ENCONTRO DE
GERAÇÕES
Era hora do almoço no Asilo
Ipiranga. Todos os moradores estavam na mesa esperando pelas cuidadoras que
trariam seus pratos. O ex-detetive Copi não estava tão ansioso quanto seus
colegas. Ele estava mais interessado na matéria que estava passando no jornal
da TV ligada no aposento.
“― Foi encontrado no Parque
Barigui, hoje pela manhã, um corpo ainda não identificado...” – a repórter
disse, no momento em que a cuidadora colocava o prato à frente do idoso.
― Aqui está sua comida, seu Copi.
Coma tudo, hein! – ela disse.
“― ...além de vários cortes e
hematomas, o que chamou a atenção da polícia foi a ausência de um dedo do pé da
vítima...” – a repórter continuou.
― Oh, não! – ele murmurou com
expressão de surpresa.
À tarde, o velho ex-oficial
sentou-se em uma poltrona, em uma das salas de estar do asilo, próximo a uma
janela e começou a ler um livro. Não passou muito tempo até que sua cuidadora
chegasse com uma pessoa que ele nunca havia visto. Uma bela mulher negra, com
cabelos encaracolados.
― Seu Copi, o senhor tem uma
visita. – disse a cuidadora e o idoso olhou para a recém-chegada.
― Detetive Copi, eu sou a
Detetive Raquel Marins, estou investigando o caso do corpo que foi encontrado
hoje cedo no Barigui. – a jovem oficial se apresentou, aproximando-se do homem.
― Sente-se, detetive. Temos muito
que conversar. – ele pediu e apontou o sofá ao lado esquerdo dela. – Sheila,
poderia nos trazer um pouco de chá? – ele pediu para a cuidadora.
― Sim, seu Copi. – ele disse e se
retirou.
― Eu sei por que está aqui,
detetive. Mas antes que você fale, eu gostaria de contar uma história. – o
ex-oficial disse.
― Tudo bem. – a morena assentiu.
― Tudo começou em 1962. – ele
iniciou a narrativa. – Eu encontrei um corpo nas mesmas condições do que o
encontrado por você hoje. A única diferença era o dedo do pé. O primeiro foi o
dedão do pé direito. Durante minha investigação, descobri um padrão na escolha
das vítimas. Eram todas do sexo masculino e pertencentes a um clube de futebol.
– ele fez uma pausa para pegar o chá que havia chegado. – Depois de quatro
assassinatos, fui capaz de prever onde e quando aconteceria o próximo, mas nada
ocorreu e o caso foi encerrado. Até hoje. – ele finalizou e bebeu um gole de
chá.
― Espera, o senhor está dizendo
que o próximo assassinato da sua lista era...
― O que ocorreu hoje no Parque
Barigui. – ele completou. – Mas deveria ter sido há 50 anos.
― O que houve? – ela quis saber.
― Após o encerramento do caso, o
qual eu fui muito contrário, decidi descobrir as coisas por mim mesmo. – Copi
disse e bebeu outro gole de chá. – O assassino se chamava Luiz Valdetaro e
morreu de câncer antes de conseguir cometer o quinto assassinato.
― O senhor sabe o que o motivou?
– a detetive perguntou.
― Vingança. Ele fazia parte do
clube de futebol que mencionei. Pinhão Futebol Clube. Do nada, onze amigos
criaram e fizeram o time crescer. Até chegou à primeira divisão do Paranaense.
Com os rendimentos dos seus jogos, eles puderam contratar novos e melhores
jogadores, que inicialmente ficaram no banco, mas logo foram substituindo
aqueles que não mantiveram o ritmo inicial. – o ex-detetive contou.
― Deixa eu adivinhar, Valdetaro
foi o primeiro a ser tirado do time titular. – Raquel supôs. – E então decidiu
matar todos os seus companheiros e tirar um dedo do pé como prêmio.
― Exatamente. – Copi confirmou.
― Muito obrigado pelas
informações, detetive. O senhor me ajudou muito. – ela agradeceu e se levantou.
― Detetive, se não for pedir
muito, mesmo que não precise mais de mim, poderia me atualizar sobre o avanço
do caso? – o velho pediu. – Ah, e por favor, não precisa me chamar de detetive,
apenas Copi está bom.
― Tudo bem, para as duas coisas.
E isso vale para o senhor também. Pode me chamar apenas de Raquel. – ela disse
e saiu.
No saguão de entrada, o Detetive
Perez aguardava sua parceira e, quando a viu, se levantou para recebê-la.
― Como foi? – ele perguntou.
― Muito bem. Obrigada, Jorge. –
ela disse.
― Ótimo. Agora vamos indo. Os
peritos têm novidades. – ele avisou e os dois seguiram para o carro.
Adoro essas histórias que aguçam a curiosidade por não sabermos o fim..rsrsrs. Será que o assassino é o retorno do cabra que teria sido enterrado morto por câncer?
ResponderExcluirBeijos.