quarta-feira, 18 de abril de 2012

Milícia


Rubens sentiu que o carro andava por um trecho de terra, e ele sabia que algumas cidades fora do plano piloto tinham ruas assim, mas não saberia dizer em qual estavam no momento. A limusine parou. O guarda-costas do deputado abriu a porta e saiu. Com a arma apontada, mandou Rubens sair também. O jornalista se viu em frente a um grupo de 6 rapazes armados. Capelário abriu a janela e falou com o líder deles.
– Livre-se dele para mim, sim?
– O que eu ganho com isso? – o rapaz perguntou.
– Digamos que você deixa de perder tudo o que eu lhe proporciono aqui. – o político falou e Rubens achou a frase intrigante.
A limusine partiu deixando o jornalista sozinho com grupo de moradores da cidade que ele não sabia qual era.
– Que tal isso: vocês me deixam ir e todo mundo fica feliz. – ele disse e deu uns passos para trás.
Numa velocidade impressionante, um dos rapazes avançou no paulista e o atingiu em cheio na boca do estômago, fazendo-o arquear para frente.
– Que tal isso: você fica quieto e vem com a gente. – ele disse para Rubens.
– Parece bom para mim. – o jornalista conseguiu responder.
Empurrando-o, o grupo o levou para os fundos de uma casa que, Rubens supôs pelo tamanho e pelas melhorias, ser do líder do grupo. No quintal havia um pequeno pomar e um gramado isolado próximo à parede. O tanque e os varais também ficavam ali. Rubens notou a presença de uma mulher no cômodo dos fundos que, ele imaginou ser a cozinha. Em seguida ele foi jogado contra o muro, caindo no gramado.
Os 6 homens empunharam suas armas, destravaram e as apontaram para o jornalista desarmado. Antes que o líder pudesse dar o sinal, sua mulher gritou e saiu da casa.
– Cléverson, não faça isso! – ela disse ao chegar perto do marido.


Cléverson e Júlia se amaram desde sempre, da infância ao casamento, mas o rapaz era muito ambicioso e viu no tráfico um meio rápido para conseguir o que queria. Seu sucesso só veio quando sequestrou o deputado Capelário, em sua visita à cidade. O político lhe fez uma proposta que mudou sua vida. Se o rapaz o ajudasse a vencer às eleições, ele o tornaria muito bem importante.
Sua intenção era a criação de milícias para recolher e administrar o dinheiro do povo pela benfeitoria que seria financiada por Capelário, mas sem o conhecimento daquele. O nobre deputado apareceria pouco na região e não teria muito contato com as pessoas. Seu objetivo era entrar no plenário, para ele não importava o que aconteceria com a comunidade. Ambos cumpriram suas partes e assim estava há mais de um ano.
– Já falei para não se intrometer nos meus assuntos, mulher! – o rapaz falou e empurrou Júlia.
– Ele pode ajudar. – ela disse.
– Como? – o marido quis saber.
– Eu quero pintar a sala, lembra? Você já até comprou tinta e pincel, mas sempre de chamar alguém para fazer. Esta aí, e você nem precisa pagá-lo por isso. – ela disse, deixando-o pensativo.
Ele não gostava de ser desmandado e desmoralizado pela mulher na frente do bando, mas dessa vez, Júlia tinha razão. Nesse momento, seu celular tocou. Estava na hora de receber pelos auxílios dados. Cléverson deixou um de seus homens de guarda ao redor da casa.
Dentro da moradia, Rubens pediu para ir ao banheiro e Júlia lhe indicou a direção. Ao fechar a porta, ele se certificou de que ninguém podia olhar pela janela e abriu a camisa. Lá estava, preso por fita adesiva, o fio que ligava um microfone ao um gravador. O jornalista usava isso quando fazia matérias em que as pessoas tinham dificuldades em falar sobre o assunto. E apesar de ainda precisar do resto de seu material, aquilo já faria muito estrago.
De volta à cozinha, foi-lhe oferecido café. Ele aproveitou a oportunidade para obter mais informações.
– Por que fez isso? – ele perguntou.
– Gosto de café. – ela respondeu sorridente e o fez rir.
– Por que me ajudou? – ele perguntou novamente.
– É uma longa história. – ela disse.
– Meu tipo preferido. – dessa vez foi ele quem a fez rir.

6 comentários :

  1. E tudo isso bem pertinho de mim??
    Pois é, na terra de cego quem tem um olho é rei. Esse jornalista uniu sorte com esperteza, agora é saber se vai se safar dessa.
    Beijokas doces

    ResponderExcluir
  2. Oi Ricky!
    O garoto das mil idéias é vc! Fico espantada como consegue escrever várias historias ao mesmo tempo e ainda trabalhar!
    Valeu por comentar sobre o tema! Bom, eu comecei a gostar de criar histórias e escrever por volta dos meus 13 anos. Comçeou com fanfics e dai nunca mais parei. Virou hobby, vício, um monte de coisa rs. Eu também tenho muitas idéias de estórias na cabeça mas tento me controlar e abandonar a maioria delas senão teria pilhas e pilhas de projetos inacabados!
    bjs

    ResponderExcluir
  3. Olá,parabéns pela escrita,pela imaginação ...enfim.Gostei muito do seu jeito de escrever;seu talento é facilmente notado por quem aprecia uma leitura agradável.Espero que venha ver tbm um pouco do que escrevo,abraços e te sigo!

    ResponderExcluir
  4. Um conto que bem poderia ser verdade, se na vida real os finais também acabassem em cafés e sorrisos.

    Gostei da ideia e espero que tenha continuação breve!
    =)

    ResponderExcluir
  5. Concordo com a Tsu! Como você consegue escrever diversas estórias ao mesmo tempo hein?! rs

    Tem PROMOÇÃO do livro "Beijada por um Anjo 5" lá no Sook. Depois passa por lá e confira!!!

    BjO
    http://www.the-sook.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  6. Posso falar? Tive crise de riso quando li "Cléverson". kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Putz... Mas olha, que a o diálogo
    "– Por que fez isso?
    – Gosto de café." também foi genial!

    Ah, se Tim Lopes tivesse tido a sorte de encontrar uma Júlia...

    Beijos.

    ResponderExcluir