segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Ki Bun Tin e a selva de pedra

Quando eu estava no colégio interno me disseram que as cidades grandes são como selvas, selvas de pedra, porque você luta para sobreviver todo dia, ou pelo menos a maioria, diziam meus professores. Existem 2 tipos de pessoas, as que fazem as coisas certas, estudam ou não, e conseguem um trabalho para poder se manter; e as que preferem seguir outro caminho, o do crime, roubando os trabalhadores. Logo, as pessoas direitas e corretas tinham que enfrentar as adversidades da vida, como estudo, trabalho e despesas com moradia e alimento, e ainda os bandidos que querem roubar o pouco que o trabalhador tem. Nos fins de semana em que eu ficava em casa, meu pai me dizia que os bandidos apareciam de noite. Esse era o horário deles. Por isso meu pai não saía sozinho e nem a pé de casa à noite.

Bom, toda essa introdução foi para contar uma história que me aconteceu recentemente. Foi um pouco depois que eu fui no cinema com meu primo. Meu amigo Ki Cre Do era tão ou mais rico do que eu, e bem por isso tinha as melhores roupas, calçados, acessórios, carros e mulheres. Mas como suas notas não estavam mais saindo como o esperado, seu pai cortou seu cartão de crédito e o carro. Numa certa noite durante esse período de castigo, fomos a uma pizzaria comemorar o aniversário de uma amiga em comum. O local era relativamente perto do prédio em que eu morava, porém como iríamos sair muito tarde de lá, pedi ao meu amigo que me acompanhasse até meu prédio. Afinal estaria de noite e os bandidos já estariam alertas. Além disso, o ônibus que ia para casa do Ki Cre Do também era próximo de onde eu morava.


A caminhada que fizemos para voltar foi bem tranquila, o clima estava agradável e aproveitamos para ir conversando sobre vários assuntos. No outro dia, eu acordei atrasado e no horário em que devia estar na faculdade, eu ainda estava no meio do caminho. Enquanto eu andava apressado para recuperar o tempo, um homem surgiu para quebrar a teoria do meu pai. Começou dizendo que me conhecia e se eu não lembrava dele, em seguida, sem me deixar falar nada, me pediu 1 real. Eu neguei, disse que não tinha, e na minha atual situação 1 real faria falta. Ele insistiu umas 3 vezes e continuou me acompanhando. Num ato, creio eu, de desespero, ele começou a por a mão no bolso esquerdo da minha blusa.

Nesse ponto farei uma pausa, é preciso dizer: eu sou normalmente calmo e pacífico, nunca fui adepto de violência, mas eu sei me defender muito bem, e o pior erro dele foi por a mão dele no bolso da minha blusa. Naquele momento, eu disse: "Cara, tira a mão daí!" e já segurei o segurei no pulso, pra tirar a mão dele de lá. Ele falou algo sem sentido e pediu dinheiro mais uma vez. Em sua mão esquerda, ele segurava um capacete de moto e um cigarro. Eu repeti bem sério e olhando bem nos olhos dele: "Cara, tira essa mão do meu bolso!", ele devia estar bêbado ou chapado, mas ao ouvir essas palavras, creio eu, sua voz interior o alertou que algo ruim ia acontecer se ele não obedecesse. Ele tirou a mão, eu o soltei e segui meu caminho. Ele foi pedir dinheiro para outra pessoa.

Enquanto ia para a faculdade, agora num passo mais vagaroso e despreocupado com o horário, descobri que meus professores estavam certos e meu pai estava errado. Cidade grande é realmente uma selva de pedra e eu havia encontrado durante o dia, um animal que só deveria aparecer à noite. Então, pensei: onde o mundo vai parar se nem às 7h30 da manhã podemos andar com segurança nas ruas?

4 comentários :

  1. Voltei aqui para dizer que os livros que vc se interessou fazem parte da saga As Chaves do Reino, é muito boa a saga, já postei sobre ela no meu blog. http://duddmart.blogspot.com/2011/07/as-chaves-do-reino.html Ai está o link ^^

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  2. Se pararmos para pensar seu pai não estava totalmente errado...
    Talvez em sua época a noite representava um perigo maior, estar dentro de sua casa era sinônimo de segurança, etc. No entanto, nos dias de hoje qualquer hora "é hora" e nem mesmo no lugar aonde obviamente deveria representar segurança nós a temos de forma plena...
    Triste realidade.


    ( http://carolsprado.blogspot.com/ )

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