quarta-feira, 9 de maio de 2012

Fiscal


Nos quatro meses que se passaram desde a eleição do grêmio, a vida de Hugo mudou consideravelmente. Ele ficou conhecido como o Fiscal, que já era um grande avanço em sua vida social, pois antes nem conhecido ele era. Com a ajuda de Ciano, dos manos e dos excluídos, ele autuou muitos valentões.
Quando passava nos corredores, era visto e temido, principalmente por aqueles que já tinham recebido três autuações, resultando no bilhete para os pais. Não foram poucos os que chegaram a essa situação, Yago, por exemplo, chegou a acumular sete autuações desde a sua primeira. Mais três e ele seria expulso, e ainda faltavam dois meses para o fim do ano letivo. Já a algum tempo, Hugo vinha prestando atenção em algumas meninas, mas não do jeito que os meninos normalmente fazem. Ele notou que exclusão, zoação e provocação não são algo de exclusividade masculina, entre as garotas também há valentonas.
Havia uma garota, que fazia parte do time de basquete do colégio, o qual era liderado por Lara, amiga de Manu, que sofria provocações de suas colegas de classe. Ela era a ala do time e com esse grupo ela se dava super bem. Era só alegria e risada. Mas, como o Fiscal notou, ela não era da mesma turma que suas colegas de basquete.
Hugo não podia fazer nada contra zoações e xingamentos, mas também não queria que algo pior acontecesse para poder agir. Então, sempre que podia ele se aproximava do grupo, fazendo-as parar. Eram três meninas que implicavam com a jovem jogadora. Mesmo com toda a observação, aconteceu o que o rapaz quis e tentou impedir. Depois de um jogo de basquete que teve durante o recreio, ambos os times foram para o vestiário. Restando poucas pessoas na quadra, Hugo ficou de olho, esperando a saída da ala.
Uma a uma, as jogadoras saíram do vestiário. Por algum motivo, a menina que o Fiscal esperava ainda ficou lá dentro, mas não foi só ele que notou isso. Não muito tempo depois que a penúltima jogadora saiu do vestiário, as três valentonas seguiram em direção a ele. Levando segundos para raciocinar, Hugo levantou e, rapidamente, avançou para vestiário feminino. Ele ainda parou em frente a porta para se certificar do que suspeitava. Então, ouviu um som seguido de um grito e em seguida um baque com o barulho de metal impactado. Hugo não teve mais dúvidas e entrou no vestiário.  
– Parem! – ele gritou ao ver as três meninas batendo na jovem ala.
– Ei! Isso é um vestiário feminino, você não deveria estar aqui. – disse uma delas.
– E vocês não deveriam estar fazendo o que estão. – ele devolveu.
– É mesmo? E o que você vai fazer para nos parar? – outra disse.
– Vou autuá-las por perseguição, agressão verbal e física. Assinem aqui e podem ir embora. – ele disse entregando os papéis para uma delas.
– Isso é sério? – a garota com as autuações disse e ao olhar para as outras, todas riram. – Olha o que eu faço com isso! – ela disse, parando de rir e rasgando os papéis.
– Não tem problema, eu faço mais. – Hugo disse, começando a preencher mais.
Antes que pudesse perceber, uma garota avançou nele para pegar os papéis, mas ele segurou firme. Ela insistiu e logo as outras vieram e o cercaram. Ele não sabia o que fazer, já havia tido problemas com alguns garotos, mas era fácil dominá-los por força física. Agora, garotas ele não conseguiria enfrentar, por isso ele apenas recuava e se protegia. Então, a porta se abriu e uma garota alta entrou e gritou.


– Ah, você realmente entrou! Eu sabia que não estava louca. Quer me dizer o que você está fazendo no... – ela parou ao olhar a cena além de Hugo. – Mirelle. – ela gritou ao ver a garota espancada no chão chorando.
– Lara! – a ala caída ergueu os olhos, avançou para a amiga, e abraçou-a forte.
As três valentonas recuaram e antes que Hugo dissesse qualquer coisa, Lara se adiantou.
– Olha, não sei como você soube o que ia acontecer, mas agradeço por ter entrado no vestiário, pois foi o que me fez voltar. Agora, você pode ir que eu resolvo isso. – ela disse, mas o rapaz permaneceu imóvel.
– Quando você chegou, eu estava autuando-as e é isso o que vou fazer agora. Não sei o que você quis dizer com “resolvo isso”, mas eu não sairei daqui antes de você. – o rapaz respondeu.
– Ta... É... Hugo, né? – ela perguntou e ele assentiu. – Eu sei o que você faz no grêmio, a Manu já me contou, mas essas garotas merecem uma punição...
– É para isso que servem as autuações. – ele interrompeu.
– Não é o suficiente! – Lara gritou. – Olha para a minha amiga. – ela pediu e ele fez. – Elas merecem ficar dez vezes piores.
– Não é assim que funciona. – Hugo disse calmo.
– E como é? Mandando bilhetinho para os pais? – Lara gritou e tentou passar por ele, mas foi barrada.
– Bater nelas não vai fazer você ser melhor do que elas. Você quer mesmo se rebaixar ao nível delas? – Hugo perguntou.
As três valentonas sentiram uma dor terrível, maior que qualquer soco ou chute que já haviam levado, com as palavras ditas pelo Fiscal. Nunca ninguém tinha machucado tanto elas apenas com palavras, nem seus pais, professores ou amigos. Hugo encarava determinado o olhar furioso de Lara, quando ela mirou as três agressoras.
– Se vocês encostarem um dedo na Mirelle ou em qualquer amiga minha, nenhum fiscal de grêmio vai me impedir de quebrar todos os seus dentes. – ela ameaçou e saiu com a amiga.
O Fiscal terminou de preencher novas autuações, esperou as valentonas assinarem e saiu. Viu Lara e Mirelle andando bem devagar e apressou o passo para alcançá-las.
– Ei! – ele chamou, fazendo-as virarem. – Você está bem? – Hugo perguntou para Mirelle.
– Sim. – ela respondeu e emendou. – Como você sabia que elas estavam lá? Quer dizer, você entrou logo depois delas.
– É uma longa história. – ele respondeu.
– Por que não nos conta, enquanto tomamos um suco na cantina? – Lara convidou, com um sorriso e uma expressão até então inéditos para Hugo.

2 comentários :

  1. Até um sorrisinho pode mudar todo um conceito não é?
    Gostei da narrativa e da maneira que conduziu as falas dos personagens Ricky. Está cada dia dando mais emoções para esses personagens que eu tenho lido nesses seus textos.
    Bom, bom e bommmmmmm!
    Beijokas doces

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  2. Ahhh, poxa, até que fiquei meio triste por ele não ter deixado as valentonas levarem uma surra... kkkkkk

    Sabe que eu tava aqui me lembrando que tive meus problemas na época do colégio, mas nunca tive problema com nenhuma menina... Entretanto, um dos GAROTOS, já tentou me bater, num parque de diversões. Dá pra acreditar?
    Ele começou a me xingar, do nada, e as pessoas da fila do brinquedo acharam uma atitude horrível, aí eu xinguei de volta, e as pessoas olharam pra ele e começaram a rir. Ele ficou tão puto, que partiu pra cima de mim, mas foi segurado pelos amigos antes de conseguir encostar em mim. u.u

    Beijos.

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