Trapaça

A eleição para o Grêmio Estudantil do colégio Isaac Newton ocorreu numa bela manhã de sol e por causa desse acontecimento as duas últimas aulas da tarde foram canceladas. Alex e seus companheiros de chapa, que haviam ficado todas as tardes desde o começo da campanha, aproveitaram e foram para casa. Os alunos podiam ficar no colégio até as 19h e já eram 18h quando o inspetor que ia fechar tudo se lembrou de que ainda havia estudantes no local.

Mauricinho e seu grupo de playboys, com óculos escuros e jaquetas de couro, esperaram até que o colégio estivesse bem vazio. O líder deles conseguiu abrir a porta da sala dos professores. Com um dos integrantes de vigia, ele olhou e achou o que procurava: a caixa com os votos para o grêmio.

– Rodrigo, fica de guarda aí. Só nós quatro devemos ser suficientes. – disse Mauricinho e o outro rapaz assentiu.

Os quatro garotos, que estavam dentro da sala dos professores, começaram a contar todos os votos, o que levou um tempo. O plano do membro da chapa Ação era aumentar a quantidade de votos de seu grupo para humilhar os concorrentes, mas ao ver que o resultado da eleição apontava a chapa de Alex como vencedora, ele ficou com muita raiva e com mais vontade de concluir sua ideia. Quando começou a trocar os votos, Mauricinho percebeu que aquilo poderia demorar mais do que planejou.

– Rodrigo, venha cá. Mudei de ideia, ninguém vai aparecer a essa hora, entra e nos ajude aqui. – o líder disse e o rapaz da vigia entrou na sala. – Vamos transformar metade dos votos que a Abalo Sísmico recebeu em votos para a Ação. Isso deve ensinar uma lição para aquele mané do Lemos.

Mauricinho não podia saber que ainda havia uma aluna no colégio, e uma pessoa da chapa dele, a Ação. E ele também não poderia saber que bem no momento em que ele falou essas palavras, essa garota passou pelo lado de fora e ao ouvir isso, por curiosidade, entrou na sala em que os garotos estavam.

Maria Eduarda Manfrinato, Madu, a integrante emo da Ação, surpreendeu os playboys com as fichas de votos nas mãos. Confusa, ela pediu explicações para o colega de chapa.

– Maumau, o que está acontecendo aqui? – ela perguntou e o rapaz se levantou rapidamente, fazendo sinal para um de seus amigos.

– Hã, nada não, Madu. Apenas... – ele disse e se aproximou bastante da garota, enquanto outro rapaz saiu e fechou a porta atrás de si. – Você tinha que entrar aqui, né? – ele emendou nervoso e a empurrou contra a parede.

– Mauricinho, eu... – ela tentou falar.

– Tudo o que você precisava fazer era ir embora como todo mundo, mas não! – ele gritou e deu um tapa na parede do lado da cabeça dela, assustando-a. – Você tinha que ficar no colégio e vir à sala dos professores, né?

– Eu ouvi você dizer que vai transformar votos da chapa do Alex para a nossa. Por quê? – Madu perguntou tentando manter a calma, ainda presa contra a parede.

– Ah, é claro que você ouviu. – Mauricinho repetiu dando um sorriso zombeteiro. – Se eu não fizer isso, nós perdemos a eleição, você entende isso? Com os votos como estão nós perdemos. – ele explicou.

– E daí? Era um risco que corríamos quando decidimos concorrer. – Madu argumentou.

– E DAÍ? – Mauricinho vociferou dando um soco na parede, novamente assustando a menina. – Você só pode ta brincando comigo, né? Eu não entro em nenhuma competição para perder. Ainda mais essa. – ele disse, mais para si mesmo.

– Por que ainda mais essa? – ela perguntou intrigada.

– JÁ CHEGA! – ele gritou novamente e Madu se encolheu. – Sabe, você até que é bonita. – ele disse, enquanto tirava a franja da frente do olho dela e colocava atrás de sua orelha e então pôde ver todo o rosto da menina. – É realmente uma pena... – ele disse e a beijou, a menina relutou no começo, mas o rapaz forçou até estar satisfeito e ao separar sua boca da de Madu, ele continuou a frase. – ... mas eu já estou de olho em alguém.

– Quando a Manu souber o que você está fazendo... – a menina começou.

– Mas ela não vai saber. – ele interrompeu a garota e se aproximou do rosto dela, começou a falar tão baixo para só ela ouvir. – Porque você não vai falar nada, não é, sua vadiazinha emo? Porque se você abrir essa boca, eu e meus amigos, vamos arrebentar aqueles teus amiguinhos emos. – ele disse e apertou o pescoço da menina com o braço que a prendia. – Será que eu fui claro?

– Uhum. – ela respondeu, deixando uma lágrima cair.

– Ótimo! – ele disse e jogou a menina com força no chão. – Rapazes?

– Já terminamos, chefe. – um deles respondeu.

– Olha, quanta notícia boa. Mal posso esperar por amanhã. – ele disse cinicamente e saiu da sala sendo acompanhado por seu grupo que deixou Madu caída e chorando no corredor, após trancarem novamente a porta da sala dos professores.