O JORNALISTA E
O MOTOQUEIRO
A polícia de São Paulo estava enfrentando
uma situação pouco comum na sua rotina. Por semanas, várias ligações anônimas
foram feitas de um telefone público avisando o endereço dos bandidos mais
procurados. Quando os oficiais chegavam, apenas seus cadáveres se encontravam
lá. Todas as drogas estavam destruídas e o dinheiro, desaparecido.
Enquanto isso, Rubens aproveitava
seu novo relacionamento com Carla, ao mesmo tempo em que preparava uma matéria
sobre o tráfico de drogas na cidade, em especial o crack.
Era de noite quando o jornalista
estacionou o carro a duas quadras do local em que precisava ir. Através de um
de seus informantes, Rubens ficou sabendo do ponto de tráfico de crack e decidiu ir mais a fundo.
Tirou tudo o que tinha no bolso,
pôs uma camisa amassada e desarrumou o cabelo. Arrumou a câmera para tirar
fotos automaticamente. Avançou direto para o grupo parado na calçada.
― Me disseram que vocês vendem
pedra? – ele disse num tom de voz parecido com o dos usuários.
― Quem disse? – um deles
perguntou, havia seis.
― Ih, sou péssimo com nomes. Se
me disser o seu agora, vou esquecer em dois minutos. – Rubens respondeu.
― Você está com sorte. Temos
algumas sim. – outro, que parecia o líder, falou. – Tem dinheiro?
O jornalista tirou um bolo de
notas amassadas do bolso. Um deles pegou metade e entregou um saquinho com uma
pedrinha dentro.
― A primeira é mais barata, junta
mais dinheiro e depois volta aqui. – o líder disse.
Rubens se preparava para voltar
por onde veio, quando uma moto surgiu na rua. Dela, um homem com jaqueta de
couro e coturno começou a atirar nos bandidos. O jornalista nem teve tempo de
reagir, quatro deles caíram com um tiro e os outros dois fugiram.
O motoqueiro os seguiu até eles
virarem a esquina, então parou, mirou e atirou. Ia guardar a arma, mas ao ouvir
som de passos, apontou a pistola para Rubens.
― Quem é você? – ele perguntou.
― Sou conhecido como o Motoqueiro
das Trevas. – respondeu a voz de dentro do capacete.
― Meu nome é Rubens Fonseca, eu
sou um jornalista. – apresentou-se e estendeu a mão.
― Para um jornalista, você deve
ser muito corajoso ou muito estúpido. – o motoqueiro colocou a arma em um
compartimento do veículo. – Seja qual for, é como se estivesse pedindo para
morrer. Não deveria se meter com gente tão barra pesada. – disse e acelerou o
motor.
― Se surpreenderia com a
frequência com que faço isso. – Rubens disse e riu. – O que fez aqui...
― Foi necessário. Faço apenas o
que a polícia não tem coragem. Siga meu conselho. Posso não estar lá da próxima
vez. – disse e fez a moto rodar.
O jornalista voltou vibrante para
o carro, sem saber que um dos alvos do motoqueiro ainda vivia.
No dia seguinte, Rubens
incrementou sua matéria com a aparição do Motoqueiro das Trevas e ainda
pesquisou sobre esse justiceiro das ruas.
― Ian Rampinelli, o Motoqueiro
das Trevas, então é você. – disse depois de ler a biografia que fora publicada
por um jornal de Curitiba.
― E aí, bonitão? Está pronto? –
Carla o chamou para saírem após o expediente.
― Para você, eu estou sempre. –
ele disse com galanteio e levantou.
Sem perceber, quando saíram do
prédio, estavam sendo observados.
― Chefe, encontrei o jornalista.
Ele trabalha no Terra da Garoa. – disse o sobrevivente do ataque do motoqueiro
ao telefone.
― Bom trabalho, sei muito bem
quem é. – Azeitona disse e desligou. – Parece que finalmente teremos nosso
reencontro, jornalista. – ele disse e cuspiu um caroço do seu aperitivo
preferido.
Nenhum comentário :
Postar um comentário