quarta-feira, 7 de maio de 2014

Conspiração Temporal T03C01

CAPÍTULO 1 – FUTURO MORTO-VIVO

Nanda recolocou a data, da qual haviam chegado, na máquina do tempo. Jess fez o mesmo, mas quando o ativaram, ambos os dispositivos falharam.
― O que aconteceu? Por que não funciona? – Jess perguntou ao mesmo tempo em que apertava repetidamente o botão de ativação.
― Deve ter tido algum defeito na nossa viagem de volta. – Nanda supôs. – Precisamos descobrir o que houve com essa época. Mais do que isso, precisamos sobreviver. – a loira disse.
O vento soprava forte e uivante, criando pequenas nuvens de areia que flutuavam por alguns instantes. No entanto, o vento era o único barulho que as duas amigas ouviam. Nem carro, nem passos de pessoas, pássaros ou ruídos de qualquer espécie. Elas estavam no centro de uma das capitais com mais barulho que já haviam conhecido.
Começaram a andar para explorar o novo futuro. A cada passo que davam suas botas afundavam alguns milímetros na areia e deixavam uma nítida pegada para trás. Passaram duas quadras, alcançando uma das maiores avenidas da cidade. A Avenida Marechal Floriano Peixoto passava ao lado da Praça Carlos Gomes, que ficava a duas quadras da Praça Rui Barbosa, local em que as viajantes do tempo surgiram.
A Carlos Gomes também estava soterrada por areia. O pouco que haviam visto de Curitiba, fazia-a parecer uma cidade morta no deserto. Elas seguiram a Marechal se afastando do centro. Os sentidos de Nanda faziam-na perceber o mínimo distúrbio no momento. Foi assim que ela ouviu passos após andarem uma quadra na avenida.
― Finalmente alguém apareceu. – Jess se animou e ia se aproximar, mas foi impedida pela amiga.
― Espere. – a loira disse.
Conforme o indivíduo chegava perto, elas puderam notar os detalhes que o tornavam ameaçador: seus passos eram arrastados, como se não conseguisse andar mais rápido; não havia pálpebras em seus olhos e nem lábios em sua boca; sua pele era cinza e ressecada; por toda a sua roupa velha tinha manchas de sangue; seus cabelos eram ralos.
― Há algo de muito errado com ele. – Jess disse.
Nanda pegou sua arma e atirou na cabeça do indivíduo.
― Não há dúvida sobre isso. – ela disse.
 As duas ficaram olhando para o corpo inerte no chão, quando muitos passos foram ouvidos juntamente com ruídos que lembravam rosnados.
― Acho que o barulho atraiu mais deles. – a morena supôs.
― O que são essas coisas afinal? – a loira perguntou intrigada.
― Parecem pessoas. – Jess disse.
― Só parecem. – Nanda devolveu. – É melhor sairmos daqui.
As amigas começaram a correr na direção em que estavam, quando viram outro grupo se aproximarem delas. Então, elas viraram à esquerda.
― Olha ali! O portão parece aberto. – a morena baixa apontou para um local com um portão duplo entreaberto.
Elas entraram e empurraram as grades, prendendo-as com uma corrente enferrujada que ali estava. Logo, as criaturas se juntaram tentando empurrar o portão.
― Acho que isso nos dá um tempo para pensar. – a loira alta concluiu.
― Hã... Nanda? – a morena chamou.
Ao se virar, ela viu onde estavam: um estacionamento. Além do espaço para entrada e saída de carros, havia um grande espaço em que os veículos ficavam guardados. Uma rampa levava ao andar de cima, mas este apenas beirava a parede, não havendo piso no centro. O mesmo valia para a cobertura do local.
― Podíamos usar um dos carros. – sugeriu Jess.
― A areia bloqueou as portas dos debaixo e não acredito que nenhum dos de cima consiga andar nesse terreno arenoso. – Nanda disse. – Te digo o que faremos: vamos subir, escolher um carro e descansar um pouco. – ela decidiu.
Jess escolheu um Prius prata, abriu a porta do carona e jogou sua mochila no banco do motorista. Inclinou o máximo possível o seu banco, tirou os óculos e sem perceber dormiu profundamente. Nanda fez o mesmo com um Vectra. Entretanto, ao contrário da amiga, ela não dormiu logo. Ficou com os ouvidos atentos, mas eventualmente, ela também adormeceu.


