A ARTE DE RECOMEÇAR
Quando Léo descobriu o IP de um dos computadores da empresa de Barton, todos decidiram ir embora da favela e ir para o julgamento. Imaginaram que teriam problemas com Polaco Azedo, mas este se mostrou bem compreensivo.
― Sabia que esse dia chegaria. - ele começou. - Em 10 dias, vocês contribuíram bastante para os meus negócios. Mais do que eu imaginaria. Eu deveria obrigá-los a ficarem aqui e continuar com suas funções, mas não sou tão mal assim. Deixo as portas abertas para quando quiserem voltar. - o traficante loiro disse. - Fiquei sabendo que estão sem carro agora.
― Precisamos nos livrar deles para ajudar o Joel. - Charger explicou.
― Hum, então podem escolher dois dos que vocês estavam trabalhando, com exceção do meu, é claro. - Polaco disse e surpreendeu a todos. - Agora vão, antes que alguém comece a chorar.
― Então, no fim ele é uma boa pessoa, apesar de ser um criminoso. Isso é muito contraditório? - Joel disse ao fim da narrativa.
― Um pouco. - Lívia disse.
― Tenho um anúncio muito importante a fazer. - Joel disse a todos que estavam no Centro de Operações. - Eu decidi que nós vamos devolver todo o dinheiro que roubamos.
― O que? - Facada foi o primeiro a questionar.
― Como é que é? - Charger emendou.
― Você pirou? Depois de tudo pelo que passamos. - Léo disse.
― Calma, pessoal, calma. - o líder pediu. - Só vamos devolver o dinheiro do shopping e do museu, o do banco nós não temos. Se tem alguém que merece ser roubado nessa história é o Barton, por isso é só com o dele que ficaremos e é mais do que suficiente para mudarmos de vida. - finalizou.
― Mas como vamos devolver o dinheiro sem ninguém perceber? - Taís quis saber.
― Eu tenho um plano. - Joel disse.
O grupo contratou duas pessoas e duas vans para fazer a entrega do dinheiro nos dois lugares em que iriam devolver. Nenhum dos entregadores sabia do conteúdo que carregava. A surpresa tomou conta de todos, quando as malas foram abertas e notas de dinheiro começaram a voar. A notícia passou em todas as mídias.
A cidade de Fênix, situada na região centro-norte do Paraná, recebeu três novos moradores. Joel comprou duas casas, uma para morar e outra para abrir uma oficina mecânica. Três meses se passaram desde que tinham se mudado de Curitiba e toda sua agitação de cidade grande.
Era tarde da noite e Joel decidiu olhar seu e-mail. Havia uma mensagem de Léo.
“E aí, como estão as coisas? Imagino que bem, notícia ruim costuma vir rápido. Desculpa pela demora em responder, mas andei bem ocupado nas últimas semanas. Você queria saber como todo mundo se arranjou, não é? Muito bem, lá vai.
“Taís vendeu a oficina do pai dela e se mudou com Charger para o Abranches, onde comprou um lugar maior ainda. Os dois têm trabalhado bastante, mas me disseram que sentem falta de um bom gerente. Eu disse para contratarem alguém, mas eles não querem ninguém desconhecido gerindo o negócio deles. Não posso culpá-los.
“Bomber usou parte do seu dinheiro para 'comprar' sua entrada na polícia de novo. Os corruptos que armaram contra ele se tornaram os manda-chuvas hoje, por isso não foi difícil para o nosso amigo falar a língua deles. Muito embora, de algum jeito misterioso, ele conseguiu tirar todos eles da corporação sem se sujar. Ele e a Sandra noivaram e pretendem se casar ano que vem. Ela está estudando para entrar na polícia também.
“Eu abri uma empresa de manutenção de computadores. Você não tem ideia de quantos PCs eu recebo para arrumar por dia. Não sei se você lembra, quando me inflitrei no BACEN, conheci uma menina linda, Luana era o nome dela. Por conta da operação, nunca mais havia falado com ela, mas o destino foi generoso e me fez encontrá-la outra vez. Inventei uma história qualquer para explicar meu sumiço e desde então, temos saído.
“Outro que se deu bem com uma funcionária do BACEN foi o Facada. Lembra aquela mulher que nos viu quando saímos do arquivo? O nome dela é Marquieli. Ao contrário de mim, o Luiz não esperou pelo destino e foi atrás dela assim que a poeira baixou. Depois de um tempo, eles começaram a namorar e recentemente se mudaram para uma fazenda em uma cidade vizinha daqui. Dá para acreditar nisso? Mas eles vêm gastar o dinheiro aqui nos fins de semana.
“Ah, sua amiga Lívia continua acompanhando o caso do Estado contra o Barton, mas parece que isso vai demoraaar. Que eu saiba, ela não fez nada de extravagante com o dinheiro que recebeu de você. Falando nisso, e você? O que tem feito? Como tá a nova vida? Valeu a pena sair da cidade grande? Abraços de toda a galera!”
Joel abriu um largo sorriso ao saber sobre seus amigos e prontamente respondeu o e-mail de Léo. Quando acabou, seu filho entrou no escritório.
― Papai, conta uma história para eu dormir? - Leandro pediu.
― Claro que sim, filhão. Vamos lá. - Joel disse, enviou a mensagem e desligou o computador.
“Léo, não sabe o quanto fiquei feliz em saber da galera. Mudar para essa cidade pequena foi a melhor coisa que fiz. Meu filho tem muito mais liberdade e já fez vários amiguinhos na escola. Eu também conheci muita gente bacana aqui. A May decidiu me ajudar na oficina, mas por meio período só. Ela disse que alguém tem que cuidar da casa e que com certeza eu não vou.
“Quando as coisas se estabilizarem por aqui, pretendemos ir para Curitiba. A mãe da May mora aí afinal. Ela não quis vir com a gente. Ainda bem, assim a May não reclama de ir aí. Enquanto ela passar com a mãe, eu saio com vocês e nós tomamos aquela breja. E espero vocês aqui qualquer dia também. Abraços para todos!”
― Que história vai contar, papai? - Leandro perguntou ao ser coberto até o pescoço.
― A história de um homem que tinha tudo, mas não percebeu e precisou perder quase tudo para dar valor. - Joel disse e viu a careta do filho. - Falando assim parece chato, mas acredite há muito mais ação do que você imagina.
― O que aconteceu com ele? - a criança perguntou.
― Já quer saber o final? - o pai se supreendeu. - O que posso dizer é que depois do pior ter passado, ele se tornou o homem mais feliz do mundo. - Joel disse e logo seu filho adormeceu.
Apagou a luz e deixou a porta entreaberta. Foi para o seu quarto e deitou ao lado de sua mulher.
― Acha que devia contar essas histórias para ele? - May perguntou.
― Ah, você ouviu! - Joel disse e riu. - Sabe a melhor parte das histórias, amor? - ele perguntou e respondeu. - São só histórias. - disse e beijou a esposa.
FIM
Todo mundo achou o amor da vida no BACEN? Vou lá! ^-^
ResponderExcluirQue Show.
ResponderExcluirEu achei que tinha terminado no capítulo anterior.
O que vai ser agora? Um milionário excêntrico querendo contratá-los para roubar aquele diamante raro para sua coleção? rss