domingo, 13 de novembro de 2011

O fim de uma era


Os anos 80 foram tempos difíceis para a máfia italiana. As pessoas já estavam cansadas de serem sobrepujadas e terem que pagar pelas quantias exorbitantes cobradas pelas famílias, apenas para se sentirem protegidas.
Os mafiosos não conseguiam mais mandar na polícia e nem nos altos cargos públicos, as fraudes de suas empresas não estavam mais passando despercebidas. Isso fez com que os chefes das famílias parassem para pensar. A partir daí, os mafiosos se dividiram em três tipos: aqueles que viam a iminente derrota e ficavam quietos em seus cantos; os que não se davam por vencido e insistiam em se manter por cima e eventualmente sendo presos para a alegria da população; e os que, vendo a mudança dos tempos chegando, decidiram se aproveitar da situação e tentar derrubar as famílias rivais.
Don Martiniani era deste último tipo e ele já tinha deixado três famílias mafiosas na miséria e outras duas se juntaram a ele. Os próximos da sua lista eram os Cesca, mas o chefe dos Martiniani sabia o que ia ter que enfrentar pela frente.
A família Cesca era uma das mais ricas e tradicionais do sul da Itália, mas a crise foi derrubando um a um os grandes irmãos Cesca, sobrou apenas um Don, para tomar conta dos negócios. Por sorte, ele era o mais sensato e soube se prevenir. Viu o que ia acontecer e se preparou.
Io nunca vou mi unire con te, Vincenzo. – respondeu Don Cesca à proposta de Don Martiniani.
– É uma pena, Pepe, perché se voi no está con me, é contro di me. – Don Martiniani se levantou da cadeira em que estava sentado e ficou de pé junto com seus homens. – Ora dimmi onde está o denaro? – disse o mafioso, que estava de frente para o seu rival e com 6 homens ao seu redor.
Questo, mio caro amico, voi no vai a saber nunca. – disse Don Cesca.
– Então, você não me deixa outra escolha. – disse o Martiniani, arrumando o paletó. – Ucciderlo!! Dopo, procurem em cada canto dessa casa pelo denaro desse maledetto. – ele concluiu, falando aos homens, e em seguida vários tiros foram dado naquele, que havia sido um grande mafioso da família Cesca.


Giuseppe Cesca tinha 3 filhos: Carlo, Giovanni e Antonio. Todos eles já estavam casados. Carlo era o mais velho e tinha uma filha de 10 anos. Giovanni também tinha uma filha, mas de apenas 3 anos. A mulher de Antonio esperava a terceira neta do poderoso mafioso.
Antes mesmo de saber da investida de seu rival Martiniani, ele decidiu preservar o futuro de seus filhos e netas, e quem sabe um dia eles não voltariam à ativa com a máfia.
Ma babbo, noi queremos ficar e lutar con te. – reclamou Carlo.
No, figlio mio, voi devem ir e cuidar das suas mulheres e figlie. – disse o patriarca.
– Pra onde vamos, babbo? – perguntou Giovanni.
– Pra lugar nenhum, Giovanni. Vamos ficar e ajudar o babbo. – respondeu Carlo.
Voi responde per me agora, Carlo? – perguntou Don Cesca.
No, babbo. – respondeu o primogênito de cabeça baixa.
– Então voi farà exatamente o que eu disser, perché enquanto io estiver vivo voi vão me obedecer, capito? – bradou o chefe da família.
Si, babbo, io capisco. – concordou.
– Respondendo a sua pergunta, Giovanni, voi tem que sair da Itália, de preferência sair da Europa. Vão pra algum país da América.
Assim, eles fizeram, arrumaram suas coisas e embarcaram para o seu novo lar. Para sua maior segurança usaram passaportes com nomes falsos e assim despistar as famílias que quisessem impedi-los de ir.
– Chegamos. – disse Antonio ao descerem do navio.
Si, credo che foi una buona escolha questo nostro destino. – disse Carlo.
– Concordo, Brasile parece ser un ótimo país. – opinou Giovanni.
No Brasil, eles sabiam que suas filhas iriam ter que se adaptar ao novo idioma, principalmente a filha de Carlo, Glória Cesca que era a mais velha. A filha de Giovanni, Ana Paula, já falava um pouco do italiano e iria aprender o português na escola, enquanto manteria a língua mãe em casa. A mais nova, que ainda nem tinha nascido, mas já tinha nome, Bárbara, ia passar pelo mesmo processo que Ana, só que de modo mais automático. Inicialmente os três irmãos ficaram juntos, mas com o tempo foram se separando até ficar cada família em um estado.

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Vinte e seis anos se passaram desde a chegada dos irmãos Cesca ao Brasil. Um jovem rapaz, chamado Policarpo Q. Barreto acabou de se formar em Economia e decide ir visitar sua tia no interior de Santa Catarina. No caminho, há poucos quilômetros de distância da cidade de destino, o seu carro, um Astra preto, começa a dar problema e ele se obriga a parar no acostamento.
– Ah, que ótimo! Não podia esperar mais um pouco pra fundir, não? Motorzinho dos infernos. – ele reclamou abrindo o capô do carro, do qual saía muita fumaça.
Enquanto ele mexia no motor para tentar arrumá-lo, uma caminhonete S10 chegou, passou por ele e estacionou um pouco a frente. Policarpo ficou olhando curioso a saída do motorista. Uma bela mulher vestindo jeans e camiseta desceu da caminhonete e se aproximou do rapaz.
– Ih, o motor fundiu é, moço? – ela perguntou.
– Sim, e o pior é não me lembro de ter visto nenhum posto aqui por perto. – ele disse.
– Então, sua memória ta boa, porque não tem nenhum mesmo. – ela confirmou.
– Droga, vou ter que ligar pra minha tia, pra ela vir me buscar então. Esse carro não vai sair sozinho daqui.
– Onde ela mora? – a mulher perguntou.
– Na próxima cidade.
– Que longe. Até ela chegar você já vai ter torrado nesse sol. – ela começou. – Olha, a fazenda do meu pai é bem perto daqui e lá tem um guincho e ótimos mecânicos.
– E o seu pai não vai se importar? – ele perguntou receoso.
– Nada, ele gosta de ajudar as pessoas. – ela respondeu.
– Ah, então, eu aceito a ajuda. A propósito, eu sou Policarpo Barreto. E você?
– Meu nome é Ana Paula Cesca.

3 comentários :

  1. Haha, aiaa, to vendo que pelo final o conto tem tudo pra ficar bom.
    Belo texto, gostei muito.

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  2. Oiii ,encontrei o link do seu blog no orkut, muito bacana esses contos,só faz a gente ficar na curiosidade para ver o final da história ,já estou seguindo,quando puder segue o meu também :)

    http://www.quatroestacoesdabeleza.blogspot.com

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  3. Haha! Curioso pra saber o que houve com o motor do Astra!
    Mais uma ótima história Paulo, parabéns!
    Abração!

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