terça-feira, 2 de julho de 2013

Tudo Por Uma Notícia T02C10

O JORNALISTA E O MOTOQUEIRO

A polícia de São Paulo estava enfrentando uma situação pouco comum na sua rotina. Por semanas, várias ligações anônimas foram feitas de um telefone público avisando o endereço dos bandidos mais procurados. Quando os oficiais chegavam, apenas seus cadáveres se encontravam lá. Todas as drogas estavam destruídas e o dinheiro, desaparecido.
Enquanto isso, Rubens aproveitava seu novo relacionamento com Carla, ao mesmo tempo em que preparava uma matéria sobre o tráfico de drogas na cidade, em especial o crack.
Era de noite quando o jornalista estacionou o carro a duas quadras do local em que precisava ir. Através de um de seus informantes, Rubens ficou sabendo do ponto de tráfico de crack e decidiu ir mais a fundo.
Tirou tudo o que tinha no bolso, pôs uma camisa amassada e desarrumou o cabelo. Arrumou a câmera para tirar fotos automaticamente. Avançou direto para o grupo parado na calçada.
― Me disseram que vocês vendem pedra? – ele disse num tom de voz parecido com o dos usuários.
― Quem disse? – um deles perguntou, havia seis.
― Ih, sou péssimo com nomes. Se me disser o seu agora, vou esquecer em dois minutos. – Rubens respondeu.
― Você está com sorte. Temos algumas sim. – outro, que parecia o líder, falou. – Tem dinheiro?
O jornalista tirou um bolo de notas amassadas do bolso. Um deles pegou metade e entregou um saquinho com uma pedrinha dentro.
― A primeira é mais barata, junta mais dinheiro e depois volta aqui. – o líder disse.
Rubens se preparava para voltar por onde veio, quando uma moto surgiu na rua. Dela, um homem com jaqueta de couro e coturno começou a atirar nos bandidos. O jornalista nem teve tempo de reagir, quatro deles caíram com um tiro e os outros dois fugiram.
O motoqueiro os seguiu até eles virarem a esquina, então parou, mirou e atirou. Ia guardar a arma, mas ao ouvir som de passos, apontou a pistola para Rubens.


― Quem é você? – ele perguntou.
― Sou conhecido como o Motoqueiro das Trevas. – respondeu a voz de dentro do capacete.
― Meu nome é Rubens Fonseca, eu sou um jornalista. – apresentou-se e estendeu a mão.
― Para um jornalista, você deve ser muito corajoso ou muito estúpido. – o motoqueiro colocou a arma em um compartimento do veículo. – Seja qual for, é como se estivesse pedindo para morrer. Não deveria se meter com gente tão barra pesada. – disse e acelerou o motor.
― Se surpreenderia com a frequência com que faço isso. – Rubens disse e riu. – O que fez aqui...
― Foi necessário. Faço apenas o que a polícia não tem coragem. Siga meu conselho. Posso não estar lá da próxima vez. – disse e fez a moto rodar.
O jornalista voltou vibrante para o carro, sem saber que um dos alvos do motoqueiro ainda vivia.
No dia seguinte, Rubens incrementou sua matéria com a aparição do Motoqueiro das Trevas e ainda pesquisou sobre esse justiceiro das ruas.
― Ian Rampinelli, o Motoqueiro das Trevas, então é você. – disse depois de ler a biografia que fora publicada por um jornal de Curitiba.
― E aí, bonitão? Está pronto? – Carla o chamou para saírem após o expediente.
― Para você, eu estou sempre. – ele disse com galanteio e levantou.
Sem perceber, quando saíram do prédio, estavam sendo observados.
― Chefe, encontrei o jornalista. Ele trabalha no Terra da Garoa. – disse o sobrevivente do ataque do motoqueiro ao telefone.
― Bom trabalho, sei muito bem quem é. – Azeitona disse e desligou. – Parece que finalmente teremos nosso reencontro, jornalista. – ele disse e cuspiu um caroço do seu aperitivo preferido.

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