– A minha vó bate mais forte que isso. – disse Rubens, depois de levar um
soco que lhe sangrou a boca.
– Vai com calma, Ônix, deixe um pouco de forças para que ele aguente o
dia de trabalho amanhã. – disse o Coronel Severo Vespertino.
– Sim, sinhô, Coronel. – respondeu o negro, indo desamarrar o jornalista.
Solto, Rubens foi jogado num casebre com várias esteiras no chão e uns 30
outros homens dentro. Josué, um dos que ainda estava acordado foi falar com o
jornalista.
– O sinhô não devia ta aqui, não era pra ser assim. Eu nunca devia ter
mandado aquela carta. – disse o rapaz.
– Não diga isso. Eu vim porque quis e sei exatamente como sair daqui e
acabar com a festa desse Coronel. – disse Rubens, limpando o sangue.
– Como? Sua mochila como todo o equipamento foi apreendido. Deve ta tudo
destruído agora. – Josué lembrou.
– Não está não. Tenho certeza que o Coronel está mantendo como um troféu.
Eu só tenho que ir lá e pegar. Confie em mim. – ele disse, sorrindo.
Pouco mais de um mês depois de voltar da Amazônia, Rubens recebeu uma
carta vinda do norte da Bahia. O assunto o interessou tanto que o rapaz não pensou
duas vezes e decidiu ir confirmar a história.
– O que você vai fazer na Bahia? – gritou Beneton, o chefe de Rubens.
– Tirar umas férias, você não vive dizendo que eu preciso?
– Não brinque comigo, Fonseca. Que matéria vai ser dessa vez? Não é tráfico
de animais de novo, não né? – perguntou o editor-chefe.
– É claro que não, você sabe que eu não repito um assunto.
– Eu já te disse mil vezes, nosso jornal é local, por que você não faz
uma matéria aqui em São
Paulo mesmo? – esbravejou Beneton.
– Porque isso é o que todo mundo faz. Agora deixa eu ir, se não eu perco
meu vôo. Tchauzinho. – ele disse, acenando e saindo. – Tchau Carla.
– Aonde ele ta indo? – perguntou a moça ao passar por Rubens.
– Se meter em confusão, com certeza. – Beneton respondeu.
No avião, Rubens releu a carta e tentava não acreditar no que estava
lendo, queria que aquilo tudo fosse mentira e não existisse. Pela primeira vez
na sua vida, ele queria que tivessem pregando uma peça nele. Ele simplesmente não
podia acreditar que ainda existiam escravos no Brasil.
Ao chegar à pequena cidade de Esperança, Rubens foi andar para fazer sua
investigação. Ele notou que o povo era muito fechado e ninguém se dispunha a
lhe dar muitas informações. Era como se estivessem com medo de algo ou de alguém,
que ele veio a descobrir depois ser o Coronel Severo Vespertino. Então, ele só
precisou ligar os pontos. Uma cidade com um povo recluso e amedrontado pela figura
de um senhor de fazenda.
Ele fez uma viagem no tempo e estava no Brasil colonial. O que mais
comprovava sua teoria foi o nome da grande fazenda do Coronel Vespertino, Império
Colonial. O mais irônico era o nome da cidade, Esperança. Talvez ele não tivesse
recebido a carta de Josué por acaso, talvez coubesse a ele, Rubens, levar
esperança aquele povo humilde.
– É uma honra poder entrevistar o senhor, Coronel. – disse Rubens.
– Obrigado. De onde o senhor é mesmo? – perguntou o Coronel.
– O Diário de Salvador, o jornal mais lido da capital. – respondeu Rubens.
– Podemos começar?
– Quando quiser. – o Coronel disse prontamente.
Rubens começou a entrevista de um modo tranquilo e foi aumentando o nível
das perguntas conforme conquistava a confiança do entrevistado. Então achou que
estava na hora de chegar à parte importante e perigosa.
– Acho que estou satisfeito, Coronel. Agora, o senhor se importaria de eu
tirar algumas fotos de sua propriedade e de seus empregados? – ele pediu.
– Na verdade, eu me importo sim. Acredito que o senhor tem todo o
material que precisa para a sua reportagem, senhor Fonseca. – respondeu o
Coronel, friamente e se levantando. – Retire-se, por favor.
Era a resposta que Rubens esperava. O jornalista fez questão de ser visto
tirando foto do lugar pelos capatazes do Coronel. Sem o testemunho da população
urbana, ele se viu obrigado a buscar informações por ele mesmo, da pior maneira
possível.
– Ocê não ouviu o que o Coronel disse, não, moço? – bradou Ônix, pegando
a câmera da mão de Rubens e puxando de volta para a casa grande. – O Coronel vai
querer falar com ocê de novo e dessa vez a conversa vai ser diferente. – o negro
informou, enquanto o jornalista sorria.
O pior é que a escravidão de fato ainda existe. Mas acho que, atualmente, não é por ser negro, mas sim por ser pobre, pela falta de oportunidade. Negros, brancos, pardos, estranheiros, todos trabalhando - seja em canaviais, fazendas ou confecções - em condições precáriaspara ganhar praticamente nada.
ResponderExcluirIsso é muito triste.
Que bom que Rubens está de volta. :D
Beijos.
Gostei da volta do Rubens e do desenrolar da narrativa. To gostando cada vez mais desse jornalista, haha
ResponderExcluirBeijos