SEQUESTRADO
― Onde
vamos almoçar hoje? – Rubens perguntou para Carla.
― Ah, hoje
não vai dar, gato. Tenho um evento para cobrir agora. – ela disse com uma
careta. – Mas jantamos juntos. Prometo.
― Tudo
bem, vai lá. – ele disse com um sorriso apoiador.
Sem
companhia, Rubens desceu do prédio do jornal e foi procurar um lugar para
comer. Passou por algumas lanchonetes, mas nenhuma lhe agradou. Quando achou o
lugar que queria, foi abordado por um homem que encostou uma arma em sua
cintura.
― Faça o
que eu disser e nada vai te acontecer. – o homem disse e Rubens notou que ele o
estava empurrando para um carro preto estacionado próximo a eles.
Sem pensar
duas vezes, o jornalista girou rapidamente e deu um soco no nariz do homem
atrás de si, fazendo jorrar sangue. Entretanto, nesse meio tempo, uma pessoa
saiu do veículo que os esperava e acertou o alvo na cabeça. Rubens acordou com
o carro ainda em movimento. Olhou para o lado e viu o homem cujo nariz havia
quebrado.
― É melhor
não tentar nada, pois dessa vez não serei tão bonzinho. – ele disse quando seus
olhares se encontraram.
― Se fosse
atirar em mim, teria feito aquela hora. Seja qual for o motivo disso tudo, eu
preciso estar vivo. – o jornalista disse.
― Relaxa,
Pudo. – disse o homem sentado no banco do carona. – Ele não vai fazer mais
nada. Uma vez que entrou no carro, sabe que não tem como fugir. Reconhece o
lugar para onde estamos indo, jornalista?
― Brasilândia.
– Rubens respondeu percebendo que iam para o bairro com uma das maiores
cracolândias da cidade.
A casa era de concreto, grande e
localizada no meio do terreno. Era um sobrado. O carro ficou bem na frente do
portão. O que estava dirigindo, abriu a porta do lado de Rubens e o puxou para
fora. Aos empurrões, ele foi levado até a sala da construção.
― Ora, ora, nos encontramos de novo. –
falou um homem que vinha descendo as escadas.
― Azeitona! – Rubens surpreendeu-se. –
Você estava preso.
― Oh, ele lembra meu nome, que
tocante. – o bandido disse e deu um soco no rosto do jornalista. – Disse bem,
estava preso, não estou mais. Você não imagina os contatos que tenho. – ele
disse e ergueu uma arma apontando-a para Rubens. – Dê-me um bom motivo para não
te matar.
― Não tenho. Vá em frente, atira. – o
jornalista disse enquanto limpava o sangue que escorria da boca e do nariz.
― Admiro sua coragem, jornalista.
Muitos dos meus homens não a têm. – o traficante disse e baixou a arma. – Além
disso, que graça teria apenas te matar? A morte é insignificante, quando alguém
morre, não dá para saber se está sofrendo ou não. Eu prefiro assistir a pessoa
sofrer em vida. – Azeitona disse e sorriu.
Nesse momento, uma grande explosão
atingiu o carro dos bandidos e o impacto fez com que todos que estavam na sala
caíssem. Devido a curta distância, Rubens ficou meio surdo. Abriu os olhos,
levantou com esforço e tentou se equilibrar. Os quatro traficantes que também
caíram, ainda estavam muito desorientados.
O jornalista ia sair pela porta da
frente, quando viu um motoqueiro com um lança-mísseis mirando na casa em que
estava. Deu meia volta e correu o máximo que pôde. Para sua sorte, o muro era
baixo e ele pulou segundos antes de a explosão, que destruiu o sobrado,
acontecer.
Suando, sangrando e com os cabelos
caídos na testa, Rubens tentava recuperar o fôlego na outra rua. Então, uma
moto parou em sua frente, com um homem usando uma jaqueta de couro. Quando o
jornalista ergueu a cabeça, o motoqueiro lhe jogou um capacete.
― Sobe aí! – o homem de preto disse.
― Primeiro você tenta me matar e agora
me oferece carona. Meio contraditório, não acha? – Rubens disse sem se mexer.
― Guarda o pití para depois, não vai
demorar para a polícia chegar. E eu não estou a fim de ser perseguido hoje. –
falou o motoqueiro.
O certo seria ficar e contar à polícia
o que houve, escrever a matéria e ganhar o status de sobrevivente do Motoqueiro
das Trevas, mas aquele ser lhe intrigava muito. Rubens queria saber mais sobre
ele, por isso colocou o capacete e subiu na moto. Sem a polícia em seu encalço,
Ian foi numa velocidade estável, mas sempre que podia, furava os sinais
vermelhos. Ficar parado não era uma boa ideia. Enfim chegaram ao esconderijo do
motoqueiro, um velho barracão abandonado em uma vizinhança pouco povoada.
― Então é aqui que você mora? – Rubens
perguntou assim que entraram.
― É um dos meus locais seguros. Toma!
– ele disse e jogou uma garrafa de água gelada. – Você deve estar precisando.
― Obrigado. – o jornalista agradeceu e
bebeu um gole. – Então, vai me dizer por que me trouxe aqui?
― Quando você veio falar comigo depois
que eu atirei naqueles traficantes de crack,
tive que escolher entre duas opções. Nos poucos segundos que tive, reparei que
um dos bandidos estava vivo. Eu ia atirar nele, mas quando você disse seu nome,
rapidamente associei a uma matéria sua que havia lido semanas atrás. – Ian
contou. – Tive que decidir entre matar o homem ou deixá-lo viver para contar ao
Azeitona sobre você. Isso me levaria à localização exata do covil deles e eu
economizaria muito tempo. – ele terminou.
― Então você só me usou. – Rubens se
espantou. – Era parte do plano me matar também? – quis saber.
― Te dei alguns segundos antes de
lançar o segundo míssil. – Ian disse.
― E agora o que? – o jornalista
perguntou.
― Agora é você quem tem que decidir:
vai embora e escreve uma matéria sobre isso, aproveita e revela esse meu local
seguro para a polícia, ou fica e me ajuda a destruir a maior gangue de tráfico
de crack da cidade. – o motoqueiro
falou e Rubens apenas sorriu.
Show de bola!
ResponderExcluirTodos os detalhes.