui Barbosa,
local em que as viajantes do tempo surgiram.
A Carlos Gomes também estava
soterrada por areia. O pouco que haviam visto de Curitiba, fazia-a parecer uma
cidade morta no deserto. Elas seguiram a Marechal se afastando do centro. Os
sentidos de Nanda faziam-na perceber o mínimo distúrbio no momento. Foi assim
que ela ouviu passos após andarem uma quadra na avenida.
― Finalmente alguém apareceu. –
Jess se animou e ia se aproximar, mas foi impedida pela amiga.
― Espere. – a loira disse.
Conforme o indivíduo chegava
perto, elas puderam notar os detalhes que o tornavam ameaçador: seus passos
eram arrastados, como se não conseguisse andar mais rápido; não havia pálpebras
em seus olhos e nem lábios em sua boca; sua pele era cinza e ressecada; por
toda a sua roupa velha tinha manchas de sangue; seus cabelos eram ralos.
― Há algo de muito errado com
ele. – Jess disse.
Nanda pegou sua arma e atirou na
cabeça do indivíduo.
― Não há dúvida sobre isso. – ela
disse.
As duas ficaram olhando para o corpo inerte no
chão, quando muitos passos foram ouvidos juntamente com ruídos que lembravam
rosnados.
― Acho que o barulho atraiu mais
deles. – a morena supôs.
― O que são essas coisas afinal?
– a loira perguntou intrigada.
― Parecem pessoas. – Jess disse.
― Só parecem. – Nanda devolveu. –
É melhor sairmos daqui.
As amigas começaram a correr na
direção em que estavam, quando viram outro grupo se aproximarem delas. Então,
elas viraram à esquerda.
― Olha ali! O portão parece
aberto. – a morena baixa apontou para um local com um portão duplo entreaberto.
Elas entraram e empurraram as
grades, prendendo-as com uma corrente enferrujada que ali estava. Logo, as
criaturas se juntaram tentando empurrar o portão.
― Acho que isso nos dá um tempo
para pensar. – a loira alta concluiu.
― Hã... Nanda? – a morena chamou.
Ao se virar, ela viu onde
estavam: um estacionamento. Além do espaço para entrada e saída de carros,
havia um grande espaço em que os veículos ficavam guardados. Uma rampa levava
ao andar de cima, mas este apenas beirava a parede, não havendo piso no centro.
O mesmo valia para a cobertura do local.
― Podíamos usar um dos carros. –
sugeriu Jess.
― A areia bloqueou as portas dos
debaixo e não acredito que nenhum dos de cima consiga andar nesse terreno
arenoso. – Nanda disse. – Te digo o que faremos: vamos subir, escolher um carro
e descansar um pouco. – ela decidiu.
Jess escolheu um Prius prata,
abriu a porta do carona e jogou sua mochila no banco do motorista. Inclinou o
máximo possível o seu banco, tirou os óculos e sem perceber dormiu
profundamente. Nanda fez o mesmo com um Vectra. Entretanto, ao contrário da
amiga, ela não dormiu logo. Ficou com os ouvidos atentos, mas eventualmente,
ela também adormeceu.
O sol estava se pondo quando a
loira despertou. Seu primeiro instinto foi olhar para o portão e ao fazer isso
viu que a corrente não estava mais aguentando. Um dos seres já conseguia passar
seu braço por entre os portões. Ela saiu do Vectra, pegou sua mochila e começou
a procurar um jeito de sair dali. Não havia outra saída por baixo, por isso a
única solução vista por ela foi ir por cima.
― Jess! Acorde! – ela chamou a
amiga.
― O que foi? – a morena perguntou
assustada.
― Precisamos ir. – Nanda disse.
A morena pôs seus óculos e pegou
sua mochila. Antes de seguir a amiga, ela também olhou para o portão e entendeu
a pressa.
― Como vamos sair? – Jess quis
saber.
― Vamos usar a cobertura. – a
mais alta disse.
Nanda pegou sua arma e mirou na
cobertura de metal que havia sobre os carros. Com a energia emitida, ela cortou
uns três metros da parte que fazia ligação com a parede. Quando acabou, ela
mudou a direção em 90 graus e cortou até acabar, fazendo com que a parte de
metal pendesse no ar. Devido a superfície lisa, as duas precisaram tomar
impulso para poder subir até onde ainda era firme.
Quando chegaram lá ouviram um
grande barulho vindo de baixo. Deram a volta para ter uma visão melhor e viram
que as criaturas haviam conseguido passar pelo portão.
― Foi por pouco. – a morena
disse.
