MELHOR QUE A
ENCOMENDA
Estava frio, uma típica noite de
Curitiba. Os homens esfregavam as mãos para tentar se aquecer, enquanto
esperavam pelo barco que iria levar o carregamento de drogas. Estavam em seis
ali e dois deles seguiria com o veículo marítimo. Há algumas quadras da margem
do rio, o Motoqueiro das Trevas tinha ótima visão do local. Antes de sair da
Favela das Torres, Ian esbarrou em um dos homens do Espigão e colocou uma
escuta para que pudesse ouvi-los também.
― O barco está demorando. – disse
o mais jovem do grupo.
― Todos notamos, Toquinho. –
retrucou Cavalo, o líder da operação.
― Quem for com o barco daqui, irá
até o ponto final da negociação? – o Fedor de Esgoto perguntou ao Cavalo.
― Sim, e esses dois são você e o Cacheado.
– Cavalo confirmou. – Mas por quê? Tem medo de trem?
― Não, claro que não. – Fedor de
esgoto disse e estufou o peito.
― Ah, o barco está vindo. –
Toquinho avisou.
Devido as novas informações
ouvidas, Ian hesitou em agir e nos poucos segundos que se seguiram, todo o
cenário mudou. Dois carros surgiram das ruas ao lado da qual o Motoqueiro
estava. Desses veículos, apenas o motorista não estava atirando no grupo à
borda do rio.
― Hum, isso pode ficar
interessante. – Ian disse a si mesmo.
Surpresos, com o ataque, os seis
homens do Espigão foram alvejados e derrubados. Em seguida, os atiradores
saíram dos carros, acertaram o barqueiro e carregaram o veículo marítimo. Com a
visão noturna e de longa distância do seu óculos escuros, o Motoqueiro
conseguiu ver que um dos bandidos caídos, estava vivo.
Os dois carros atacantes voltaram
com metade dos passageiros, estes foram para o barco e seguiram na direção da
rodoferroviária. Assim que só os cadáveres restavam ao seu redor, Toquinho se
levantou, ainda hesitante e olhou em volta para ter certeza e então seguiu,
primeiro andando e depois correndo.
― Isso. Vai contar para o
Espigão, garoto. – Ian enquanto observava o jovem se afastar da margem do rio.
― Alô! – Borba atendeu com voz
sonolenta.
― Já dormindo? Não são nem 3 da manhã.
– Ian disse.
― Dormir é bom, você devia tentar
qualquer noite dessas. – o ex-militar devolveu. – Espero que alguém tenha
morrido para você estar me ligando a essa hora.
― Sim e muitos ainda vão morrer
antes do nascer do sol. E desta vez, vou precisar de você em ação. – o
ex-advogado disse ao amigo.
― Achei que eu seria apenas o
informante e fornecedor de armas. Muito bem. Onde? Que hora? – Borba disse se
levantando.
― Na rodoferroviária, agora. E me
diga, Borba, você já andou de trem?
― Fazendo serão, Raquel? – um
colega perguntou à detetive.
― Sim, se quero prender o
Motoqueiro das Trevas, preciso estar pronta para agir no horário dele. – ela
respondeu no momento em que o rádio da polícia avisava às unidades próximas
sobre um tiroteio na Favela das Torres.
― Pode ser o seu Motoqueiro. – o
policial disse.
― Se for, de hoje, ele não
escapa. – ela disse com convicção e saiu.
Assim que chegou à margem do rio,
Raquel já avistou as viaturas e o cerco no local. Parou seu carro e se
aproximou para saber mais.
― O que houve aqui? – ela
perguntou ao detetive que chegou antes, ao mesmo tempo em que olhava os corpos
no chão.
― Parece obra do Motoqueiro. Só
de olhar, dá para ver que esses caras são traficantes. Bandidos mortos de
madrugada, quem mais pode ter feito isso?
― Outros traficantes. – a
detetive morena disse e andou pela cena do crime. – Esse não é o estilo do
Motoqueiro. Ele sempre atira no máximo duas vezes. Esses caras foram
metralhados. – ela observou.
― Vai ver, ele estava mal de mira
hoje. – o outro detetive supôs.
― Pode ser, mas duvido que ele
tenha saído daqui de barco. – ela disse e confundiu o colega.
― Não entendi. – ele admitiu e ela
mostrou uma área em que a terra mostrava o padrão de algo que foi arrastado até
bem próximo do rio.
― Algo bem pesado estava aqui. E
o trajeto vai direto para o rio. – ela disse e olhou para os lados. – Quanto a
direção, não estou bem certa. O que há para lá? – Raquel perguntou apontando
para a direita.
― Se não me engano, a
rodoferroviária. – o detetive disse.
― Chame reforços e avise as
unidades que já estão lá. Algo grande está para acontecer. – a morena disse e
saiu com seu carro.
É! Desta vez o motoqueiro é inocente, mas deve estar bem insatisfeito de terem feito o trabalho dele.
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