sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Ki Bun Tin e a dor

Nos seis meses que estou no curso de Direito, tentei ter amizade com todos da turma. É claro que alguns são mais chegados que outros, como o Ki Cre Do. Ainda assim, um dos alunos era mais distante dos outros e não tinha muitos amigos e de vez em quando tinha uns tiques nervosos com o pescoço. Quase todos da sala tiravam sarro dele, mas ele não respondia, não dava trela. Logo, caiu no esquecimento e a graça das piadas acabou. Porém, ele sempre me intrigou e, antes que o semestre acabasse, eu fui falar com ele.

Descobri que é impossível conhecer uma pessoa apenas a olhando. Isso parece óbvio, mas algumas pessoas são visualmente previsíveis. O nome do rapaz era Ki Dor. Ele me disse que tinha uma dor muscular já a alguns anos, uma dor constante que não importa o que ele fizesse, não aliviava de jeito nenhum. Eu perguntei como funcionava exatamente e se realmente não tinha nada que aliviasse. Ele respondeu que a dor começava no pescoço e irradiava para os braços, mas apenas um por vez, por isso quando um doía ele forçava o outro para a dor trocar de lugar. E que, pra ele, o pior era que a dor não era visual e ninguém sabia o que ele sentia e por esse motivo era muito fácil discriminá-lo e achar que era frescura. Suas exatas palavras: "Ninguém sabe e nem nunca vai saber o que e como eu me sinto. E é melhor assim, não desejo essa dor para a pior pessoa do mundo."


Eu fiquei pasmo com aquilo, não dava para acreditar que existia um tipo de dor constante daquela maneira. Quando cheguei em casa, decidi pesquisar os sintomas do Ki Dor. Considerando as opções que me foram dadas, apenas uma conclusão eu pude chegar: meu colega tinha hérnia de disco cervical e uma doença chamada cervicobraquialgia. Ele também me disse que sempre que ele relaxa e faz algo que gosta, é como se ele não sentisse a dor. Desde então, eu passei a convidá-lo para sair comigo e os rapazes. No começo, Ki Cre Do e Ki Dah Ora foram meio fechados, mas logo a zoação começou e o nosso pequeno grupo cresceu.

6 comentários :

  1. Oi Ricky,

    Penso que sempre é o juízo de valor antecipado que nos leva as ações que são tipicamente incorretas. Enfim, é preciso olhar sempre pensando: está tudo bem?

    Beijos.

    Lu

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  2. Pelo olhar você cria o preconceito, no sentido de pré-conceito. A verdade é descoberta quando há uma pesquisa mais aprofundada. Típicas vidas são assim, tenho dó pelo que eles passam, mas são mais fortes que nós.
    Abraços
    perplife.blogspot.com

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  3. Ricky!
    Muuuito bom!
    Gostei mesmo! Você deixou descontraído um assuntinho chato, que é o (pre)conceito que a gente pode ter em cima de alguém que nem conhecemos, mas concordo totalmente contigo que existem pessoas que não nos surpreendem, que são exatamente aquilo que pensamos num primeiro momento que seriam.
    Beijosss

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  4. Ricky, que bacana seu texto... vc abordou de uma forma leve algo que acontece mais do que imaginamos, né!? O tal do [pre]conceito é terrível. Mas, todos temos em certo momento... como já falei em outra postagem, o que não podemos é deixar que esse conceito prévio seja permanente e de alguma forma, devemos fugir dele. Gostei!

    bjks

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