RUMO À
CURITIBA
“Quando os policiais chegaram só
encontraram cadáveres espalhados e drogas queimadas. É claro que eu e o Ian já
não estávamos mais lá nesse momento. Não voltamos pelo mesmo caminho, aliás,
nem sei por onde voltamos, e olha que eu moro aqui hein. De qualquer maneira,
chegamos no local seguro do motoqueiro, de onde saímos horas antes.”
― E estamos aqui de novo. –
Rubens comentou ao sair da moto, tirar o capacete e colocá-lo em um sofá.
― Obrigado pela ajuda. – Ian
disse e fez o mesmo, tirou um bolo de dinheiro do bolso e colocou sobre a mesa
entre eles. – Isso deve ser suficiente.
― Eu não quero esse dinheiro. É
sujo, de traficante. – Rubens disse com uma careta.
― Pelo visto não. – Ian murmurou
e pegou o bolo de volta. – Melhor para mim, sobra mais.
― Então, qual é o próximo passo
do Motoqueiro das Trevas? – Rubens perguntou e pegou seu gravador. – Digo, para
onde vai? O que vai fazer?
― Está querendo me entrevistar,
jornalista? – Ian indagou.
― Só estou fazendo o meu
trabalho.
― Pois muito bem. Então
prepare-se. – o Motoqueiro falou. – Meu objetivo principal era Brasília, mas
quando passei por aqui, acabei me envolvendo em uns problemas e quando vi, já
estava instalado. Já estraguei os planos de muitos traficantes daqui, acho que
está na hora de continuar minha rota. – Ian contou e Rubens desligou o
gravador.
― O que pretendia fazer em
Brasília, Ian? – o jornalista perguntou.
― Matar todos os políticos, ora.
– o homem da jaqueta de couro disse e deixou Rubens sem palavras.
― Você pirou?
― Por quê? É lá que está todo o
mal desse país. Cansei de matar peixe pequeno. – Ian disse.
― Eu sei, mas é muito arriscado.
Você é procurado no país inteiro. E de moto, até chegar na capital, cada lugar
será um perigo a mais para você. Acha que vale a pena desperdiçar tudo pelo que
lutou? – Rubens argumentou.
― E o que você sugere que eu
faça? Continue matando os criminosos de São Paulo? Enquanto eu mato um, outro
surge para ficar em seu lugar. – Ian disse.
― Volte para Curitiba! Imagino
que você deva conhecer bem melhor lá. – Rubens supôs.
― Cada beco. – Ian confirmou.
― Então! Vá para lá. Antes de
limpar o país, por que não limpa a sua cidade? Ouvi dizer que está rolando umas
coisas bem loucas por lá. Como um assassino em série que arranca um dedo do pé
de cada vítima. – o jornalista sugeriu.
― Você tem um bom argumento. –
Ian admitiu.
― E se bobear, ainda nos encontramos
por lá. Meu chefe me mandou ir para lá entrevistar um adolescente que impediu
que o colégio dele fosse explodido por um empresário. – o jornalista explicou.
― Pensarei no assunto. Obrigado
pelo conselho. – Ian agradeceu e estendeu a mão.
“Apertamos as mãos e então eu
voltei para casa. Não foi fácil escrever essa matéria, pois gosto de dar minha
opinião. É certo punir os criminosos com morte sem um julgamento? Talvez não,
mas de que adianta julgar e prender se depois que são soltos, eles fazem a mesma
coisa?
“Talvez a morte, que muitos acham
horrível, seja a melhor maneira de prevenir ações violentas e proteger os
inocentes. E se o Motoqueiro das Trevas tomou a iniciativa de fazer isso, quem
sou para condená-lo? Atrevo-me a dizer que me sinto mais seguro sabendo que os
bandidos estão sendo mortos, pois assim não terão outra chance de fazer o mal”.
Rubens Fonseca.
― Nem por cima do meu cadáver,
essa matéria será publicada! – o editor-chefe do jornal Terra da Garoa
vociferou.
― Qual é, Beneton! – Rubens
reclamou. – Você nunca negou uma matéria minha antes.
― Você está dando apoio para as
ações desse assassino! – o mais velho disse e se aproximou do jornalista
investigativo. – Os donos do jornal andaram reclamando de algumas de suas
reportagens. E a censura também está no meu pé. Não posso e não vou arriscar a
integridade do jornal por causa de uma matéria. – Beneton disse e voltou para
sua mesa.
― Tudo bem. Eu só quase morri
três vezes hoje. – Rubens disse.
― E é por isso que agora você vai
para Curitiba agora, vai entrevistar o garoto do colégio Isaac Newton e vai
voltar para cá. E, por favor, pelo amor de Deus, por tudo que é mais sagrado,
não se meta em confusão! – o editor exclamou no momento em que Carla aparecia à
porta da sala.
― O Rubens não se meter em
confusão? Isso é impossível, chefe. – ela disse e sorriu para o namorado,
enquanto Beneton afundava o rosto nas mãos. – Já está indo então? – ela
perguntou.
― Sim. Quando chegar lá, te
aviso. – o jornalista disse e beijou-a. – Até mais, Beneton. – ele disse e foi
rumo à saída, passando pelas mesas de seus colegas. – Até mais, Terra da Garoa!
Curitiba me espera!
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