terça-feira, 9 de julho de 2013

Tudo Por Uma Notícia T02C11

SEQUESTRADO

― Onde vamos almoçar hoje? – Rubens perguntou para Carla.
― Ah, hoje não vai dar, gato. Tenho um evento para cobrir agora. – ela disse com uma careta. – Mas jantamos juntos. Prometo.
― Tudo bem, vai lá. – ele disse com um sorriso apoiador.
Sem companhia, Rubens desceu do prédio do jornal e foi procurar um lugar para comer. Passou por algumas lanchonetes, mas nenhuma lhe agradou. Quando achou o lugar que queria, foi abordado por um homem que encostou uma arma em sua cintura.
― Faça o que eu disser e nada vai te acontecer. – o homem disse e Rubens notou que ele o estava empurrando para um carro preto estacionado próximo a eles.
Sem pensar duas vezes, o jornalista girou rapidamente e deu um soco no nariz do homem atrás de si, fazendo jorrar sangue. Entretanto, nesse meio tempo, uma pessoa saiu do veículo que os esperava e acertou o alvo na cabeça. Rubens acordou com o carro ainda em movimento. Olhou para o lado e viu o homem cujo nariz havia quebrado.
― É melhor não tentar nada, pois dessa vez não serei tão bonzinho. – ele disse quando seus olhares se encontraram.
― Se fosse atirar em mim, teria feito aquela hora. Seja qual for o motivo disso tudo, eu preciso estar vivo. – o jornalista disse.
― Relaxa, Pudo. – disse o homem sentado no banco do carona. – Ele não vai fazer mais nada. Uma vez que entrou no carro, sabe que não tem como fugir. Reconhece o lugar para onde estamos indo, jornalista?
― Brasilândia. – Rubens respondeu percebendo que iam para o bairro com uma das maiores cracolândias da cidade.
A casa era de concreto, grande e localizada no meio do terreno. Era um sobrado. O carro ficou bem na frente do portão. O que estava dirigindo, abriu a porta do lado de Rubens e o puxou para fora. Aos empurrões, ele foi levado até a sala da construção.
― Ora, ora, nos encontramos de novo. – falou um homem que vinha descendo as escadas.
― Azeitona! – Rubens surpreendeu-se. – Você estava preso.
― Oh, ele lembra meu nome, que tocante. – o bandido disse e deu um soco no rosto do jornalista. – Disse bem, estava preso, não estou mais. Você não imagina os contatos que tenho. – ele disse e ergueu uma arma apontando-a para Rubens. – Dê-me um bom motivo para não te matar.
― Não tenho. Vá em frente, atira. – o jornalista disse enquanto limpava o sangue que escorria da boca e do nariz.
― Admiro sua coragem, jornalista. Muitos dos meus homens não a têm. – o traficante disse e baixou a arma. – Além disso, que graça teria apenas te matar? A morte é insignificante, quando alguém morre, não dá para saber se está sofrendo ou não. Eu prefiro assistir a pessoa sofrer em vida. – Azeitona disse e sorriu.


Nesse momento, uma grande explosão atingiu o carro dos bandidos e o impacto fez com que todos que estavam na sala caíssem. Devido a curta distância, Rubens ficou meio surdo. Abriu os olhos, levantou com esforço e tentou se equilibrar. Os quatro traficantes que também caíram, ainda estavam muito desorientados.
O jornalista ia sair pela porta da frente, quando viu um motoqueiro com um lança-mísseis mirando na casa em que estava. Deu meia volta e correu o máximo que pôde. Para sua sorte, o muro era baixo e ele pulou segundos antes de a explosão, que destruiu o sobrado, acontecer.
Suando, sangrando e com os cabelos caídos na testa, Rubens tentava recuperar o fôlego na outra rua. Então, uma moto parou em sua frente, com um homem usando uma jaqueta de couro. Quando o jornalista ergueu a cabeça, o motoqueiro lhe jogou um capacete.
― Sobe aí! – o homem de preto disse.
― Primeiro você tenta me matar e agora me oferece carona. Meio contraditório, não acha? – Rubens disse sem se mexer.
― Guarda o pití para depois, não vai demorar para a polícia chegar. E eu não estou a fim de ser perseguido hoje. – falou o motoqueiro.
O certo seria ficar e contar à polícia o que houve, escrever a matéria e ganhar o status de sobrevivente do Motoqueiro das Trevas, mas aquele ser lhe intrigava muito. Rubens queria saber mais sobre ele, por isso colocou o capacete e subiu na moto. Sem a polícia em seu encalço, Ian foi numa velocidade estável, mas sempre que podia, furava os sinais vermelhos. Ficar parado não era uma boa ideia. Enfim chegaram ao esconderijo do motoqueiro, um velho barracão abandonado em uma vizinhança pouco povoada.
― Então é aqui que você mora? – Rubens perguntou assim que entraram.
― É um dos meus locais seguros. Toma! – ele disse e jogou uma garrafa de água gelada. – Você deve estar precisando.
― Obrigado. – o jornalista agradeceu e bebeu um gole. – Então, vai me dizer por que me trouxe aqui?
― Quando você veio falar comigo depois que eu atirei naqueles traficantes de crack, tive que escolher entre duas opções. Nos poucos segundos que tive, reparei que um dos bandidos estava vivo. Eu ia atirar nele, mas quando você disse seu nome, rapidamente associei a uma matéria sua que havia lido semanas atrás. – Ian contou. – Tive que decidir entre matar o homem ou deixá-lo viver para contar ao Azeitona sobre você. Isso me levaria à localização exata do covil deles e eu economizaria muito tempo. – ele terminou.
― Então você só me usou. – Rubens se espantou. – Era parte do plano me matar também? – quis saber.
― Te dei alguns segundos antes de lançar o segundo míssil. – Ian disse.
― E agora o que? – o jornalista perguntou.

― Agora é você quem tem que decidir: vai embora e escreve uma matéria sobre isso, aproveita e revela esse meu local seguro para a polícia, ou fica e me ajuda a destruir a maior gangue de tráfico de crack da cidade. – o motoqueiro falou e Rubens apenas sorriu.

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