quarta-feira, 2 de maio de 2012

Notas


O primeiro semestre passou e as férias acabaram, mas Solano não as aproveitou como gostaria. Por ter tirado notas muito baixas nos dois primeiros bimestres, seus pais o fizeram ter aulas particulares durante as férias. Ele não se esforçou nem um pouco em prestar atenção, mas recebeu uma séria ameaça do pai um dia antes da volta às aulas.
– É bom você recuperar suas notas no terceiro bimestre ainda, porque senão nada de futebol para você pelo resto do ano!
O jovem atleta não sabia o que fazer e, durante a primeira semana de aula, mesmo tentando, não conseguiu prestar atenção aos professores. Ficou bem calado na primeira reunião do grêmio do segundo semestre. Alex notou, mas preferiu não comentar, pois saiu logo que acabou o assunto.
Solano foi o penúltimo a levantar e quando o fez, derrubou alguns papéis de sua mochila, que estava aberta. Diana, que ainda estava sentada, pois havia decidido ficar para fazer umas pesquisas, abaixou para ajudá-lo a recolher. Sem querer, ela pegou o último boletim do rapaz e viu as notas vermelhas. Ao ver o que a amiga tinha em mãos, ele rapidamente pegou, agradeceu e foi embora.
Assim que o artilheiro saiu, Diana começou a procurar pelas notas dos alunos no sistema do colégio. Apesar de apenas confirmar o que tinha visto, a menina ficou surpresa com as notas tão baixas do amigo. Passado o final de semana, ela chamou-o para conversar na sede, durante o recreio.
– Por que não falou nada para gente? – ela perguntou diretamente.
– Do que você ta falando, Di? – o rapaz quis saber.
– Das suas notas, Solano. Elas estão muito baixas. – ela respondeu.
– Ah, isso. – ele resmungou.
– É, ISSO! – ela enfatizou. – O que aconteceu?
Ele explicou que tinha dificuldades em algumas matérias, como: história, geografia, português, matemática e biologia. Não conseguia prestar atenção nas aulas e preferia jogar futebol. Ele também se sentiu à vontade para contar sobre suas férias e a ameaça do pai.
– Então, precisamos fazer algo quanto a isso. – ela disse.
– Precisamos? – ele repetiu.
– Sim, não vou deixar você sozinho nessa. E começaremos hoje mesmo. Prepare-se será puxado. Segundas, quartas e sextas à tarde, iremos estudar na biblioteca. Terças e quintas, você pode jogar futebol. – ela determinou.
– Não é muita coisa? – ele perguntou desanimado.
– Talvez, se a sua única nota boa não fosse em educação física.


Nos dois meses seguintes, os dois amigos passaram as tardes dos dias combinados estudando. Para o rapaz estava sendo uma experiência inédita, pois ele nunca havia estado na biblioteca do colégio. Depois de alguns dias, quando quis emprestar um livro, precisou fazer seu cadastro, pois ainda não o tinha.
Diana também experimentava algo novo. Ela se lembrava de como Alex não entendia nada quando eles estudavam juntos. Com Solano, ela via um progresso. As pessoas acharam muito estranha a presença do atleta na biblioteca.
 No segundo mês, os estudos passaram a refletir em casa também. Nem os jogos de futebol ele via mais. Lendo, escrevendo, contando, decorando. Solano estudou mais naqueles dois meses do que em sua vida toda. E valeu a pena.
A semana de provas chegou e a hora de mostrar resultado. Apreensivo, mas confiante, o rapaz fez os exames e saiu contente de cada um deles. Depois do último dia, Diana quis saber como ele tinha ido.
– Bem até. Consegui responder tudo. – ele respondeu. – Normalmente, deixo metade em branco.
– É um avanço. – ela comentou.
– To louco para estudarmos para as últimas provas, Di.
– É, sobre isso... não vai haver mais “nós”. – ela disse.
– Como assim? – ele perguntou, confuso.
– Olha, Solano, você precisa estudar sozinho, agora. Se sempre estudar comigo, vai ficar dependente e ninguém sabe até quando estaremos juntos. – ela explicou e viu o olhar triste do amigo. – Nada impede de fazermos a revisão para as provas, juntos. – ela terminou e ele sorriu, no momento em que a mãe dele chegou de carro.
– Obrigado por tudo, Di. – ele agradeceu e a beijou na testa.
Enquanto via o rapaz ir embora, Diana sentiu algo que nunca havia sentido antes. Ela não sabia dizer o que era, mas sabia que era bom, era muito bom.

Um comentário :

  1. "Normalmente, deixo metade em branco."

    Nossa, até nisso ele não pensa! Ia no chutão mesmo. Não é vestibular, não tem ponto de corte. kkkkkkkkkkkkk Vai que acertasse, né?
    E que bom que Diana está sentindo algo por alguém. :D

    Beijos.

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