O sol estava se pondo quando a loira despertou. Seu primeiro instinto foi olhar para o portão e ao fazer isso viu que a corrente não estava mais aguentando. Um dos seres já conseguia passar seu braço por entre os portões. Ela saiu do Vectra, pegou sua mochila e começou a procurar um jeito de sair dali. Não havia outra saída por baixo, por isso a única solução vista por ela foi ir por cima.
― Jess! Acorde! – ela chamou a amiga.
― O que foi? – a morena perguntou assustada.
― Precisamos ir. – Nanda disse.
A morena pôs seus óculos e pegou sua mochila. Antes de seguir a amiga, ela também olhou para o portão e entendeu a pressa.
― Como vamos sair? – Jess quis saber.
― Vamos usar a cobertura. – a mais alta disse.
Nanda pegou sua arma e mirou na cobertura de metal que havia sobre os carros. Com a energia emitida, ela cortou uns três metros da parte que fazia ligação com a parede. Quando acabou, ela mudou a direção em 90 graus e cortou até acabar, fazendo com que a parte de metal pendesse no ar. Devido a superfície lisa, as duas precisaram tomar impulso para poder subir até onde ainda era firme.
Quando chegaram lá ouviram um grande barulho vindo de baixo. Deram a volta para ter uma visão melhor e viram que as criaturas haviam conseguido passar pelo portão.
― Foi por pouco. – a morena disse.
― É. – Nanda concordou. – Agora precisamos decidir para onde ir e como descer daqui.
Ao olharem ao redor, viram o Shopping Estação, ou pelo menos o que sobrou dele.
― Olha! O Estação! – Jess disse. – Vamos ver como estão as coisas lá. – sugeriu.
― Por que não? – Nanda disse e as duas foram na direção do shopping.
 O Shopping Estação era um dos mais antigos da cidade de Curitiba. Seu nome foi dado porque ele foi construído onde havia o museu ferroviário da cidade. Na realidade em que as duas amigas nasceram e cresceram, o local era o ponto de encontro dos jovens e grandes empresários. Elas não tiveram tempo de ver como era no passado e não faziam a mínima ideia de como seria na realidade em que se encontravam.
A Avenida Sete de Setembro cruzava a Marechal Floriano, passando na frente do Estação. Ela também era uma das avenidas com as estações tubos e canaletas. Quando as viajantes do tempo a alcançaram não viram mais que as estruturas metálicas curvas dos tubos. A areia praticamente os encobriu por completo.
Elas não precisaram entrar no shopping para saber que não havia nada lá dentro além de areia e destroços do que um dia foi um dos melhores lugares de lazer de Curitiba.
― Puxa, eu gostava tanto do Estação! – Jess disse sentida.
― Eu sei, eu também. – Nanda emendou. – Vamos em frente.
― Para onde vamos? Está quase escuro e não sabemos o que está acontecendo com essa época. – a morena argumentou.
― Vamos seguir a Marechal até São José dos Pinhais. Em uma cidade menor, talvez encontremos alguém. – a loira disse.
― A Marechal é gigante. Vamos demorar muito tempo andando. – Jess disse assustada. – E tem essas criaturas, não sabemos quantas delas ainda tem.
― Eu sei que a situação não é das melhores, mas precisamos nos mover. – Nanda disse aumentando o tom de voz. – Nós não conseguimos consertar o futuro, o Dr. Cintra está morto e essa maldita máquina do tempo não quer funcionar. Então, se você uma ideia melhor que a minha, por favor, me diga, que eu estou aberta a opções.
Jess ficou em silêncio e, logo, as lágrimas começaram a sair dos olhos da morena. A mais alta perdeu a raiva do momento e abraçou a amiga.
― Não chora, Jess. – Nanda pediu enquanto passava a mão nos cabelos da mais baixa. – Precisamos ser fortes agora. Eu preciso que você seja forte agora. – a loira disse e então notou algo se mexendo a sua frente e caminhando em sua direção. – E quando eu digo agora, é agora mesmo. – ela disse enquanto se soltava da amiga e pegava sua arma.
O feixe de energia estourou a cabeça da criatura, mas logo surgiram outros e as duas se viram cercadas. Nanda continuou a atirar. Jess também detonava algumas cabeças. O sol estava praticamente posto, e pouquíssima luz era emitida. Isso já estava começando a dificultar a batalha das amigas.
― Precisamos de um abrigo, Nanda. Não dá tempo de pegar as lanternas. – Jess lembrou.
― Eu sei. – a loira disse e se movimentou, mas nesse momento dois pontos de luz surgiram no fim da rua em que estavam. – Aquilo é...?
Com a iluminação dos faróis, as viajantes do tempo puderam ver flechas voando de onde estavam as luzes, todas acertavam em cheio as cabeças das criaturas. A aproximação lhes confirmou que se tratava de um carro e que estava bem rápido. O veículo atropelou todo o grupo que as cercava e parou de travessado para elas.
Era uma caminhonete, uma Hilux modificada. Suas rodas e pneus eram próprios para o terreno arenoso e em sua frente havia espinhos de aço para acertar quem quer que estivesse no caminho. O motorista era um homem com cabelos grisalhos, que aparentava ter 50 anos. Na caçamba, estava um rapaz que devia ter a idade das duas amigas. Ele portava um arco longo e uma aljava cheia de flechas.
― Vocês são Jéssica e Fernanda? – perguntou o motorista.
― Como você sabe nossos nomes? – Jess perguntou espantada.
― Quem quer saber? – Nanda perguntou intrigada.
― Eu sou Edgar e esse na caçamba é o Augusto, mas podem chamá-lo de Angu. – disse o motorista.

― Podem relaxar, gatinhas! Nós somos amigos. Viemos buscá-las a pedido do Dr. Cintra. – o arqueiro informou.

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