Os anos 80 foram tempos difíceis para a máfia italiana. As pessoas já
estavam cansadas de serem sobrepujadas e terem que pagar pelas quantias
exorbitantes cobradas pelas famílias, apenas para se sentirem protegidas.
Os mafiosos não conseguiam mais mandar na polícia e nem nos altos cargos
públicos, as fraudes de suas empresas não estavam mais passando despercebidas.
Isso fez com que os chefes das famílias parassem para pensar. A partir daí, os
mafiosos se dividiram em três tipos: aqueles que viam a iminente derrota e
ficavam quietos em seus cantos; os que não se davam por vencido e insistiam em
se manter por cima e eventualmente sendo presos para a alegria da população; e
os que, vendo a mudança dos tempos chegando, decidiram se aproveitar da
situação e tentar derrubar as famílias rivais.
Don Martiniani era deste último tipo e ele já tinha deixado três famílias
mafiosas na miséria e outras duas se juntaram a ele. Os próximos da sua lista
eram os Cesca, mas o chefe dos Martiniani sabia o que ia ter que enfrentar pela
frente.
A família Cesca era uma das mais ricas e tradicionais do sul da Itália,
mas a crise foi derrubando um a um os grandes irmãos Cesca, sobrou apenas um
Don, para tomar conta dos negócios. Por sorte, ele era o mais sensato e soube
se prevenir. Viu o que ia acontecer e se preparou.
– Io nunca vou mi unire con te, Vincenzo. – respondeu
Don Cesca à proposta de Don Martiniani.
– É uma pena, Pepe, perché se voi
no está con me, é contro di me. –
Don Martiniani se levantou da cadeira em que estava sentado e ficou de pé junto
com seus homens. – Ora dimmi onde
está o denaro? – disse o mafioso, que
estava de frente para o seu rival e com 6 homens ao seu redor.
– Questo, mio caro amico, voi no vai a saber nunca. – disse Don Cesca.
– Então, você não me deixa outra escolha. – disse o Martiniani, arrumando
o paletó. – Ucciderlo!! Dopo,
procurem em cada canto dessa casa pelo denaro
desse maledetto. – ele concluiu,
falando aos homens, e em seguida vários tiros foram dado naquele, que havia
sido um grande mafioso da família Cesca.
Giuseppe Cesca tinha 3 filhos: Carlo, Giovanni e Antonio. Todos eles já
estavam casados. Carlo era o mais velho e tinha uma filha de 10 anos. Giovanni
também tinha uma filha, mas de apenas 3 anos. A mulher de Antonio esperava a
terceira neta do poderoso mafioso.
Antes mesmo de saber da investida de seu rival Martiniani, ele decidiu
preservar o futuro de seus filhos e netas, e quem sabe um dia eles não
voltariam à ativa com a máfia.
– Ma babbo, noi queremos ficar
e lutar con te. – reclamou Carlo.
– No, figlio mio, voi devem ir
e cuidar das suas mulheres e figlie.
– disse o patriarca.
– Pra onde vamos, babbo? –
perguntou Giovanni.
– Pra lugar nenhum, Giovanni. Vamos ficar e ajudar o babbo. – respondeu Carlo.
– Voi responde per me agora, Carlo? – perguntou Don
Cesca.
– No, babbo. – respondeu o
primogênito de cabeça baixa.
– Então voi farà exatamente o
que eu disser, perché enquanto io estiver vivo voi vão me obedecer, capito?
– bradou o chefe da família.
– Si, babbo, io capisco. –
concordou.
– Respondendo a sua pergunta, Giovanni, voi tem que sair da Itália, de preferência sair da Europa. Vão pra
algum país da América.
Assim, eles fizeram, arrumaram suas coisas e embarcaram para o seu novo
lar. Para sua maior segurança usaram passaportes com nomes falsos e assim
despistar as famílias que quisessem impedi-los de ir.
– Chegamos. – disse Antonio ao descerem do navio.
– Si, credo che foi una buona escolha questo nostro destino. – disse Carlo.
– Concordo, Brasile parece ser un ótimo país. – opinou Giovanni.
No Brasil, eles sabiam que suas filhas iriam ter que se adaptar ao novo
idioma, principalmente a filha de Carlo, Glória Cesca que era a mais velha. A
filha de Giovanni, Ana Paula, já falava um pouco do italiano e iria aprender o
português na escola, enquanto manteria a língua mãe em casa. A mais nova, que
ainda nem tinha nascido, mas já tinha nome, Bárbara, ia passar pelo mesmo
processo que Ana, só que de modo mais automático. Inicialmente os três irmãos
ficaram juntos, mas com o tempo foram se separando até ficar cada família em um
estado.
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Vinte e seis anos se passaram desde a chegada dos irmãos Cesca ao Brasil.
Um jovem rapaz, chamado Policarpo Q. Barreto acabou de se formar em Economia e
decide ir visitar sua tia no interior de Santa Catarina. No caminho, há poucos
quilômetros de distância da cidade de destino, o seu carro, um Astra preto,
começa a dar problema e ele se obriga a parar no acostamento.
– Ah, que ótimo! Não podia esperar mais um pouco pra fundir, não?
Motorzinho dos infernos. – ele reclamou abrindo o capô do carro, do qual saía
muita fumaça.
Enquanto ele mexia no motor para tentar arrumá-lo, uma caminhonete S10
chegou, passou por ele e estacionou um pouco a frente. Policarpo ficou olhando
curioso a saída do motorista. Uma bela mulher vestindo jeans e camiseta desceu
da caminhonete e se aproximou do rapaz.
– Ih, o motor fundiu é, moço? – ela perguntou.
– Sim, e o pior é não me lembro de ter visto nenhum posto aqui por perto.
– ele disse.
– Então, sua memória ta boa, porque não tem nenhum mesmo. – ela
confirmou.
– Droga, vou ter que ligar pra minha tia, pra ela vir me buscar então.
Esse carro não vai sair sozinho daqui.
– Onde ela mora? – a mulher perguntou.
– Na próxima cidade.
– Que longe. Até ela chegar você já vai ter torrado nesse sol. – ela
começou. – Olha, a fazenda do meu pai é bem perto daqui e lá tem um guincho e
ótimos mecânicos.
– E o seu pai não vai se importar? – ele perguntou receoso.
– Nada, ele gosta de ajudar as pessoas. – ela respondeu.
– Ah, então, eu aceito a ajuda. A propósito, eu sou Policarpo Barreto. E
você?
– Meu nome é Ana Paula Cesca.
Haha, aiaa, to vendo que pelo final o conto tem tudo pra ficar bom.
ResponderExcluirBelo texto, gostei muito.
Oiii ,encontrei o link do seu blog no orkut, muito bacana esses contos,só faz a gente ficar na curiosidade para ver o final da história ,já estou seguindo,quando puder segue o meu também :)
ResponderExcluirhttp://www.quatroestacoesdabeleza.blogspot.com
Haha! Curioso pra saber o que houve com o motor do Astra!
ResponderExcluirMais uma ótima história Paulo, parabéns!
Abração!