― É. – Nanda concordou. – Agora
precisamos decidir para onde ir e como descer daqui.
Ao olharem ao redor, viram o
Shopping Estação, ou pelo menos o que sobrou dele.
― Olha! O Estação! – Jess disse.
– Vamos ver como estão as coisas lá. – sugeriu.
― Por que não? – Nanda disse e as
duas foram na direção do shopping.
O Shopping Estação era um dos mais antigos da
cidade de Curitiba. Seu nome foi dado porque ele foi construído onde havia o
museu ferroviário da cidade. Na realidade em que as duas amigas nasceram e
cresceram, o local era o ponto de encontro dos jovens e grandes empresários.
Elas não tiveram tempo de ver como era no passado e não faziam a mínima ideia
de como seria na realidade em que se encontravam.
A Avenida Sete de Setembro
cruzava a Marechal Floriano, passando na frente do Estação. Ela também era uma
das avenidas com as estações tubos e canaletas. Quando as viajantes do tempo a
alcançaram não viram mais que as estruturas metálicas curvas dos tubos. A areia
praticamente os encobriu por completo.
Elas não precisaram entrar no
shopping para saber que não havia nada lá dentro além de areia e destroços do
que um dia foi um dos melhores lugares de lazer de Curitiba.
― Puxa, eu gostava tanto do
Estação! – Jess disse sentida.
― Eu sei, eu também. – Nanda
emendou. – Vamos em frente.
― Para onde vamos? Está quase
escuro e não sabemos o que está acontecendo com essa época. – a morena
argumentou.
― Vamos seguir a Marechal até São
José dos Pinhais. Em uma cidade menor, talvez encontremos alguém. – a loira
disse.
― A Marechal é gigante. Vamos
demorar muito tempo andando. – Jess disse assustada. – E tem essas criaturas,
não sabemos quantas delas ainda tem.
― Eu sei que a situação não é das
melhores, mas precisamos nos mover. – Nanda disse aumentando o tom de voz. –
Nós não conseguimos consertar o futuro, o Dr. Cintra está morto e essa maldita
máquina do tempo não quer funcionar. Então, se você uma ideia melhor que a
minha, por favor, me diga, que eu estou aberta a opções.
Jess ficou em silêncio e, logo,
as lágrimas começaram a sair dos olhos da morena. A mais alta perdeu a raiva do
momento e abraçou a amiga.
― Não chora, Jess. – Nanda pediu
enquanto passava a mão nos cabelos da mais baixa. – Precisamos ser fortes
agora. Eu preciso que você seja forte agora. – a loira disse e então notou algo
se mexendo a sua frente e caminhando em sua direção. – E quando eu digo agora,
é agora mesmo. – ela disse enquanto se soltava da amiga e pegava sua arma.
O feixe de energia estourou a
cabeça da criatura, mas logo surgiram outros e as duas se viram cercadas. Nanda
continuou a atirar. Jess também detonava algumas cabeças. O sol estava
praticamente posto, e pouquíssima luz era emitida. Isso já estava começando a
dificultar a batalha das amigas.
― Precisamos de um abrigo, Nanda.
Não dá tempo de pegar as lanternas. – Jess lembrou.
― Eu sei. – a loira disse e se
movimentou, mas nesse momento dois pontos de luz surgiram no fim da rua em que
estavam. – Aquilo é...?
Com a iluminação dos faróis, as
viajantes do tempo puderam ver flechas voando de onde estavam as luzes, todas
acertavam em cheio as cabeças das criaturas. A aproximação lhes confirmou que
se tratava de um carro e que estava bem rápido. O veículo atropelou todo o
grupo que as cercava e parou de travessado para elas.
Era uma caminhonete, uma Hilux
modificada. Suas rodas e pneus eram próprios para o terreno arenoso e em sua
frente havia espinhos de aço para acertar quem quer que estivesse no caminho. O
motorista era um homem com cabelos grisalhos, que aparentava ter 50 anos. Na
caçamba, estava um rapaz que devia ter a idade das duas amigas. Ele portava um
arco longo e uma aljava cheia de flechas.
― Vocês são Jéssica e Fernanda? –
perguntou o motorista.
― Como você sabe nossos nomes? –
Jess perguntou espantada.
― Quem quer saber? – Nanda
perguntou intrigada.
― Eu sou Edgar e esse na caçamba
é o Augusto, mas podem chamá-lo de Angu. – disse o motorista.
― Podem relaxar, gatinhas! Nós
somos amigos. Viemos buscá-las a pedido do Dr. Cintra. – o arqueiro informou.
Fiquei curioso.
ResponderExcluirEsta também promete.