segunda-feira, 14 de maio de 2012

Kaluana


Depois de um ano fazendo matérias em outros estados, Rubens passou a escrever sobre assuntos de sua cidade natal e notou que tinha muito a falar: tráfico de drogas; violência doméstica; policiais corruptos; e muito mais. Tanto tempo fora o havia feito esquecer como São Paulo era grande.
Ele voltou para casa depois de redigir um texto para o jornal e ao chegar na portaria do prédio em que morava, teve uma surpresa. Uma morena linda, com longos e lisos cabelos, vestindo apenas uma pequena regata para cobrir os seios e uma bermuda, esperava-o.
– Kaluana? – ele disse espantado ao vê-la.
– Rubens! – ela gritou, correu e abraçou-o forte.
– Ei, o que você está fazendo aqui? – ele perguntou ao se separarem.
– Vim te visitar. Você não ligou mais e nem deu notícias. – ela reclamou.
Rubens havia ligado algumas vezes para a jovem índia depois que voltou de lá, mas foram poucas e sempre para dizer que estava muito ocupado para recebê-la e dar atenção a ela. Depois de um tempo, ele simplesmente esqueceu-se de ligar.
Após convencer o porteiro de que eram primos, Kaluana e Rubens foram de elevador para o apartamento do rapaz. Era um lugar só para uma pessoa morar. Havia apenas um quarto, sala, cozinha, banheiro e lavanderia.
– Não é muito grande e só tem uma cama, que, é claro, vai para você, enquanto estiver aqui. – ele disse rapidamente. – Certifiquei-me de comprar um sofá confortável para ocasiões como essa, não se preocupe. – ele disse e colocou a malas dela em seu quarto e em seguida eles sentaram-se no sofá.
– É uma bela casa, Rubens. – ela elogiou.
– Obrigado, mas na verdade é um apartamento. – ele explicou. – Ei, o que é isso que você está segurando, Kaluana? Um cabo de vassoura?
– Ah não! – ela disse e riu da comparação. – É minha lança!
– Lança?! – Rubens repetiu espantado. – Como você conseguiu passar pela segurança do aeroporto? – ele quis saber.
– O Guarda Guaxinim conseguiu uma autorização para mim. – ela disse.
– Não é Amorim? – ele perguntou mais para si mesmo. – Mas por que era tão importante para você trazer sua lança? – Rubens quis saber.
– Pelo real motivo de eu ter vindo para cá. – ela disse séria.
– E que real motivo é esse? – Rubens perguntou curioso.
– Os traficantes de animais foram soltos. – ela disse.
– Krok e Everest? – ele arregalou os olhos.
– Não sei o nome deles. É um homem cheio de cicatrizes e com a pele feia e outro muito grande, maior do que qualquer outro que eu tenha visto.
– São eles. – Rubens refletiu um momento sobre a informação. – Eu sabia que eles não ficariam presos para sempre. Aliás, considerando o Brasil até que ficaram bastante tempo. Eu não entendo, Kaluana, por que você fez essa viagem toda só para me dizer isso? Você podia ter ligado. – o rapaz lembrou.
– Eu tentei. Você não atendeu. – ela disse. – Tem mais!
– Mais o que?
– Um dia, quando fui à cidade, eu os vi e os segui. Consegui chegar perto o suficiente para ouvir parte da conversa deles. O homem de tamanho normal disse que viriam para cá atrás de você, para se vingar. – ela contou.
– Ora, Kaluana, isso é bobagem. O que eles poderiam fazer comigo? Considerando que você ouviu mesmo isso. Aqui não é a Amazônia.
– O Guarda Guaxinim confirmou que eles viajaram para São Paulo um dia antes de mim. Eles já estão aqui, Rubens. – a índia segurou os ombros dele. – E eu também, para te proteger. – ela disse.


Um dia atrás, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, Krok e Everest desembarcaram.
– Finalmente, chegamos. – o mais alto disse. – Já vamos atrás dele?
– Calma, meu caro Everest, tudo a seu tempo. Agora falta pouco para a nossa doce e tão esperada vingança. – Krok disse.

Um comentário :

  1. Confesso que me identifiquei com uns trechos, sabe???
    Por exemplo, "Depois de um tempo, ele simplesmente esqueceu-se de ligar."

    Creio que ela se sentiu exatamente como ele descreveu: Esquecida.

    "- Você podia ter ligado. – o rapaz lembrou.
    – Eu tentei. Você não atendeu. – ela disse."

    Coitada... Imagino como é ligar várias vezes, querendo dizer algo que considera importante, e não conseguir falar pois não é atendida... Ela teve que sair da PQP pra conseguir finalmente conversar com ele... E tudo poderia ser resolvido facilmente se ele telefonasse, ou atendesse o telefone. Esse Rubens precisa de umas palmadas. :@

    E alguém por favor avise pra ela que na "floresta de pedra" se usa sutiã; e que essa lancinha não é nada se comparada com armas de fogo. kkkkkkkkk
    Acho que essa história vai ser bem interessante.

    Beijos.

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