segunda-feira, 23 de abril de 2012

Planaltina


Júlia informou que estavam na cidade de Planaltina e lhe contou tudo o que houve, desde o sequestro do deputado, como as milícias surgiram, até o atual momento. No início era tudo muito bom, as pessoas passaram a ter melhores condições de vida, TV a cabo, internet, mas tudo tem um preço. E quem não pagava era severamente punido, ou mesmo um familiar ou amigo, para servir de exemplo.
Caso a dívida persistisse, a pessoa era morta sem piedade. O pior para a moça era não ter para onde ir, sua melhor opção era continuar casada com Cleverson. Júlia, então, perguntou a Rubens o que ele havia feito para estar ali. O jovem percebeu que teria que dividir informação se quisesse contar com a ajuda da moça.
– Você não é o primeiro jornalista a ser trazido pra cá. – ela disse.
– E você ajudou os outros também? – ele quis saber.
– Não tive como. Normalmente eles não veem aqui em casa. Cleverson e o bando vão atrás dele. E o deputado avisa com antecedência, não como hoje. – ela explicou.
– Hum, talvez seja porque normalmente os jornalistas são locais. Eu sou de São Paulo e meu voo é amanhã. Ele teve que agir rápido. – Rubens deduziu.
– Provável. – Júlia concordou.
– E agora, tudo o que posso fazer é tentar fugir, mas não sei o quão longe consigo chegar, e ainda que escape não poderei fazer nada com relação às milícias. – ele começou. – Não tenho como provar que o deputado conhece Cleverson e muito menos que ele comanda as milícias.
– Eu posso ajudar nisso. Que tipo de prova precisa? – ela perguntou.
– Fotos. Seria ótimo. – ele respondeu.


– Tem uma foto deles dois na época que o candidato tomou posse. Peraí. – ela levantou e foi em outro cômodo. – Aqui está. – disse ao voltar e entregou para Rubens.
– Isso resolve, mas sozinha não vale nada. Sem uma foto mostrando que Cleverson extorque os moradores, essa não adianta nada. – ele disse.
– Hum, posso conseguir isso. – Júlia disse.
– Você tem certeza? Não quero te arrumar confusão. – Rubens avisou.
– Pode deixar. Eu tenho meu jeito. Enquanto isso, por que não começa a pintar a sala? – ela disse, piscou e saiu.
Rubens arregaçou as mangas, forrou o chão e cobriu os sofás com jornais velhos, pegou o pincel e começou a pintar. Escolheu uma parede em que pudesse ver o rapaz que havia ficado de guarda na casa. Júlia chegou próxima onde o marido estava, um mercadinho. Ela entrou e fingiu estar olhando o celular, quando estava gravando um vídeo da rotina de Cleverson.
– Como o senhor é morador antigo, seu Astolfo, eu vou lhe dar mais um dia, mas não atrase, ta bem? – o rapaz disse para o dono do estabelecimento. – E me dá uma garrafa daquela birita que eu gosto. – ele disse e o velho vendedor pegou o produto de uma prateleira e entregou para Cleverson.
Júlia decidiu que já estava bom, quando o rapaz olhou para ela.
– O que você ta fazendo, mulher? – ele disse e avançou nela.
Rapidamente, ela saiu da parte do vídeo e tudo o que ele viu foi a tela das chamadas perdidas.
– Estavam me ligando. Vim comprar um salgadinho. Deu vontade. – ela se explicou recebendo o celular de volta.
– Sei. Vai embora mulher. Não quero aquele jornalista sozinho na minha casa. – Cleverson disse e saiu do mercadinho.
Com alguns respingos de tinta na roupa, Rubens foi até a cozinha quando Júlia voltou.
– Um vídeo? – ele disse espantado. – É bem melhor do que eu esperava.
Ela tirou o cartão de memória do celular e entregou ao rapaz, que guardou no seu bolso interno da calça.
– Alguma ideia de como eu saio daqui? – ele perguntou.
– Sim, mas é arriscado e você vai ter que fazer o que eu disser.
– Certo. – Rubens concordou e escutou o plano de Júlia.

3 comentários :

  1. Planaltina? Aqui pertinho de mim, uai! rrsrsrsrs... E olha que passei por lá, sábado passado, para ir ao show da banda Mexicana, Brujeria, que aconteceu em BSB!

    Ah, sobre sua pergunta, eu acho que vc é super discreto quando escreve sobre filmes. Mas, já tive alguns parceiros da blogosfera que deram com a língua nos dentes, aí tive que dar uns toques! ahhahaah

    bjks

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  2. Planaltina... kkk lembrei de um trecho da música faroeste caboclo - Renato Russo.

    Gostei do conto. Peço desculpas por estar tão sumido. Esse ano realmente está complicado pra mim.

    http://errosxacertos.blogspot.com.br/2012/04/vamos-viver.html

    abraço

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  3. "Mulher de malandro" MESMO, hein? Como assim, dando piscadinhas pra Rubão? Hahahahaha!
    Mas quando você postou no capítulo anterior que era um amor de infância, jamais pensei que ela entregaria o marido...
    Falando em morrer a tiros, lembrei do jornalista Décio "Alguma Coisa" que morreu lá no Maranhão por fazer denúncias no blog dele. É tenso...

    Beijos.

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