quinta-feira, 29 de maio de 2014

Caos Urbano T02C06



CAPÍTULO 6 – BALANÇO

O som do seu coturno no chão foi o único que restou em uma casa usada para depósito de drogas e armas no bairro Tatuquara. O sol já estava quase nascendo quando ele chegou ao portão, desviando dos corpos. Aquela era a última parada da noite.
Nos últimos dois anos, Ian saiu todas as noites para combater o crime, folgando praticamente nenhuma. Com a ajuda de seu parceiro Borba, ele conseguiu desmontar vários esquemas de tráfico de drogas e de armas. Porém por alguma razão, eles nunca alcançavam os chefes. Era como se soubessem quando e onde iriam ser atacados.
O justiceiro da noite conseguiu uma nova moto alguns meses depois de perder a anterior. Borba e Ian juntaram as peças separadamente para não dar bandeira e depois montaram. O Motoqueiro também trocou sua jaqueta de couro. A Hilux de Borba também sofreu avarias e precisou ser substituída após explodir em um confronto com uma gangue.
Ian viu a S10 dobrar a esquina e seguir até parar à sua frente.
― Demorou. – ele disse.
― Trânsito. – Borba devolveu.
― Vamos acabar com isso. – Ian disse.
Os dois pegaram todas as armas e munições do casebre e colocaram na caminhonete. As drogas sempre tinham o mesmo fim para o Motoqueiro: eram queimadas. Com as chamas atrás de si, os dois combatentes do crime saíram a toda velocidade.
― Hoje é dia da reunião mensal no QG Principal. Não se atrase! – Ian lembrou o parceiro pelo comunicador.
― Sim! – Borba respondeu.
O Motoqueiro das Trevas tinha cinco locais seguros na cidade: o QG Principal, que era onde Ian morava; o Local Sul; o Local Leste; o Local Oeste; e o Local Norte, que era onde Borba morava. Os dois parceiros ainda contavam com a ajuda de Carol, namorada e ex-sócia de Ian. Para que houvesse um contato contínuo, eles decidiram criar as reuniões mensais.
Nesses encontros, a morena iria até o QG Principal para encontrar os rapazes e trocar informações. Seu trajeto, no entanto, era diferente. Carol saía do trabalho e ia direto para casa, de lá pegava um táxi até determinado local e dali, percorria algumas quadras andando. Ian pediu para Borba sempre acompanhar de longe a advogada em seu trecho a pé.
O Motoqueiro chegou em casa, guardou a moto e o capacete. Checou todas as câmeras, as entradas e saídas, para se certificar de que estava tudo seguro. Subiu as escadas, entrou em seu quarto, retirou a jaqueta e caiu na cama. Normalmente, o mínimo ruído era ouvido pelo ex-advogado, mas sua noite havia sido muito puxada. O sono veio rápido e pesado.
Em seus sonhos, Ian era um poderoso juiz, como seus pais sempre desejaram. Todos os crimes do país eram passados para ele, que deveria decidir a sentença de cada um. Ninguém contestava ou falava que estava errado. Sua palavra era lei. O mundo era um lugar melhor e sem criminalidade. As pessoas viviam bem e em paz. Quem ousasse fazer o mal, era punido com severidade.
Entretanto algo estava errado, mas ele não sabia o que era. De repente seus olhos se abriram e viram uma bela morena usando uma camisa amarela e uma calça jeans. Seus longos cabelos negros brilhando sob a luz da lâmpada.


― Como entrou? – Ian perguntou já desperto.
― Borba. – Carol respondeu. – Você está atrasado para a reunião.
― Tive uma noite puxada. – ele devolveu.
― Estamos te esperando. – a morena disse e saiu do quarto.
Carol aprendeu a evitar o contato físico com Ian nas reuniões mensais. Ele mesmo havia pedido isso.
― Nós nos encontraremos quando eu puder e tiver uma folga. As reuniões não serão encontros amorosos. Não podemos perder o foco. Vamos precisar ser estritamente profissionais. Pelo menos uma vez por mês.
Quando Ian chegou à cozinha, Borba estava tomando café e comendo um pedaço de bolo.
― Dormiu, hein, amigão! – ele disse em voz alta. – Senta aí, come um bolo, toma um café.
― Está bem forte como gosta. – Carol disse assim que ele sentou e se serviu.
― Está ótimo. – ele disse após tomar um gole. – Vamos começar a reunião. – o Motoqueiro disse sério.
― Muito bem. – Carol começou. – Vocês devem ter ouvido falar do asilo que foi explodido há dois dias. Bom, parece que foi obra do Dr. Morte.
― Dr. Morte? – Ian se espantou.
― Sim, um contato meu da polícia disse que ele enviou uma carta para sua amiguinha confessando tudo. – a advogada explicou.
― Ainda não entendo como ele não foi pego de novo. Já foram 3 meses. – Borba comentou.
― Ele é inteligente. – Ian disse e coçou o queixo. – Será que...?
― O que? – Carol quis saber.
― Nos últimos meses, não fizemos nenhuma grande apreensão e os chefes das gangues simplesmente sumiram. – o ex-advogado disse. – Estava pensando se o Morte não tem algo a ver com isso.
― Por que teria? – Borba perguntou.
― Só uma mente como a dele poderia manipular todas as gangues da cidade. E depois que a Raquel o prendeu, ele deve ter ficado com muito ódio dela e todas as pessoas que não o entenderam. – Ian disse.
― Isso faz sentido, mas o que ele teria a oferecer logo após sair da cadeia? – Carol concordou e contestou.
― Você não disse que com ele fugiu um pirata de computador? Ele poderia muito bem estar ajudando-o. Hoje a tecnologia manda. – o Motoqueiro argumentou.
― O que realmente importa é: vamos fazer algo a respeito? – Borba quis saber.
― Mas é claro que vamos. – Ian respondeu com um sorriso. – Vamos nos principais pontos de tráfico da cidade. Dos lugares mais óbvios aos mais escondidos. Precisamos encontrar esse maníaco o mais rápido possível.
― E eu? O que farei? – a morena perguntou.
― Você? – o ex-advogado pensou e tirou um cartão da jaqueta. – Quero que ligue para essa pessoa. É um grande amigo meu que conheci em São Paulo há 3 anos. Passe meu número e conte a ele o que sabemos. Ele me mandou um email dizendo que estaria aqui hoje. Esse é o número do hotel e quarto em que ele está. – Ian explicou e levantou.
― Vou arrumar os veículos! – Borba disse.
― Ian! – Carol chamou, levantando e se aproximando dele. – Sei que hoje é nosso dia profissional, mas tome cuidado. – ela disse com preocupação.
― Eu sempre tomo. – ele disse e a beijou apaixonadamente. – Ligue para ele. – pediu e foi ajudar Borba.
A morena olhou o cartão com mais atenção e leu o nome que estava escrito.
― Rubens Fonseca.

Um comentário :