quarta-feira, 25 de abril de 2012

Inverno


Um mês se passou após a eleição e, nesse tempo, o Grêmio Estudantil Abalo Sísmico (GEAS como ficou conhecido) esteve em plena atividade. Alex já havia cumprido algumas de suas promessas de campanha, mas muitas outras o esperava.
O cardápio da cantina foi o primeiro alvo de mudanças: mais dois sabores entraram na lista de sucos naturais; a lista de salgados foi alterada; uma seção de frutas foi aberta. Em cada setor do colégio, o GEAS agiu de alguma forma.
Às sextas-feiras ocorriam as reuniões semanais, onde era feito o balanço da semana, como gastos, projetos e as autuações. A cada semana surgiam novas ideias e Manu puxou para si a função de anotá-las. Com o inverno chegando, a sugestão de uma campanha para arrecadar roupas para pessoas carentes seria mais do que normal, mas a grande surpresa foi a pessoa que a fez.
– Tenho certeza de que tem muita gente precisando. – Paty emendou ao concluir e, percebendo o silêncio, continuou. – Ninguém vai falar nada?
– Desculpa, Paty, é que ninguém esperava que você tivesse esse tipo de ideia. – Alex falou meio sem jeito.
– O que isso quer di... Ah! Entendi, eu sou a menina rica e fútil que só pensa em bolsas e sapatos, né? – ela disse com raiva.
– É. – Diana concordou também sem jeito.
– Pois saibam que, assim como o Ciano, isso é só uma fachada, uma casca para ter popularidade e sobreviver à sociedade. – ela começou. – Eu e minhas amigas quase nunca conversamos sobre bolsas e sapatos quando estamos sozinhas.
– Muito bem. Peço desculpas novamente, em nome de todos. – Alex disse e todos assentiram. – Por que não lidera essa campanha você mesma? Faremos tudo o que disser. – ele sugere.
– Eu os desculpo. – ela disse com mais calma. – Bateremos o recorde de arrecadação de agasalhos. – ela disse com o seu sorriso radiante de sempre.


Nos dias que se seguem, o colégio é tomado pela campanha e pela vontade de ajudar. Com a ajuda de Ciano, a menina direciona as doações para um ponto específico em um bairro. Após relutar um pouco, a diretora Tulipa concedeu verba para o aluguel de um ônibus para levar os alunos para fazerem a entrega dos agasalhos eles mesmos.
Em duas semanas havia mais de dez caixas grandes cheias de roupas doadas, algumas muito usadas, outras ainda em bom estado e uma nem usada.
– Uma amiga minha comprou uma igual. Não fazia mais sentido usar. – Paty explicou.
Eles deixaram as doações em aberto até completar um mês. Não houve tempo de escolher quem seriam os alunos que iriam entregar, pois dois grandes grupos se voluntariaram antes: os manos e as patricinhas. Acompanhados pela professora Viridiana, os membros do GEAS e as duas tribos sociais seguiram ao seu destino.
Sentado ao lado de Manu, na frente do ônibus, Alex olhou para trás e viu uma cena incrível. Deixando de lado as cascas e fachadas, manos e patricinhas conversavam de modo tranquilo e espontâneo. O presidente conseguiu notar que havia diversos assuntos, tais como esportes, música, notícias do Brasil e do mundo. Ele se arrumou no banco.
– Isso é por sua causa! – Manu disse.
– Minha causa? – Alex perguntou espantado.
– É. Se você não os tivesse chamado e os convencido a entrar para sua chapa, hoje eles ainda seriam apenas dois grupos totalmente diferentes que se recusam a falar um com o outro por puro preconceito. – ela disse.
– Talvez você esteja certa. – ele sabia que Manu estava certa, mas não podia ficar se gabando. No fundo, ele estava feliz e orgulhoso.
No ponto de encontro combinado, uma assistente social, que comandava uma ONG no bairro, esperava-os. Ela os guiou pelo bairro, enquanto eles entregavam os agasalhos para crianças, idosos, deficientes, famílias carentes. As lágrimas caíram de vários rostos, mas também sorrisos apareceram em igual quantidade.
Foi uma experiência única e reconfortante. Na volta para o colégio, o assunto era o mesmo, mas sob visões diferentes. Assim que o veículo parou, já havia alguns carros de pais esperando pelos filhos. A mãe de Paty estava entre eles. Ela já seguia em direção ao carro da mãe, quando Alex a parou.
– Ei, Paty! – ele chamou.
– Sim? – ela virou para encará-lo.
– Mandou bem, guria! – ele elogiou e deu um soquinho no ombro dela.
– Obrigada, Alex! – a menina sorriu, mas ficou claramente vermelha e sem palavras e em seguida foi embora.
– Uau! Você deixou a Patricinha corar. – Manu observou. – Devo ficar com ciúmes? – ela perguntou de modo provocativo.
– Hum, deixa eu pensar... – Alex falou, mas antes de começar a rir, ele já havia levado vários tapas no braço. – Que hora o seu pai vem? – ele perguntou ao se recuperar.
– Às 18h, e o seu?
– Não liguei ainda, mas acho que vou pedir para minha mãe me buscar às 18h. – ele disse.
– Ah é? E por quê? – ela disse agarrando-o pelo braço.
– Tenho que ver umas coisas no GEAS e, talvez, precise da opinião da minha vice-presidente, gostaria de me acompanhar? – Alex fingiu.
– Com muito prazer, Sr. Presidente. – ela disse entrando na brincadeira.

6 comentários :

  1. Rickynho,
    tudo bem?
    Li com toda atenção! Muito criativo mesmo, fiquei pensando como você não se confunde com esse monte de personagens..., e eu que achei que as Histórias do Condomínio é que tinham muitos personagens :)
    Achei bacana você inserir a campanha do agasalho no contexto, até porque, pelo menos aqui no RS, já começou o frio e campanha também! Legal!
    Beijos

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  2. Concordo com a Cecília, também achei muito legal você inserir o tema da campanha do agasalho!
    E Ricky para de terminar o capítulo deixando a gente na curiosidade! Menino esse suspense me mata! hahaha
    Desculpa pelo sumiço, mas ando na correria que mal consigo vir comentar nos blogs amigos... rs

    Tem 3 PROMOÇÕES lá no blog. São 8 livros fabulosos. Depois confere lá e participa!!!

    BjO
    http://the-sook.blogspot.com.br/

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  3. Muito legal a campanha Ricky!

    Fiquei lendo esse conto e lembrando do tempo de escola. Se o grêmio da minha antiga escola fizesse todas essas mudanças seria ótimo.
    Pelo menos no cardápio pra melhorar um pouquinho kkkk

    Adorei o conto e o tema.


    post novo: http://errosxacertos.blogspot.com.br/

    abraço

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  4. Tu já sabe, mas eu vou repetir:

    "Soquinho no ombro" é uma puta coisa masculina. kkkkkk Muito típico dos amigos que te veem única e exclusivamente com olhos de amigos, te veem quase como um outro homem.

    E esses dois sozinhos, hein?? HAHHAHAHA!

    Beijos.

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  5. Vc é nota dez, heim? Além de organizar bem o enredo, ainda coloca coisas do cotidiano(como a campanha do agasalho) em suas estórias!

    bjks :)

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  6. Nossa, show de bola. amei seu texto e como todos disseram, está de parabéns , achei incrivel também sobre a campanha do agasalho. Com carinho, Sabrina Gomes Blog Spiderwebs

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