SORTE
“É claro que eu não morri, e você
sabe disso, mas deve estar se perguntando por que eu comecei a história pelo
fim. Bom, às vezes não é sobre saber o que aconteceu, e sim como aconteceu.”
Após ouvir o barulho do tiro,
Rubens abriu o olho e viu a arma ainda apontada para ele. Um pouco confuso, ele
ouviu mais tiros na sequência.
― Que tiros são esses? – Carrasco
perguntou e Azeitona foi olhar pela janela.
― Droga! É a gangue do Espinha.
Vieram em peso. – o segundo no comando disse.
― O jornalista fica para depois.
Vamos cuidar do Espinha. – Carrasco decidiu e saiu do quarto para reunir o
bando.
Assim que a porta bateu, Rubens
pulou todo amarrado na cadeira em direção a ela. Ficou de costas e mirou a
maçaneta, encaixou um trecho do nó que prendia suas mãos e se impulsionou para
frente. Depois de bastante esforço, o nó se desfez e ele caiu no chão. Com as
mãos livres, foi fácil desamarrar o resto.
“Olhei pela janela e vi que o
Azeitona não estava exagerando. Havia um verdadeiro tiroteio na frente da casa,
e a casa era o alvo. Vi um moletom com capuz jogado no chão do quartinho e
descobri a única maneira de sair dali vivo.
“Com a mochila por baixo da
blusa, saí e tentei me passar por um deles. Até que deu certo. Segui para os
fundos da casa, enquanto todos iam para a frente. Por sorte, todas as luzes
estavam apagadas e consegui passar despercebido e saí por trás.
“O muro era mais alto do que eu
imaginava, mas usei umas caixas que estavam por ali e consegui pular. Caí nos
fundos de outra casa. Fiquei parado um tempo para respirar e pensar no próximo
passo, tirei o moletom e vi o meu caminho. De onde eu estava, era uma reta até
o portão da frente. Não esperei nem mais um segundo. Corri com todas as minhas
energias, avancei e pulei para a rua.”
Devido aos tiros, ninguém reparou
em um homem pulando o portão de uma casa. Com sua liberdade recuperada, Rubens
viu viaturas da polícia passando em direção à rua do tiroteio. O jornalista
avançou devagar até chegar na esquina da rua em que foi capturado. Os policiais
fizeram um bloqueio com seus carros e jogaram bombas de fumaça. Uma equipe
avançou no perímetro para render os bandidos.
No meio da confusão, um deles
conseguiu fugir da cortina de fumaça e trombou em Rubens. Apesar da escuridão,
eles se reconheceram. Azeitona carregava uma arma e, dessa vez, não hesitou em
atirar.
― Adeus, jornalista! – ele disse
e apertou o gatilho, mas ela não disparou.
― Adeus, Azeitona! – Rubens
respondeu vendo que o bandido estava tão desarmado quanto ele e decidiu pôr em
práticas as aulas de defesa pessoal que estava tendo.
Com um chute, jogou a arma do
bandido longe e então avançou. Um soco no rosto, seguido por um chute na
barriga e para finalizar, Rubens puxou a cabeça de Azeitona e lhe deu uma
joelhada que o fez desmaiar.
― Parado aí! – disse um policial,
que só os notou, quando o corpo do bandido caiu. – Rubens?
― Fábio? – o jornalista
reconheceu o oficial de farda.
― O que está fazendo aqui? –
Fábio perguntou abaixando a arma.
― Ah, você sabe, eu gosto de
cobrir as notícias antes de todos. – ele respondeu e os dois riram.
“Metade de cada gangue morreu no
tiroteio e da metade que sobreviveu, metade fugiu. Por já ser conhecido, não
fiquei muito tempo na delegacia e ainda recebi agradecimentos pelas descobertas
que fiz sobre as mortes dos policiais sem farda.
“Assim que cheguei em casa,
fiquei pensando no que havia acontecido, antes de começar a digitar. Policiais
sendo mortos fora de seu horário de trabalho e sendo entregues por seus
próprios colegas de profissão. Bandidos matando para vingar outros bandidos
mortos pela polícia. É de se questionar quem tem mais honra e companheirismo.
“Mas outras perguntas surgem a
partir daí: os policiais arriscam suas vidas para nos proteger, mas e quem vai
protegê-los? Por outro lado, se há policiais corruptos, como sabemos em quem
confiar?”
Rubens Fonseca.
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